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terça-feira, 21 de maio de 2013

Evangelho Solenidade da Santíssima Trindade - Jo 16, 12-15 - Ano C - 2013

Continuação dos comentários ao Evangelho Solenidade da Santíssima Trindade - Jo 16, 12-15 -  Ano C - 2013

Jesus anuncia o Paráclito
O trecho do Evangelho de São João, hoje contemplado, pertence ao relato da Última Ceia. Precede a Oração Sacerdotal, e sucede ao episódio do lava-pés e a diversas afirmações misteriosas do Divino Redentor que pareceram incompreensíveis aos Apóstolos, como o anúncio da traição de Judas, da negação de Pedro antes que o galo cantasse, ou ainda da Sua breve partida: “Para onde Eu vou, vós não podeis ir” (Jo 13, 33).
Encontravam-se eles admirados e perplexos ao extremo diante do grandioso panorama apresentado por Jesus, tanto mais que suas vidas estavam em questão, pois poucos instantes antes o Salvador afirmara: “Virá a hora em que todo aquele que vos matar, julgará estar prestando culto a Deus” (Jo 16, 2).
“Não sois capazes de compreender agora”
12“Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender agora”.
Chama a atenção ver o Mestre por excelência, incomparável pedagogo, dotado de divina didática, afirmar que vai silenciar determinados ensinamentos porque Seus interlocutores não são capazes de compreendê-los.
Até se poderia ter a falsa impressão de que, por causa de certas deficiências dos Apóstolos, Nosso Senhor houvera decidido guardar para Si algumas das doutrinas que deveriam fazer parte da Revelação. E que, portanto, se os Doze tivessem sido inteiramente fiéis, ter-lhes-ia o Divino Mestre desvendado muitas outras maravilhas. Afirmar isso, porém, seria grave erro, pois equivaleria a asseverar que ficou incompleta a missão de Nosso Senhor, não tendo sido atingida, com Ele, a plenitude da Revelação.
 Para bem entendermos este versículo, precisamos considerar a rudeza dos Apóstolos, sua condição de pessoas simples e a sublimidade dos ensinamentos que lhes seriam confiados. Tudo isto exigia, segundo o padre Tuya, “uma transformação radical que, no plano do Pai, estava reservada ao Pentecostes, como ponto inicial da ação do Espírito sobre eles”.9
Necessitavam dos dons do Paráclito para compreender certas verdades reveladas, que ultrapassam a capacidade humana de entendimento. De nada serviria, naquele momento, toda a divina didática de Cristo, sem estar acompanhada pela ação sobrenatural que se lhes concederia mais adiante. Embora o Espírito Santo “não fosse melhor mestre que Jesus, Ele, entretanto, lhes falaria numa oportunidade melhor”, explica Maldonado.10
De outro lado, as palavras de Nosso Senhor não autorizam a deduzir que tenha havido alguma falta ou infidelidade da parte dos Apóstolos. Apenas afirma o Divino Mestre serem eles incapazes de compreender, naquele momento, “muitas coisas” que Ele tinha a transmitir. Nisso nada havia de desonroso, pois, mesmo decorridos já dois milênios, durante os quais a doutrina católica foi crescentemente explicitada pelo Magistério pontifício, pelos escritos dos doutores ou pela voz dos pregadores, muitas das verdades reveladas permanecem ainda incompreensíveis à razão humana, aguardando uma ação do Paráclito que venha esclarecê-las.
Uma última reflexão, útil especialmente para nós sacerdotes. Além de reconhecermos com humildade essa limitação do nosso intelecto, precisamos saber aplicar, no exercício de nosso ministério, a lição moral que o Cardeal Gomá tira deste versículo: “A inteligência humana é um vaso pequeno demais para receber toda a verdade divina. Por isso Deus é misericordioso a ponto de descer até nós e dar-nos a verdade de acordo com a medida de nossa capacidade. Tenham isto bem presente aqueles que ensinam, ao povo, as verdades de nossa Religião”.11
“Ele vos conduzirá à plena verdade”
13a “Quando, porém, vier o Espírito da Verdade, Ele vos conduzirá à plena verdade”.
Deveria nosso Redentor partir em breve, vindo em seguida o Paráclito para abrir as almas dos discípulos à “plena verdade”, isto é, conduzi-los ao conhecimento completo do que foi revelado. Pois cabe ao Consolador, como afirma Fillion, finalizar a obra de Jesus, ensinando aos Seus discípulos “a verdade cristã inteira e completa em toda a sua extensão, e sem perigo de errarem, ao menos naquilo que lhes fosse necessário para seu futuro ministério”.12
No mesmo sentido se pronuncia o padre Manuel de Tuya, ao afirmar: “O contexto do Evangelho de João sugere que, mais do que a uma revelação absolutamente nova de verdades, feita pelo Espírito Santo, refere-se a uma maior penetração das verdades reveladas por Cristo aos Apóstolos”.13
Com efeito, no decurso da era da Nova Aliança, o Espírito Santo não deixa de inspirar progressivamente as almas no sentido de melhor entenderem a riquíssima doutrina deixada por Nosso Senhor. Tudo quanto Ele ensinou será passível de desdobramentos e aprofundamentos até o fim do mundo. E sempre haverá novas pérolas a descobrir nesse inesgotável tesouro, pois, “embora a Revelação esteja terminada, não está explicitada por completo; caberá à Fé cristã captar gradualmente todo o seu alcance ao longo dos séculos”.14
Em relação ao método usado pelo Espírito Paráclito para melhor fazer penetrar os Apóstolos nas verdades reveladas, Maldonado interpreta da seguinte forma a expressão “vos conduzirá”: “Conduzir à plena verdade não significa ensinar de qualquer maneira toda a verdade, mas agir de modo que o mestre leve quase pela mão o discípulo, e vá ensinando-lhe o caminho da verdade mais adequado à sua inteligência; ou seja, não expor-lhe todas as coisas ao mesmo tempo ou em desordem, mostrando primeiro o difícil e depois o fácil, mas ao contrário, propondo primeiro o fácil e em seguida o difícil, cada coisa a seu tempo, de acordo com o aproveitamento e a capacidade de quem aprende”.15
É preciso notar, por fim, que quem não tiver recebido o Sacramento do Batismo jamais conseguirá atingir certas verdades da nossa Fé, por maiores que sejam a inteligência e o esforço aplicados. E isto porque a alma não recebeu a luz do Espírito Santo, que torna compreensível a Palavra divina.
Assim aconteceu quando Nosso Senhor revelou a Eucaristia: muitos dos Seus discípulos O abandonaram, por interpretarem Suas palavras em sentido literal (cf. Jo 6, 48-69); hoje, porém, com o auxílio da graça do Paráclito, milhões e milhões de fiéis no mundo inteiro participam da Celebração Eucarística, dobrando os joelhos em adoração, ao serem pronunciadas, na Consagração, palavras do teor daquelas que outrora tanto chocaram, inclusive os Apóstolos.

Continua no próximo post.

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