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quarta-feira, 22 de maio de 2013

Evangelho Solenidade da Santíssima Trindade - Jo 16, 12-15 - Ano C - 2013


Continuação dos comentários ao Evangelho Solenidade da Santíssima Trindade - Jo 16, 12-15 -  Ano C - 2013
Três pessoas idênticas e coeternas
13b “Pois não falará por Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido”.
Com Nosso Senhor, atingiu-se a plenitude da Revelação. “Cristo, o Filho de Deus feito Homem, é a Palavra única, perfeita e insuperável do Pai. N’Ele o Pai disse tudo e não haverá outra palavra senão esta”.16 Portanto, nada há fora do Verbo Encarnado que possa ser transmitido aos homens, e devemos interpretar neste sentido o presente versículo, como observa Lagrange: “O Espírito não falará por Si mesmo, ou seja, não exporá uma doutrina própria d’Ele: a doutrina não será nova, pelo menos no sentido de que não será estranha à Revelação já feita pelo Filho”.17
De outro lado, convém evitar a conclusão errônea segundo a qual o Espírito Santo necessitaria ouvir os ensinamentos de Cristo para depois transmiti-los aos Apóstolos, como se Ele tivesse alguma inferioridade em relação ao Filho. Sendo as três Pessoas idênticas e coeternas, são um só Deus.
Portanto, falando em termos humanos, o que “sabe” uma Pessoa divina, “sabem-no” também as outras. Ou, dito com as palavras do Cardeal Gomá: “A ciência das três Pessoas divinas é a mesma, infinita; contudo, recebendo o Espírito Santo a natureza do Pai e do Filho, dos quais procede, recebe também a ciência, segundo nossa maneira de falar”.18
Assim, quando o Paráclito disser aos Apóstolos “tudo quanto tiver ouvido”, estará revelando aquilo que conhece desde toda a eternidade, tal qual o Pai e o Filho.
O dom de profecia
13c “Ele Me glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará”.
Pode-se interpretar esta afirmação como um recurso didático utilizado pelo Divino Mestre para melhor fazer compreender, aos Seus ouvintes, toda a extensão do poder do Espírito Santo para conduzir as almas à plena verdade. Mas outros autores, entre os quais Maldonado,19 preferem interpretar esta passagem como sendo um desejo de Jesus, de frisar a presença do dom de profecia entre os demais dons que o Espírito Santo infundiria nos Apóstolos.
Pois se este dom foi dado à Sinagoga, com muito maior razão deveria possuí-lo a Igreja. É o que assinala o Cardeal Gomá: “As funções do Espírito Santo não terminaram com a morte dos Apóstolos; com eles encerrou-se a Revelação; mas a Igreja tem a assistência positiva do Espírito Divino para não errar no caminho da verdade especulativa e prática; por outro lado, nunca cessou, na Igreja, o espírito de profecia”.20
Lembremos também que profetizar não significa apenas, nem principalmente, prever o futuro; consiste, pelo contrário, em interpretar o presente para saber conduzir os fiéis nas vias da Providência. Esse carisma para discernir os desígnios de Deus e guiar Seus filhos é concedido à Igreja em um grau incomparavelmente maior do que foi dado na Antiga Lei.
O Espírito não é maior do que o Filho
14“Ele Me glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará”.
Tudo quanto se refere à Santíssima Trindade fica envolvido em véus de mistério. Qual o significado da afirmação feita pelo Divino Mestre: “Receberá do que é meu”?
Sob uma perspectiva eminentemente pastoral, Crisóstomo assim interpreta: “Para que, ao ouvir essas palavras, não julgassem os discípulos ser o Espírito Santo maior do que Ele e caíssem em maior impiedade, disse: ‘Receberá do que é meu’. Ou seja: ‘O que Eu disse, também Ele o dirá’”.21
Dídimo, de sua parte, sob um prisma metafísico, busca o sentido da mesma expressão: “‘Receber’, aqui, segundo a natureza divina, deve entender-se da seguinte forma: assim como o Filho, dando, não Se priva do que dá, nem Se prejudica beneficiando a outrem, assim também o Espírito Santo não recebe o que antes não possuía; pois se recebesse um dom que não tinha anteriormente, ficaria sem ele quando o transferisse a outrem. Convém entender que o Espírito Santo recebe do Filho aquilo que constitui Sua natureza, e que não são duas substâncias — uma que dá e outra que recebe — mas sim uma só substância. Do mesmo modo, o Filho recebe do Pai a mesma substância que subsiste em ambos: nem o Filho é outra coisa que tudo aquilo que recebe de Seu Pai, nem o Espírito Santo é outra substância que a que recebe do Filho”.22
Já Maldonado, em consonância com diversos comentaristas antigos, procura salientar a glorificação que Cristo há de receber pelo testemunho que d’Ele será dado pelo Espírito da Verdade, e conclui: “Portanto, a verdadeira interpretação é: ‘O Espírito virá em meu nome e ensinará minha doutrina, como legado meu. Por isso, a glória de Suas obras e magistério redundará em minha glória’”.23
Continua no próximo post.

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