-->

segunda-feira, 11 de março de 2013

Evangelho V Domingo da Quaresma - Ano C 2013 - Jo 8, 1-11


Continuação dos comentários ao Evangelho V Domingo da Quaresma - Ano C 2013 - Jo 8, 1-11



Os fariseus invocam uma lei em desuso

…multidão e disseram a Jesus: “Mestre, agora mesmo esta mulher foi apanhada em adultério. 5 Moisés mandou-nos na Lei que apedrejássemos tais mulheres. Que dizes Tu a isso?” 6 Perguntavam-Lhe isso, a fim de pô-Lo à prova e poderem acusá-Lo. Jesus, porém, Se inclinou para a frente e escrevia com o dedo na terra.

A expressão “apanhada em adultério” confere ainda mais substância à hipótese de um crime planejado por várias pessoas, com um intuito que se tornará explícito na revelação contida no versículo seguinte. Ademais, a afirmação fortemente categórica da parte deles evitava que fossem argüidos por Jesus a respeito das provas, pois nem a própria mulher procurava defender-se. Talvez, pela delicadeza de sua alma feminina, não insinuava sequer quem fosse seu cúmplice naquele crime.

Flávio Josefo, famoso historiador judeu daqueles tempos — portanto, de certo modo, insuspeito —, contanos que havia caído em desuso a lei que punia com pena de morte os réus condenados por esse tipo de crime.

Rigorismo em meio ao relaxamento geral dos costumes

Sob o reinado dos Herodes, a corrupção dos costumes em Jerusalém havia chegado ao extremo. Quiçá fosse essa uma circunstância que propiciasse aos fariseus e escribas criarem, junto a Jesus, o impasse de como proceder naquele caso de adultério. Seja como for, “sob as aparências de zelo pela Lei, aqueles homens hipócritas e rancorosos armavam para Jesus uma armadilha maldisfarçada. Estavam certos de que Aquele a quem chamavam ironicamente pelo epíteto de ‘amigo de pecadores e publicanos’ Se mostraria indulgente com a culpada; e então eles O acusariam de violar a Lei divina num ponto fundamental” (4).

Na mesma linha, comenta o Pe. Andrés Fernandez Truyols, SJ: “ pergunta, aparentemente respeitosa e até honorífica para Jesus, era na realidade insidiosa. Se Ele Se pronunciasse pelo castigo, tacha-Lo-iam de duro; se absolvesse, seria acusado de violar a Lei” (5). Por outro lado, vale a pena observar o contraste entre os fiéis, que ouvem enlevados as palavras do Salvador, e a sanha dos doutores da Lei e dos fariseus em condenar Jesus. “Enquanto os pacíficos e simples admiravam as palavras do Salvador, os escribas e fariseus Lhe faziam perguntas, não para aprender, mas para armar armadilhas à verdade” (6).

Querem tornar Jesus réu de sua própria sentença

Tornou-se famoso o dilema criado pelos fariseus a propósito do pagamento do imposto, se a César ou ao Templo. O “dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Mt 22, 21) marcou a História. Entretanto, o caso trazido a lume pela Liturgia de hoje foi montado com muitíssimo mais habilidade. Decidindo por uma ou outra solução, Jesus, ou se levantaria contra o poderio romano, ou se declararia discordante de Moisés e, portanto, do Sinédrio. Se sua sentença fosse no sentido de que lapidassem a mulher, na certa seus inimigos procurariam entregá-Lo a Pilatos por ter violado a lei imposta por Roma às províncias conquistadas e suas sufragâneas: o direito de vida e de morte lhe pertencia com exclusividade. Sem contar que teriam elementos para sublevar o povo contra sua radicalidade e intransigência.

Jesus contra Moisés...

Se Jesus a absolvesse, agitariam os fiéis pelo fato de Ele Se opor à Lei de Moisés e O arrastariam ao Sinédrio para ser excomungado e entregue à autoridade romana. Provavelmente, “queriam colocar Cristo em oposição à Lei de Moisés, dando a entender que O consideravam um outro Moisés, o qual trazia uma lei mais perfeita que a do primeiro. Tudo era feito para incentivá-Lo e provocá-Lo, de modo que Ele tomasse partido contra a Lei de Moisés, dando-lhes ocasião de acusá-Lo. Que dizes Tu a isso? Contrapondo-O a Moisés, como se O elevassem acima de Moisés. Tu, que és maior que Moisés, a quem não se aplicam suas leis, porque promulgas outra melhor e mais perfeita, o que dizes? Aprovas ou reprovas a sentença da lei mosaica? Por todos os meios, procuram colocá-Lo na tentação de dizer algo contra Moisés, em face de todo aquele público, já que O reconhecem como superior ao grande legislador” (7).

Jesus responde por escrito

Chama especialmente a atenção a inédita atitude do Divino Mestre, de inclinar-Se, permanecendo sentado, e pôr-Se a escrever “com o dedo na terra”. Jesus Se encontrava perto do pátio das mulheres, na galeria do Tesouro, e não sabemos de que maneira era constituído o piso desse local. Seja como for, provavelmente a escrita seria de molde a poder ser lida por outrem. Consideremos o fato de escribas e fariseus terem se postado perto de Nosso Senhor e, ainda mais, por se encontrarem de pé, não lhes era difícil ler os caracteres desenhados por Ele. Jesus escrevendo: é a única ocasião em que isso acontece em toda a narração dos Evangelhos. Como imaginar a forma das letras e a sequência das palavras? Evidentemente, só poderiam ser as mais belas entre todas as possíveis. Algo legível deveria restar no chão, talvez impresso sobre a própria poeira do caminho. O que teria escrito Ele naquele momento? Mais adiante trataremos desse pormenor.

Continua nos próximos posts.

Nenhum comentário: