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quarta-feira, 12 de junho de 2013

EVANGELHO XI DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO C - 2013

CONTINUAÇÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO 11º DOMINGO DO TEMPO COMUM  Lc 7,  36-50; 8 1-3
O juízo preconceituoso do fariseu
A segurança parecia retornar ao coração de Simão, o fariseu, ao assistir a tão escandalosa cena: “Se este fosse profeta, com certeza saberia de que espécie é a mulher que O toca: uma pecadora” . Seu juízo é apressado e infundado. Assim como não teve fé e amor para enlevar-se com o Mestre, faltou-lhe também o discernimento para, na ex-pecadora, ver e interpretar os sinais de um arrependimento perfeito, pois são notórios os efeitos do vício ou da virtude estampados na face (Eclo 13, 31). O orgulho de ser um rigoroso e sábio legista levou-o a uma conclusão aparentemente lógica, mas em realidade temerária, contra o Médico e contra a enferma. Além do mais, manifestou sua falsidade, pois, se concebeu no seu interior a convicção de estar diante de um homem comum e aguardou sua saída para provavelmente comentar com satisfação o aparente horror daquele escândalo, por que chamá-Lo de Mestre? A esse respeito, comenta com muita propriedade São Gregório Magno: “O Médico se encontrava entre dois enfermos; um tinha a febre dos sentidos, e o outro havia perdido o sentido da razão: aquela mulher chorava o que havia feito, mas o fariseu, orgulhoso pela sua falsa justiça, exagerava a força de sua saúde” (8).
Além não ter tido tino ou virtude para perceber na pecadora a enorme graça de que havia sido objeto, faltava ao fariseu humildade fé e amor para ver em Jesus o Filho de Deus. Entretanto, a prova de quanto Jesus é profeta foi dada a Simão logo a seguir, no estilo tão apreciado naqueles tempos, através da parábola dos dois devedores. É notório o caráter universal das palavras do Salvador contidas nesse trecho, mas não podemos negligenciar a realidade concreta a desdobrar-se diante de seus olhos de Juiz Supremo.
Ali estavam dois réus. Ambos haviam ofendido a Deus em graus diferentes e necessitavam, portanto, do perdão. A pecadora estava tomada por um arrependimento perfeito e foram-lhe “perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou”. Quanto ao fariseu, o Senhor lhe externa sua disposição em perdoá-lo, mas seria necessário, da parte dele, fé e maior amor (vv. 47 e 50). Indispensável era ao fariseu reconhecer seu débito para com Deus e pedir-Lhe perdão, mas ele assim não procedeu, por ser orgulhoso.
É fácil compreender a sentença final do Divino Juiz: a pecadora é oficial e publicamente perdoada; quanto ao fariseu, na melhor das hipóteses — se chegasse a arrepender-se e vencer seu orgulho — caberia, talvez, o decreto de Nosso Senhor: “os publicanos e as meretrizes vos precedem no Reino de Deus” (Mt 21, 31).
É preciso ter pecado para crescer no amor?
É importante respondermos a uma questão: em face do Evangelho de hoje, é necessário a pessoa ter praticado um grande número de pecados para, ao ser perdoada, amar mais?
Se assim fosse, Maria Imaculada — não só pela sua puríssima concepção, mas também por sua ilibada vida — seria a criatura que menos amou a Deus. Ora, sabemos com emocionado júbilo ser a Santíssima Virgem a mais amada e a mais perfeita amante, entre todos os seres saídos das mãos do Criador. Porém, a Ela também cabia rezar: “Perdoai as nossas dívidas”, como se pedia antigamente no Pai Nosso, pois Ela Lhe deve o ser, a predestinação à maternidade divina, a plenitude de graças, a concepção imaculada, a vida isenta de qualquer mancha de pecado, enfim, todos os dons, virtudes e privilégios que Lhe foram concedidos no mais alto grau.
Ela mesma externou esse reconhecimento, ao pronunciar o Magnificat, em casa de sua prima Santa Isabel (Lc 1, 46-55):”A minha alma glorifica o Senhor; e o meu espírito exulta de alegria em Deus meu Salvador, porque olhou para a humildade de sua serva. Portanto, eis que, de hoje em diante, todas as gerações Me chamarão ditosa, porque o Todo-Poderoso fez em Mim grandes coisas” (Lc 1, 46-49).
A gratidão que se manifestava perfeita na pecadora, não estava presente em Simão, o fariseu. Com independência das faltas cometidas, nós todos somos devedores diante da incomensurável bondade de Deus, pois Ele nos escolheu entre infinitos outros seres passíveis de serem criados, sobre os quais não incidiu seu ato criador.
Mas, aos orgulhosos não ocorrem esses pensamentos.
Debaixo desse prisma, Maria Santíssima é a maior devedora, pois Ela sozinha recebeu de Deus muito mais que a soma dos Anjos e dos Bem-Aventurados, no seu conjunto. Compreendemos agora melhor o Evangelho: a pecadora recebeu de Jesus dez vezes mais do que Simão, o fariseu. Ela amou o Redentor na mesma proporção, penetrada de gratidão. O outro, não. Por seu orgulho, ele não se reconhecia devedor e, portanto, não entendia nem desejava a remissão que Jesus lhe oferecia.
Abraçar a via do amor e da gratidão
“Eis que este Menino está posto para ruína e ressurreição de muitos em Israel e para ser sinal de contradição” (Lc 2, 34).
Diante de Jesus, ou estamos com o amor e gratidão da pecadora; ou, melhor ainda, com disposições de alma semelhantes às da Santíssima Virgem; ou seguindo as desordens do fariseu Simão.
Se abraçarmos a via do amor agradecido — quer na inocência, quer no arrependimento — a nós se aplicará a sentença de São Tomás: “O menino, inclusive o não- batizado, se tem a idade do uso da razão e ama eficazmente o bem mais do que a si mesmo, está justificado pelo batismo de desejo, porque esse amor, que já é o amor eficaz a Deus, não é possível no estado atual da humanidade sem a graça regeneradora” (9).

Pelo contrário, se assumirmos a soberba do fariseu, sentiremos em nós o quanto “o orgulho é impaciente e malévolo; invejoso, arrogante, ambicioso, busca só os seus próprios interesses, pervadido de irritações e de ressentimentos pelo mal sofrido”. Provaremos no fundo de nossa alma “o regozijo com a injustiça e a tristeza com a verdade”, porque o orgulho “nada desculpa, de tudo desconfia, nada espera e nada suporta” (parafraseando São Paulo, I Cor 13, 4 a 7).
1) Nat. Hist. 2, 33. 2) Ver I Mac 2, 19-27. 3) Ver Mt 15, 7; 16, 4; 22, 18; 23, 13-33; e Mc 7, 6. 4) Luís Vives, De anima et Vita - I, 3: De superbia [Basilea 1555] f. 592. 5 ) Ver Lc 7, 41-55; Mc 5, 3542. 6 ) C.M. Franzero, The memoirs of Pontius Pilate, trad. Portuguesa de Morais Cabral, Lisboa, p. 215. 7 ) São João Crisóstomo, apud Catena Áurea in Lc VII, 36-50. 8 ) Apud Catena Áurea, in Lc VII, 36-50. 9 ) Pe. Reginald Garrigou-Lagrange, El Salvador y su amor por nosotros, Rialp, Madrid, 1977, p. 34, comentando ST, I, II, q. 109, a. 3

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