Continuação do comentário ao Evangelho V Domingo da Quaresma Ano C 2013 Jo 8, 1-11
O episódio da mulher adúltera
1Dirigiu-se Jesus para o Monte
das Oliveiras.

2 Ao romper da
manhã, voltou ao Templo e todo o povo veio a Ele. Assentou-Se e começou a
ensinar
Ninguém jamais poderá imaginar a irresistível força de
atração exercida por Jesus em relação a quem viesse a conhecê-Lo. Disso dão uma ideia os Evangelhos, que constituem meras sínteses de maravilhas
indescritíveis. Tal é seu empenho em fazer o bem que, logo ao raiar do dia, Ele
vai ao Templo, certamente já seguido por outros pelo caminho. À sua entrada
todos se juntam a seu redor para ouvi-Lo. Era o início de mais uma longa
jornada de pregação conversada, na qual poderiam tomar parte ativa, com
perguntas ou comentários, quaisquer dos presentes, numa atmosfera inteiramente
amena e familiar. Por isso, Ele Se sentou e começou a ensinar. De repente, aquele
sagrado convívio foi interrompido por um fato inusitado.
A adúltera é apresentada a Jesus
3 Os escribas e os
fariseus trouxeram-Lhe uma mulher que fora apanhada em adultério. 4 Puseram-na
no meio da multidão…
A adúltera foi colocada no centro da multidão, para ser
julgada, como fautora de um crime e, dessa forma, ipso facto, constituíram a Jesus como juiz.
Esse fato, inevitavelmente, levanta uma importante questão:
o que teria acontecido com o homem implicado na mesma falta? Qual a razão de
ele não ter sido apresentado a Jesus, nessa ocasião? Ora, o texto da Escritura
é peremptório sobre a obrigatoriedade da punição de ambos: “Se um homem cometer
adultério com uma mulher casada, com a mulher de seu próximo, o homem e a
mulher adúltera serão punidos de morte” (Lv 20, 10); ou ainda: “Se se encontrar
um homem dormindo com uma mulher casada, ambos deverão morrer: o homem que
dormiu com a mulher, e esta da mesma forma. Assim, tirarás o mal do meio de ti”
(Dt 22, 22).
Várias hipóteses levantam os autores a esse respeito; não
encontramos, porém, nenhuma que leve até ao extremo a desconfiança em relação à
perfídia daqueles escribas e fariseus. Permitido nos seja, conhecendo a
consumada maldade que lhes era característica, levantar uma suspeita sobre a
“fuga” do infrator adúltero: não seria ele cúmplice de seus mandantes para,
assim, conseguirem um flagrante? Neste caso, provavelmente, a adúltera teria
sido induzida ao crime, deixando-se levar mais por ingenuidade e pela
inclinação de suas paixões, do que por dolo.
Cabe aqui a pergunta clássica: “A quem aproveitou o crime?”
Já na época de Daniel, os acusadores não haviam conseguido agarrar o suposto
parceiro de Suzana no adultério caluniosamente inventado pelos dois juízes
anciãos. E no caso do Evangelho de hoje, quem era o criminoso? A mulher teria
se negado a declará-lo? Espanta-nos a facilidade com que os escribas e fariseus
encontraram uma adúltera, para ser introduzida no Templo, bem àquela hora e em
tal circunstância, tão favoráveis para armar uma cena show que envolvesse a
Jesus.
Acrescente-se este outro dado: duas criaturas humanas,
adultas, que fossem perpetrar um crime punido com pena de morte imediata, por
mais primitivas que fossem, procurariam se proteger de qualquer risco de um
flagrante. Ora, o caso em questão realizou-se em condições tais que
dificilmente deixaria de ter sido planejado por terceiros, interessados em sua
consecução.
Continua nos próximos posts.
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