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quinta-feira, 30 de maio de 2013

Evangelho 9º Domingo do Tempo Comum — Lc 7, 1-10 — Ano C 2013

Continuação dos comentários ao Evangelho  9º Domingo do Tempo Comum  Lc 7, 1-10 — Ano C 2013
Um milagre, tal como foi pedido
10 Os mensageiros voltaram para a casa do oficial e encontraram o empregado em perfeita saúde.
Santo Ambrósio vê no empregado outro simbolismo do caráter universal da salvação: “No sentido místico, o servo do centurião representa o povo das nações que, retido pelas correntes da escravidão do mundo e enfermo de paixões mortais, devia ser curado pela graça do Senhor”.’7
Este último versículo traz um singular pormenor, próprio aos conhecimentos médicos de São Lucas. Ás vezes, através da oração e do oferecimento de sacrifícios, os sacerdotes do Templo obtinham a recuperação da saúde dos enfermos; porém não conseguiam livrá-los de todas as sequelas da doença. Por tal razão, o Evangelista teve o cuidado de registrar que o empregado ficou totalmente são — “em perfeita saúde” —, sem nenhum vestígio da moléstia, sinal in confundível das curas operadas pelo Divino Médico.
A oração do centurião estava atendida: O Senhor não foi à sua casa, mas a cura do Senhor sim; o Salvador não visitou o enfermo, mas a cura do Senhor o visitou”,18 conclui São Máximo de Turim.
O que havia determinado a realização do pedido? A benevolência pelo próximo, a generosidade, a retidão ou quiçá a humildade, virtudes das quais o centurião deu provas tão robustas? Todos esses fatores foram importantes, apesar de não terem sido essenciais. O elemento indispensável — a fé — foi o único elogiado pelo Mestre: “Eu vos declaro que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé!”.
APESAR DE INDIGNOS, JESUS VEM A NÓS
O exemplo do centurião põe em relevo algo simples, cuja imensa eficácia muitas vezes passa despercebida aos nossos olhos: a oração cheia de fé. Sua força impetratória é tal que nos faz participar da própria onipotência divina, como afirma Jesus: “Tudo o que pedirdes com fé na oração, vós o recebereis” (Mt 21, 22).
Portanto, devemos nos compenetrar da necessidade de nos dirigirmos a Nosso Senhor em nossas dificuldades — tanto espirituais, quanto temporais —, com a certeza de que nossa fé moverá sua infinita misericórdia a nos atender. E assim como a gentilidade não foi motivo para o centurião recear ser ouvido por Cristo, nossa confiança em sua ação deve passar por cima das nossas próprias insuficiências, certos de que diante d’Ele não é preciso merecer, mas apenas pedir com fé.
Imortalizada pelo Evangelho e recolhida pela Liturgia da Igreja a fim de predispor convenientemente todos aqueles que vão receber a comunhão eucarística, a prece do centurião atravessou os séculos como modelo de perfeita atitude de alma de um fiel, ao encontrar-se diante do Salvador: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo”. Entretanto, há uma substancial diferença entre a oração dirigida a Jesus em Cafarnaum e a que se eleva a Ele em todos os recantos do mundo, junto ao altar: nos lábios do centurião, expressava o desejo de uma alma que, crendo de modo extraordinário no poder d’Ele e julgando-se indigna de recebê-Lo, pedia-Lhe que não fosse à sua casa, curando seu servo à distância. Ao brotar de nosso coração católico, a mesma súplica também confessa a indignidade de receber a Cristo; não obstante, implora, ao mesmo tempo, que Ele venha à nossa alma e, nessa visita, nos diga uma palavra interior que cure nossas misérias e nos restaure inteiramente.
Se Ele, sem ter entrado na casa do oficial, atendeu àquele pedido confiante, que milagres seu Sagrado Coração não anseia fazer por nós, ao vir à nossa alma na Eucaristia? Para tal, Ele nos pede apenas que confiemos de modo incondicional em sua onipotência, cujos efeitos tanto mais se manifestarão em nós quanto maior for nossa fé.

1)Cf. SAO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. III, q.43, a.4.
2) Idem, a.2.
3) Embora na tradução litúrgica conste “empregado”, o original grego fala em δούγος (douloj), isto é, escravo
4) FILLION, Louis-Claude. Vida de Nuestro Señor Jesucristo. Vida pública. Madrid: Rialp, 2000, v.11, p.127.
5) FILLION, Louis-Claude. Los milagros de Jesucristo. Barcelona/México: Circulo Latino, 2005, p.294.

6) SANTO AMBROSIO, apud SÃO TOMÁS DE AQUINO. Catena Aurea. In Lucam, c.VII, v.1-10.
7) STÖGER, Alois. El Nuevo Testamento y su mensaje. El Evangelio según San Lucas. Barcelona: Herder, 1970, v.111-i, p.200.
8) FLAVIO JOSEFO. História dos Hebreus. Contra Apio. L.II, c.9.
9) FILLION, Los milagros de Jesucristo, op. cit., p.295.
10) SANTO AGOSTINHO. Enarratio in psalmum XLVI, n.12. In: Obras. Madrid: BAC, 1965, v.XX, p.134.
11) FILLION, Los milagros de Jesucristo, op. cit., p.296.
12) SANTO AGOSTINHO, op. cit., p.134.
13) CANTALAMESSA, OFMCap, Raniero. Echad las redes. Reflexiones sobre los Evangelios. Ciclo C. Valencia: Edicep, 2003, p.220,
14) GOMA Y TOMAS, Isidro. El Evangelio esplicado. Introducción, Infancia y vida oculta de Jesús. Preparación de su ministerio público. Barcelona: Acervo, 1966, v.1, p.5_50. -
15) SAO BEDA, apud SAO TOMÁS DE AQUINO, Catena Aurea, op. cit.
16) CANTALAMESSA, op. cit., p.219.
17) SANTO AMBROSIO, apud SAO TOMAS DE AQUINO, Catena Aurea, op. cit.
18) SÃO MÁXIMO DE TURIM. Sermón, 87,3, apud ODEN, Thomas C.; JUST, Arthur A. La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia. Evangelio según San Lucas. Madrid: Ciudad Nueva, 2006, v.111, p.178.

Um comentário:

jose agostinho disse...

Mons.tuas palavras me tocaram muito e me comoveram.Hoje é a1ªvez que vejo seus comentarios e não mais deixarei de ve-los,pois tu és um iluminado.Que Deus lhe abençoe sempre Amem