Continuação dos comentários ao Evangelho da Solenidade de Pentecostes Jo 20, 19-23
Feitas as considerações
emergentes da primeira leitura (At 2, 1-11) no post anterior encontramo-nos mais aptos para
contemplar as belezas do Evangelho da presente Liturgia.
19 Chegada a tarde daquele mesmo dia, que era o
primeiro da semana, e estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se
encontravam juntos, por medo dos judeus, foi Jesus, colocou-Se no meio deles e
disse-lhes: “A paz esteja convosco!”
A prova pela qual haviam
passado os Apóstolos excedia as forças da frágil natureza humana e, apesar do
testemunho entusiasmado de Maria Madalena, não lhes era fácil crer na
Ressurreição; talvez seu abatimento fosse o resultado de não se julgarem dignos
de receber uma aparição do Senhor, segundo pondera São João Crisóstomo, devido
ao horroroso abandono no qual deixaram o Mestre em sua agonia.
Na sua bondade infinita, Jesus
não deixou transcorrer muito tempo para se manifestar também a eles. Escolheu
uma excelente oportunidade para tal: no entardecer e estando as portas
fechadas, para tornar ainda mais patente a grandeza do milagre de sua
Ressurreição.
A chegada da noite é o momento
em que a apreensão cresce no interior de todos os temerosos. Por outro lado,
penetrar num recinto com portas e janelas fechadas, só mesmo em corpo glorioso
poderia alguém realizar tamanho prodígio.
Qual seria o lugar onde estavam
reunidos, não se sabe com exatidão. A hipótese mais provável recai sobre o
Cenáculo.
Outro particular interessante é
a posição escolhida por Cristo para lhes dirigir a palavra. Ele poderia ter
preferido saudá-los logo à entrada, entretanto caminhou entre eles e foi
colocar-Se bem ao centro. Esse deve ser sempre o posto de Jesus em todas as
nossas atividades, preocupações e necessidades. O deixá-Lo de lado, além de ser
falta de respeito e consideração, é condenar ao fracasso qualquer iniciativa,
por melhor que seja.
Sua saudação também nos chama
especialmente a atenção: “A paz esteja convosco”.
À primeira vista seríamos levados
a julgar compreensível que Ele desejasse acalmá-los das perturbações que os
acometiam desde a prisão no Horto das Oliveiras. E de fato, esse bem poderia
ser um de seus intentos, mas o significado mais profundo não reside nessa
interpretação. Para melhor o entendermos, perguntemo-nos o que é paz.
“Paz é a tranquilidade da
ordem”, diz Santo Agostinho (4), ou seja, uma ordem permanentemente tranquila.
E São Tomás demonstra ser a paz efeito próprio e específico da caridade, pois
todo aquele que está em união com Deus vive na perfeita ordem, ao harmonizar
todas as suas potências, sentidos e faculdades à sua causa eficiente e final
(5). Essa união faz brotar na alma que a possui um profundo repouso interior e
nem sequer os inimigos externos a perturbam, porque nada lhe interessa a não
ser Deus: “Se Deus está conosco, quem será contra nós?” (Rom. 8, 31).
Ora, sabemos pela Teologia que
o Espírito Santo é a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade e procede do Pai e
do Filho por via do Amor. N’Ele está a raiz, ou semente, da qual nasce o fruto
da caridade. Ao amarmos a Deus e ao próximo, a alegria e o consolo penetram em
nosso interior. Desse amor e gozo, procede a paz (6).
Jesus, desejando-lhes a paz,
oferecia-lhes um dos principais frutos desse Amor infinito que é o Espírito
Santo.
Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos
alegraram-se muito ao ver o Senhor.
Continua no próximo post.
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