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sexta-feira, 26 de abril de 2013

EVANGELHO DO VI DOMINGO DA PÁSCOA - ANO C – 2013 Jo 14, 23-29


COMENTÁRIO AO EVANGELHO DO VI DOMINGO DA PÁSCOA - ANO C – 2013   Jo 14, 23-29

As inexcogitáveis dádivas prometidas pelo Salvador, antes de sua partida para a eternidade, têm como pressuposto o amá-Lo e o guardar sua palavra. 
23 Se alguém Me ama, guardará a Minha palavra e meu Pai o amará, e Nós viremos a ele, e faremos nele a nossa morada. 24 Quem não Me ama não observa as minhas palavras. E a palavra que ouvistes não é minha, mas do Pai que Me enviou. 25 Disse-vos estas coisas estando convosco. 26 Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas, e vos recordará tudo o que vos disse.
Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se perturbe o vosso coração, nem se assuste. 28 Ouvistes que Eu vos disse: Vou e voltarei a vós. Se vós Me amásseis, certamente vos alegraríeis de Eu ir para o Pai, porque o Pai é maior do que Eu. 29 Eu vo-lo disse agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, acrediteis (Jo 14, 23-29).
PREPARANDO A PARTIDA DESTE MUNDO
Zelo e benquerença, já antes de partir
Partir c’est toujours mourir un peu!” Partir é sempre morrer um pouco, dizem os franceses. Assim — apesar de vivermos na era do avanço total das comunicações, na qual as distâncias quase já não existem — a despedida de um ente querido sempre dói no coração. Muito mais ainda naqueles tempos do Império Romano, nos quais as viagens eram demoradas, não havia telégrafo, telefone nem internet. Acrescente-se a esses dados o fato de o destino para o qual ia o Divino Mestre não ser outra cidade ou país, mas sim a eternidade.
Por isso mesmo, Jesus se esmera em preparar de maneira exímia seus seguidores para as conseqüências resultantes de sua ida definitiva para o Pai.
“Não se perturbe o vosso coração ...”, era o empenho zeloso e cheio de benquerença da parte de Jesus por seus discípulos. E ... “nem se assuste”.Ele é carinhoso em extremo e quer consolá-los o quanto pode, fazendo-os compreender, “antes que aconteça”, as enormes vantagens oriundas de sua partida deste mundo.
Necessidade do afastamento de Jesus
Com efeito, os discípulos, após longo tempo de íntimo e diário convívio com Jesus, guardavam uma figura ainda muito humana do Redentor. E por isso tornava-se necessária sua Ascensão ao Céu, entre outras razões, para o Espírito Santo infundir-lhes a verdadeira imagem a respeito do Filho de Deus. A esse propósito nos diz Santo Agostinho: “Se Ele não se afastasse corporalmente, veríamos sempre seu corpo através de olhos carnais e não chegaríamos a crer espiritualmente; e esta fé é necessária para que, justificados e beatificados por ela e tendo o coração limpo, merecêssemos contemplar esse mesmo Verbo de Deus em Deus” (1).
E em outra obra, ainda dirá o mesmo Bispo de Hipona: “Bem conhecia Ele o que lhes era conveniente, porque era muito melhor a visão interior com que lhes havia de consolar o Espírito Santo, não estando em corpo visível aos olhos humanos, senão infundindo-se Ele mesmo no peito dos crentes” (2).
É diante da perspectiva de Jesus deixar os seus discípulos que a Liturgia de hoje aborda as mais belas promessas por Ele feitas.
O PRÊMIO DO AMOR: “E FAREMOS NELE A NOSSA MORADA”
23 “Se alguém Me ama...”
O amor ocupa um lugar proeminente em nossas relações com Deus. O próprio Jesus no-lo diz: “Amai ao Senhor vosso Deus com todo vosso coração, com toda vossa alma e com todo vosso espírito. Este é o maior e o primeiro dos mandamentos” (Mt 22, 37-38).
Em várias outras passagens, as Escrituras Sagradas insistem sobre essa lei do amor a Deus: “Amai com todas as vossas forças Àquele que vos criou” (Ecli 7, 32). “Amai ao vosso Deus toda vossa vida e invocai-O para que vos salve” (Ecli 13, 18). “O amor é o pleno cumprimento da Lei” (Rm 13, 10).
Podemos amar a Deus de uma forma imperfeita, procurando agradar-Lhe com o objetivo de recebermos o prêmio da glória eterna. Mas este amor é incompleto e fruto mais especificamente da virtude da esperança, do que da caridade.
Para receber as dádivas prometidas por Jesus no Evangelho de hoje, é preciso amar a Deus em razão de ser Ele quem é, e não apenas com vistas a obter a recompensa reservada aos bons.
“... guardará a minha palavra ...”
Com divina capacidade de síntese, deduz o Salvador, logo a seguir, uma primeira consequência desse amor: a submissão à voz de Deus.
Afirma Santa Teresinha: “Para o amor, nada é impossível”. O fogo da caridade nos habilita, com efeito, para toda e qualquer ação, tornando fácil a virtude da obediência, praticada pelo próprio Jesus de forma tão exemplar. Ele, durante os primeiros trinta anos de sua existência, foi modelarmente submisso a Maria e José (cfr. Lc 2, 51). E é comovedor acompanhar passo a passo as relações entre o Filho e o Pai, ao longo da vida pública de Jesus. Não  á uma só referência da parte d’Este na qual não transpareça sua absoluta submissão: “O meu alimento é fazer a vontade d’Aquele que Me enviou e realizar sua obra”(Jo 4, 34). “Desci do Céu não para fazer a minha vontade, mas sim a d’Aquele que me enviou” (Jo 6, 38). O Verbo se fez carne, entre outras razões, para nos ensinar o valor incomensurável da obediência.
Do Gênesis ao Apocalipse, reluzem os exemplos da prática dessa virtude. Ora um Samuel admoesta ao rei Saul: “Acaso o Senhor se compraz tanto nos holocaustos e sacrifícios como na obediência à sua voz? A obediência é melhor que o sacrifício, e a submissão vale mais que a gordura dos carneiros” (I Sam 15, 22). Ora aconselhará São Paulo aos Hebreus: “Obedecei aos vossos pastores e sedelhes sujeitos”(13, 17). Ou lembrará em sua Epístola a Tito que “sejam sujeitos aos magistrados e às autoridades; que lhes obedeçam, que estejam prontos para fazer o bem” (3, 1). Ou mesmo um Abraão inteiramente disposto a imolar seu único filho Isaac, a fim de cumprir um mandato divino (cfr. Gen 22, 1-12). E o que dizer de um Jó, de um Tobias ou da própria mãe dos Macabeus? E de Maria Santíssima em seu “fiat”? to Agostinho dizem ser ela indispensável até para a prática da castidade, pois quem não se submete às ordens e desejos do superior, não conseguirá reprimir a concupiscência da carne. Para sermos fiéis aos Mandamentos da Lei de Deus, necessário é termos flexibilidade de espírito em relação à vontade de nossos superiores.
Continua no próximo post.

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