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segunda-feira, 17 de junho de 2013

Evangelho XII Domingo do Tempo Comum – Ano – C 2013 Lc 9, 18-24

Continuação dos Comentários ao Evangelho XII Domingo do Tempo Comum – Ano –  C 2013 – Lc 9, 18-24
O EXEMPLO DO SALVADOR
A passagem apresentada neste domingo situa-se no período áureo da vida pública de Jesus, quando sua fama no mundo hebraico caminhava para o apogeu e se celebravam seus feitos por toda parte. A notícia dos milagres realizados já se espalhara por Israel, e não havia um só recanto onde não se comentasse a trajetória ascensional daquele Mestre cheio de influência e poderes sobrenaturais. Fillion comenta a importância do momento histórico e das afirmações de Cristo ora contemplados: “Chegamos a palavras e acontecimentos de altíssima importância. [...] eis aqui acontecimentos extraordinários, inclusive dentro de uma vida tão extraordinária como foi a de Nosso Senhor. Essa vida, de si tão sublime, vai subir a regiões ainda mais elevadas antes de descer ao que muito justamente se chamou de vale profundo da dor e da humilhação. Se daqui em diante Jesus se ocupa menos em instruir o povo e o vemos mais raramente em contato com ele, consagra, em troca, mais atenção ao pequeno grupo de seus Apóstolos, aos quais revelará os segredos de sua origem e missão. Assim iremos penetrando cada vez mais no coração do Evangelho”.3
De fato, o episódio deste domingo é tido como um dos pontos auges do convívio do Salvador com os discípulos, e marco importante da instituição da Igreja docente. Os evangelistas São Mateus e São Marcos relatam encontrar-Se Jesus, nesse dia, nas proximidades de Cesareia de Filipe, cidade situada em território pagão, incrustada numa região isolada e de grandiosa beleza. São Lucas, embora não ofereça maiores especificações geográficas, registra um precioso pormenor que antecedeu a confissão de Pedro e o primeiro anúncio da Paixão: o Mestre estava orando.
A oração do Homem-Deus
Certo dia, 18a Jesus estava rezando num lugar retirado, e os discípulos estavam com ele.
A oração de Jesus constitui um apaixonante mistério mencionado em diversas ocasiões ao longo dos Evangelhos. Dentre os quatro evangelistas, São Lucas mostra-se mais atento a esse detalhe, referindo-o com certa frequência. Os grandes episódios da vida de Cristo são precedidos por períodos de prece. O Evangelista menciona onze ocasiões em que Jesus reza ao Pai, embora nem sempre se detenha no conteúdo de tais colóquios.4
Dessa vez Nosso Senhor procura um lugar ermo e, sem despedir os que O seguiam, afasta-Se um pouco deles e entrega-Se a uma recolhida oração. Nossa piedade, estimulada pela grandeza do ato — o qual, de si, já bastaria para redimir a humanidade —, nos conduz à formulação de algumas perguntas: se Ele é Deus, a quem rezava? E Ele o destinatário da prece e, ao mesmo tempo, quem reza? A pluma dos teólogos torna-se débil para expressar a excelsitude do fato. Sendo Deus e Homem, e possuindo, por tal razão, duas naturezas distintas unidas na Pessoa Divina do Verbo, em Cristo encontra-se onipotência unida à humanidade, sem que esta última perca uma só de suas característitas, tais como inteligência, vontade, sensibilidade, memória, imaginação e demais faculdades.Sua prece, portanto, parte da natureza humana  dirige-se à Trindade, cuja Segunda Pessoa é Ele mesmo, sendo a  expressão da vontade de humana de Jesus, deliberada e absoluta, intercessão perfeita que deve ser atendida. Quão insondável e profunda é a oração do Mestre! Nunca conheceremos nesta vida — tão  só no Céu — a força impetratória de um pedido d’Ele, como na comovedora frase “eu roguei por ti” (Lc 22, 32), pela qual perseverou não apenas São Pedro, mas também cada um de nós.
A excelência da oração e do recolhimento
Grande é o apreço de Nosso Senhor pela oração, tanto que quis servir-Se dela para derramar graças sobre o mundo. O que podia conceder diretamente como Deus, preferiu pedir enquanto Homem, indicando à humanidade um caminho infalível e harmônico com os desIgnios divinos. Agindo dessa maneira, ensina São Cirilo de Alexandria, “constituía-se em modelo de seus discípulos”.5
Cornélio a Lápide, por sua vez, tece as seguintes considerações a propósito do valor e dos efeitos da oração: “Não há lugar nem tempo em que não devamos rezar. A oração é a coluna das virtudes, a escada da divindade, das graças e dos Anjos para descer à Terra, e dos homens para subir à montanha eterna. A oração é a irmã dos Anjos, o fundamento da fé, a coroa das almas [...]. A oração é uma corrente de ouro que liga o homem a Deus, Deus ao homem, a Terra ao Céu; ela fecha o inferno, encadeia os demônios; previne os crimes e os apaga... A oração é a arma mais forte; ela oferece uma inquebrantável segurança, é o maior tesouro; ela é o porto seguro da salvação; é o verdadeiro lugar de refúgio”.6 Com efeito, a oração faz do homem um ser mais espiritualizado, no qual prevalece a graça de Deus e aquietam-se as paixões desregradas.
O Salvador ainda nos oferece outro tocante exemplo nessa cena. Ao retirar-Se para rezar, ensina a não nos limitarmos unicamente à oração comunitária, como a participação na Eucaristia ou outros atos litúrgicos. Sem menosprezar a prece coletiva, à qual está ligada a promessa da sua presença — “onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18, 20) —, Ele mostra ser muito benfazejo rezar a sós, longe das aglomerações.

Ao contar que estava acompanhado de perto apenas pelos discípulos — pormenor que, no parecer de Bento XVI, denota o quanto eles “estão incluIdos nesse estar só, em seu reservadíssimo estar com o Pai”  —, quis o Evangelista mostrar a relação entre a oração do Divino Mestre e o elevado tema tratado por Ele a seguir.

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