Continuação dos comentários ao Evangelho da Solenidade de Pentecostes Jo 20, 19-23 Ano C 2013
Tendo dito estas palavras, soprou sobre eles e
disse-lhes: “Recebei o Espírito Santo”.
Na festa de hoje se comemora a
descida do Espírito Santo sobre Maria e os Apóstolos a qual se encontra tão bem
narrada na primeira leitura (At 2, 1-11). Esse acontecimento deu-se depois da
subida de Jesus ao Céu e talvez daí decorre o fato de alguns negarem a
realidade do grande mistério operado por Ele na ocasião, narrada no versículo
em análise. Esse erro, mais explícito no começo do séc. VI, foi solenemente
condenado pela Igreja no V Concílio Ecumênico de Constantinopla, em 552: “Se alguém defende o ímpio Teodoro de
Mopsuestia, que disse (...) que depois da Ressurreição, quando o Senhor
insuflou sobre os discípulos e lhes disse ‘Recebei o Espírito Santo’ (Jo 20,
22), não lhes deu o Espírito Santo, senão que tão-só o deu figurativamente
(...), seja anátema” (8).
O Espírito Santo não procede
somente do Pai, mas também do Filho. Ele é o Amor entre ambos. E como definir o
amor? É muito mais fácil senti-lo do que defini-lo. Dois amigos que muito se
querem, ao se encontrarem depois de longo período de separação, se abraçam
fortemente e cheios de alegria. O que significa esse gesto tão espontâneo e
efusivo, senão a manifestação de um amor recíproco? Os dois quase desejam,
nessa hora, uma fusão de seus seres. O interior das mães se desfaz, suas
entranhas parecem estar sendo arrancadas ao verem seus filhos partirem. Os que
se amam querem estar juntos e se olhar. E quanto mais robusto é o amor, maior
será a inclinação de se unirem.
Ora, quando os dois seres que
se amam são infinitos e eternos, jamais esse impulso de união poderá manter-se
dentro dos estreitos limites de uma mera tendência emocional, como muitas vezes
se passa entre nós homens. Entre o Pai e o Filho, esse Amor é tão vigoroso que
faz proceder uma Terceira Pessoa, o Espírito Santo.
Nossos amores, em não raras
circunstâncias, são volúveis. Deus, muito pelo contrário, porque se contempla a
Si próprio, Bom, Verdadeiro e Belo, eterna e irresistivelmente, Se ama desde
todo o sempre e para sempre, e, tal qual assevera Santo Agostinho, desse amor
faz proceder uma Terceira Pessoa infinita, santa e eterna, o Divino Espírito
Santo. O amor é eminentemente difusivo e por isso tende a comunicar-se, a
entregar-se.
Curiosa é a diferença de forma
empregada por uma e outra Pessoa para se comunicar com os homens.
O Filho veio a este mundo
assumindo nossa natureza em humildade e apagamento. Pelo contrário, o Espírito
Santo, sem assumir outra natureza, marca sua presença com símbolos de estrépito
e majestade. A face da terra será renovada por Ele, daí a manifestação do
esplendor, força e rapidez dos fenômenos físicos que acompanharam sua infusão
de graças nos que se encontravam reunidos no Cenáculo (conforme a 1ª leitura de
hoje, At 2, 1-11), porque eles deveriam ser Apóstolos e testemunhas. Era
preciso que fossem iluminados e protegidos, e soubessem ensinar.
No Evangelho de João, essa
doação do Espírito Santo tem em vista a faculdade de perdoar os pecados:
“Àqueles a quem
perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados, àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão
retidos.”
Que grande dom concedido aos
mortais por meio dos sacerdotes: o perdão dos pecados! Por outro lado, que
imensa responsabilidade a de um Ministro de Deus! Dele diz São João Crisóstomo:
“Se o sacerdote tiver conduzido bem sua própria vida, mas não tiver cuidado com
diligência da dos outros, condenar-se-á com os réprobos” (9).
Continua...
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