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sábado, 2 de março de 2013

EVANGELHO DO 4º DOMINGO DA QUARESMA ANO C 2013 - Lc 15,1-3;11-32


CONTINUAÇÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO DO IV DOMINGO DA QUARESMA  ANO C  2013  - Lc 15,1-3;11-32

A PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO

A pérola de todas as parábolas

De maneira singela, mas com beleza literária insuperável, a Parábola em questão nos coloca diante do entrechoque das várias justiças acima comentadas. Sua concisão e extraordinária riqueza de colorido, abordando matéria tão viva e retratando através de fluida analogia muitos atos de nossa existência, tornam facilmente perceptível o fundo da lição proferida pelo Divino Mestre. Vamos, porém, empenhar-nos em ressaltar aspectos pouco comentados da mesma: os extremos opostos dos dois juízos — o do pai e o do filho maior.

Temos diante dos olhos uma das mais eloquentes páginas do Evangelho, considerada como a pérola de todas as parábolas. Ela é, de si, um pequeno evangelho.

Sem dúvida alguma, o cerne da Parábola consiste em colocar ao alcance de qualquer inteligência, até das menos favorecidas, a pulcritude da bondade de Deus em perdoar ao pecador arrependido com exuberante e alegre solicitude. O pai, neste contexto, representa Deus.

Soberba dos fariseus

A narração evangélica se inicia com um juízo orgulhoso da parte dos fariseus e escribas, murmurando contra Nosso Senhor. Não lhes seria difícil reconhecer naquele Homem, todo feito caridade para com qualquer necessitado, a figura do verdadeiro Messias, ou, pelo menos, a de um grande profeta ansioso por tornar felizes os sofredores. Ora, por que criticá-Lo sem Lhe reconhecer uma só qualidade? É novamente a paixão satânica da soberba a entrar em cena. Por que Lhe atribuem o título de pecador, quando em realidade mais deveriam exaltar seu grande poder de curar, perdoar e converter? Essa é a malícia e o ódio, diluídos ou concentrados, que pervadem as relações humanas nas sociedades de todos os tempos, quando impera o orgulho.

Conforme o costume da época, Jesus lhes propõe três parábolas, a fim de esclarecer a razão de sua misericórdia para com os pecadores arrependidos. O enredo de cada uma é belo, lógico e convincente. Uma só delas seria suficiente para resolver qualquer dúvida ou desfazer a mais grave das suspeitas oriundas de coração bem-intencionado. A Liturgia de hoje não aborda a da ovelha desgarrada nem a da dracma perdida, mas a do filho pródigo.

Trata-se da história de um pai e dois filhos, um dos quais fará o papel de equilibrado, sensato, honesto e fiel, e o outro de apaixonado, dissoluto e esbanjador.

Sabedoria e afeto do pai

O pai é apresentado como possuidor de um coração sábio, afetuoso e até maternal, a ponto de não manifestar a menor estranheza com o pedido do filho, e, portanto, de não tentar dissuadir seu caçula de exigir a herança a que tinha direito.

Segundo a Lei mosaica, ao segundo filho cabia apenas uma terça parte dos bens. Impossível seria ao pai não perceber a falta de senso e de tato contida naquela demanda, que o levaria a perigosos riscos. Tratava-se do início de sua perdição. Se bem tudo fosse feito segundo o direito, o pai poderia usar de subterfúgios para negar-lhe a entrega de sua parte. Até mesmo medidas extremas teriam lugar, em última instância, caso o filho recalcitrasse em atender às imposições paternas (cf. Dt 21, 15-21).

Entretanto, por sua longa experiência da vida, o pai dava-se conta da inutilidade de toda e qualquer ação visando coarctar as paixões desenfreadas de um jovem inebriado pelas pseudo-delícias da realização de sonhos fruitivos. Exceção feita de uma intervenção de Deus, nada lhe cortaria os passos. É evidente, portanto, ter havido uma forte intenção pedagógica no fato de o pai ter concordado sem objeções com a divisão da herança. Era a intuição paterna de um futuro arrependimento e emenda eficaz.

Uma vez tendo sido solicitada por um, a divisão dos bens deveria ser realizada no seu todo. Quanto ao primogênito, como mais adiante narra Lucas, sua atitude não poderia ter sido melhor nessa circunstância. Ou seja, de nada tomou posse, deixando a globalidade de seus haveres com o pai.

Continua no próximo post.

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