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sábado, 1 de junho de 2013

EVANGELHO X DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO C - 2013

EVANGELHO – 10º DOMINGO DO TEMPO COMUM Ano C 2013  Lc 7, 11-17


“Naquele tempo, 11 Jesus dirigiu-Se a uma cidade chamada Naim. Com ele iam seus discípulos e uma grande multidão.
12 Quando chegou à porta da cidade, eis que levavam um defunto, filho único; e sua mãe era viúva. Grande multidão da cidade a acompanhava. 13 Ao vê-la, o Senhor sentiu compaixão para com ela e lhe disse: ‘Não chore!’. 14 Aproximou-Se, tocou o caixão, e os que o carregavam pararam. Então, Jesus disse: ‘Jovem, eu te ordeno, levanta-te!’. 15 O que estava morto sentou-se e começou a falar. E Jesus o entregou à sua mãe. 16 Todos ficaram com muito medo e glorificavam a Deus, dizendo: ‘Um grande profeta apareceu entre nós e Deus veio visitar o seu povo’.
17 E a notícia do fato espalhou-se pela Judeia inteira e por toda a redondeza” (Lc 7, 11-17).
COMENTÁRIO AO EVANGELHO – 10º DOMINGO DO TEMPO COMUM Lc 7, 11-17
O CHOQUE DAS GRANDES CONVERSÕES
Na História da Igreja é frequente encontrarmos situações nas quais um apóstolo, inspirado por Deus, deseja a conversão de alguma alma afastada da Religião. Entretanto, muitas vezes seu ardor se vê coarctado pela negativa de quem é objeto de seu zelo. Todos os esforços se revelam inúteis, pois a argumentação não logra dobrar uma vontade obstinada.
Afonso Ratisbonne, por exemplo, era um israelita de raça e religião, profundamente enraizado em suas tradições. Seu amigo, o Barão de Bussières, movido por uma moção interior da graça, usou dos mais convincentes recursos da apologética para tentar convertê-lo à Igreja Católica, sem obter sucesso. Aferrado às próprias convicções e mais preocupado em gozar das delícias da vida que o futuro lhe oferecia, Afonso aceitou apenas levar ao pescoço uma medalha de Nossa Senhora das Graças, com a promessa, a contragosto, de recitar todos os dias o Memorare — o “Lembrai-Vos”, a conhecida oração de São Bernardo. “Eu não podia me dar conta” — narraria mais tarde o Barão de Bussières — “da força interior que me impelia, a qual, a despeito de todos os obstáculos e da obstinada indiferença oposta por ele a meus esforços, dava-me uma convicção íntima, inexplicável de que, cedo ou tarde, Deus lhe abriria os olhos”.1
Alguns dias depois, ambos entraram na igreja de Sant’Andrea delle Fratte, em Roma. O Barão dirigiu-se à sacristia, para tratar de um assunto, enquanto o jovem Afonso permaneceu só na igreja, analisando as obras de arte ali existentes. De repente, em um altar lateral, apareceu-lhe a Santíssima Virgem, tal como na medalha, e sem nada dizer operou instantaneamente sua conversão radical: “Ela não me falou, mas eu compreendi tudo!”, 2 exclamava ele, depois, com verdadeiros arroubos de entusiasmo. Com efeito, a fé católica fora-lhe implantada no coração de modo inexplicável; o jovem israelita passou a falar dos mistérios e dos dogmas da Religião como se os conhecesse e os amasse desde sempre. Bastara apenas um olhar de Maria para transformar sua alma!
A ação da graça eficaz
Não nos iludamos, portanto, ao constatar a conversão de uma alma, julgando que ela se deveu à argumentação racional feita por quem se propunha atraí-la, ou a uma exposição teológica que, entremeada de exemplos adequados e desenvolvidos de forma brilhante, arrebatou o ouvinte, levando-o a uma mudança de vida. Se a iniciativa de conceder uma graça eficaz — isto é, aquela que produz seu efeito sempre, de modo infalível — não partir de Deus, podem ser empregados todos os recursos da inteligência humana, as demonstrações mais convincentes ou os silogismos mais irrefutáveis, que não se logrará mover a alma nem um passo sequer na direção do bem. O eminente teólogo dominicano, padre Antonio Royo Marín, explica que, “sem a graça atual ou auxílio sobrenatural de Deus, a alma em graça e, ainda com maior razão, o pobre pecador, não podem fazer absolutamente nada na ordem sobrenatural. O pecador não pode arrepender-se de maneira suficiente para recuperar a graça se Deus não lhe concede previamente a graça atual do arrependimento”.3
De fato, a ação de Deus sobre as almas é muito variada. Não depende ela da lucidez, da lógica ou da capacidade oratória do apóstolo, não depende dos méritos deste, nem de quem a recebe, não depende sequer, como condição absoluta, das orações que outros façam intercedendo por elas, embora a prece em favor do próximo possua grande audiência diante de Deus. A conversão, portanto, obedece a uma iniciativa de Deus, conforme ensina São Tomás: “Que o homem se converta a Deus não pode ocorrer senão sob o impulso do próprio Deus que o converte. [...] A conversão do homem a Deus é, certamente, obra do livre-arbítrio. Por isso, precisamente, manda-lhe que se converta. Mas o livre-arbítrio não pode voltar-se a Deus, se o próprio Deus não o converte a si”.4
Tal impulso divino, que com frequência incide “não só [sobre os] que carecem totalmente de bons méritos, como também [sobre aqueles cujos] méritos maus vão adiante”,5 é-nos ilustrado de forma cogente no Evangelho proposto na Liturgia do 10º Domingo do Tempo Comum.
A COMPASSIVA INICIATIVA DE NOSSO SENHOR
“Naquele tempo, 11 Jesus dirigiu-Se a uma cidade chamada Naim. Com ele iam seus discípulos e uma grande multidão”.
Naim era uma pequena cidade da Galileia, situada sobre uma elevação, na encosta do Pequeno Hermon, a doze quilômetros de distância de Nazaré e a 38 quilômetros de Cafarnaum. Seu nome — que significa “a graciosa” — provinha do belo panorama descortinado à sua frente, compreendendo a fértil planície de Esdrelon, as montanhas de Nazaré e o imponente monte Tabor. Como a maioria das cidades da Palestina naquela época, possuía muralhas de defesa para evitar saques e invasões. O acesso ao casario se fazia por uma estrada ascensional que conduzia até a porta da cidade, provavelmente estreita, dificultando a entrada e a saída, em caso de se formarem grandes aglomerações de pessoas.
O providencial encontro de duas multidões
12 “Quando chegou à porta da cidade, eis que levavam um defunto, filho único; e sua mãe era viúva. Grande multidão da cidade a acompanhava”.
Diante desse quadro, podemos imaginar o impacto causado pela chegada de Nosso Senhor, que subia à cidade seguido de uma grande multidão, ao encontrar-Se com outra comitiva numerosa, constituída pelos habitantes, que descia pela estrada levando para enterrar o filho único de uma viúva.7 Segundo a praxe judaica, quem cruzasse com um cortejo fúnebre deveria parar e acompanhá-lo.8 Jesus, amante e cumpridor das leis, deteve-Se diante do defunto e, devido à estreiteza do caminho, quiçá tenha até mesmo se colocado de lado para permitir a passagem do féretro.
Naqueles tempos, a morte de um filho único constituía para uma viúva a desaparição de seu esteio. A partir desse momento, ela e suas possíveis propriedades ficavam à mercê da rapina geral — abuso denunciado por Jesus mais adiante, em sua censura aos escribas (cf. Lc 20, 47; Mc 12, 40). Com efeito, não faltava quem se regozijasse em tais circunstâncias, porque das viúvas podiam arrancar tudo quanto elas possuíam, sem oposição de ninguém, como aponta São João Crisóstomo: “E o pior era que não enchiam seus ventres dos bens dos ricos, mas da miséria das viúvas, agravando uma pobreza que deveriam socorrer”.9 Situação semelhante nos é apontada pelo próprio Cristo na parábola do juiz iníquo (cf. Lc 18, 1-8), revelando esse crime que não era estranho aos ouvidos do tempo.
Nosso Senhor toma a iniciativa sem prévio pedido
13 “Ao vê-la, o Senhor sentiu compaixão para com ela e lhe disse: ‘Não chore!’”.
Na maior parte dos milagres realizados pelo Divino Mestre — como, por exemplo, o do servo do centurião, contemplado na Liturgia do domingo anterior —, a iniciativa partia do necessitado que, cheio de fé, pedia auxílio, sendo atendido por Nosso Senhor.
Neste caso, pelo contrário, algo diferente aconteceu: o próprio Jesus toma a iniciativa. Ele, enquanto Deus, considerara aquela família desde toda a eternidade e, através do conhecimento de sua alma humana na visão beatífica, conhecia-a também perfeitamente, bem como a difícil conjuntura em que se encontrava. Contudo, seus olhos materiais e sua ciência experimental só nesse momento a constataram.
A cena de uma mãe desolada, atingida pela perda de quem era seu apoio e sustento, ficando sozinha no mundo, era por demais comovedora. “Sobre aquela cabeça querida, ela havia reunido todos os afetos e todas as esperanças de seu coração. Ela o educava como uma viúva sabe educar um filho único. Podemos afirmar: sua alma e sua vida gravitavam em torno dessa existência. E eis que, de repente, se rompe o fio ao qual estava suspensa a única felicidade que ela podia experimentar sobre a Terra. Eis que a morte arranca aos abraços desesperados de sua mãe o menino amadurecido, no momento em que ele aparecia como uma força e como uma proteção”.10
Por isso, tomou-Se Jesus de dor e compaixão para com a pobre senhora e, dirigindo-Se primeiramente a ela, disse-lhe: “Não chore”. Sem dúvida, tais palavras devem ter tranquilizado o espírito aflito dela, pois o Divino Mestre as fez acompanhar de especiais graças de consolação. A esse propósito, comenta Maldonado: “Devemos crer que Cristo disse essa palavra de consolo de maneira muito diferente do que haviam feito as outras pessoas. Pois não há dúvida de que palavras iguais ou semelhantes lhe diriam todos. Quem há que não diga ‘Não chore’ ao que se lamenta? Mas os outros o diriam de modo humano e com razões humanas. [...] Cristo, pelo contrário, consola-a de maneira que, ou com outras palavras omitidas pelo Evangelista, ou com o tom de voz com o qual disse estas mesmas palavras, deixa-lhe entrever, de alguma forma, a esperança de que seu filho ressuscitaria”. 11 Essa primeira atitude de Nosso Senhor já deve ter causado assombro nos circunstantes, pois manifestava uma compaixão como ninguém tinha na época.

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