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sexta-feira, 21 de junho de 2013

Evangelho XII Domingo do Tempo Comum – Ano – C 2013 Lc 9, 18-24

Conclusão dos Comentários ao Evangelho XII Domingo do Tempo Comum – Ano –  C 2013 – Lc 9, 18-24
Christianus alter Christus
23 Depois Jesus disse a todos: ‘Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me. 24 Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará”.
Voltando-se para a multidão, que até esse momento estivera guardando uma respeitosa distância do pequeno grupo, Nosso Senhor também lhe dirige a palavra. O ensinamento desses versículos nasce do ousado anúncio de seus padecimentos, e indica que, embora não fosse o momento de falar publicamente da Paixão, Ele considera oportuno instruir seus seguidores sobre o verdadeiro discipulado e a adequação dos espíritos à realidade da cruz.
Se alguém me quer seguir...”. O convite é explícito, respeitando, contudo, o livre-arbítrio, sem impor-se a ninguém à força. E preciso que os bons tenham o mérito da liberdade bem empregada, e sua adesão ao Divino Mestre deve se fundamentar no enlevo, nunca na coação. As pessoas congregadas ali em grande número não foram obrigadas a acompanhar Jesus até Cesareia de Filipe. E os Apóstolos também abandonaram as redes e os labores devido a um livre assentimento pessoal.
Pois bem, para levar à plenitude a adesão a Nosso Senhor, são indispensáveis novas renúncias, que sempre devem ser feitas por meio de um generoso sim da parte de cada um. A maior delas, sem lugar a dúvida, é a que diz respeito a si próprio, e por isso mais custa ao homem. Privado do dom de integridade, em razão do pecado original, ele vive num desequilibrio que gera um apreço desmesurado por sua própria pessoa, levando-o, quando não é santo, a amar-se e a enaltecerse de maneira pecaminosa. Ora, o perfeito amor a Deus não se atinge por meio da condescendência com essa má inclinação, mas pela entrega total do próprio ser Aquele que nos criou. A renúncia a si mesmo em benefício da glória de Deus torna-se uma exigência da fidelidade a Ele.
Abraçar a cruz significa assumir com radicalidade o cumprimento da vocação específica, recebida desde o Batismo. E fácil aceder ao chamado divino quando esse convite desponta em nosso interior soprado pelo vento favorável das consolações. Com o início das dificuldades de cada dia, em meio à aridez, aos padecimentos físicos ou morais, à perseguição ou aos atractivos do mundo, faz-se necessário abraçar o ideal e segui-lo por amor, tal como o exemplo de Nosso Senhor ao carregar a cruz com alegria, apesar de estar imerso num oceano de amargura. E suas dores foram incomparavelmente maiores do que as nossas, pois Jesus não nos pede nada que Ele mesmo não tenha padecido antes, em grau superlativo.
Têm sido extensos os comentários dos teólogos a respeito da interpretação desse impressionante versículo 24, onde se torna claro como o valor da vida eterna sobrepuja o da terrena, merecendo, inclusive, o alto preço do martírio. Entretanto, podemos ressaltar que “ganhar a vida” significa também ter uma existência pautada pelos Mandamentos, visando como objectivo a santidade. Em nossa época, na qual os homens pagam qualquer tributo para trilhar uma carreira brilhante e construir um nome de prestígio, lucraria muito quem meditasse nessa passagem, pois no afã de se obter um êxito mundano pode-se rumar para o inferno.
A CRUZ, FONTE DE FELICIDADE
Em suma, o Evangelho deste 12º Domingo do Tempo Comum nos proporciona elementos para um exame de consciência: qual tem sido nossa postura perante a cruz com que Nosso Senhor Jesus Cristo passa diante de nós e nos convida a segui-Lo? Temos grandeza de alma para integrar número de seus seguidores que têm espírito consequente, ou, mesmo nos deixando maravilhar pela sublimidade de seu ensinamento, somos iludidos pela atração das coisas pecaminosas, a exemplo dos filhos das trevas? Seremos contados no número dos que procuram a terceira posição, harmonizando o bem com o mal, numa união ilegítima?

A Liturgia de hoje nos aponta a solução para um dos maiores males do angustiante século em que vivemos, no qual a humanidade se utiliza de todos os meios tecnológicos, médicos e sociais para evitar a dor, e padece, como nunca, de angústias inenarráveis. A primeira vista, parece um mistério o fato de nunca terem existido tantas possibilidades de bem-estar e, simultaneamente, sermos flagelados por toda espécie de catástrofes. Isto se deve a que fugimos da cruz por desconhecermos a imensa felicidade oferecida por eia quando é abraçada com alegria. A medida que adequamos todo o nosso modo de ser, perspectivas, visualizações, desejos, pensamento, dinamismo, atividade e tempo em função de Nosso Senhor, somos invadidos por uma paz interior que a nada pode ser comparada. Descem as bênçãos do Alto e operam-se as maravilhas da graça. Com razão afirma o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira: “A graça do enlevo pelas coisas celestes, pelas coisas de Deus, proporciona a uma pessoa coragem para que ela carregue grandes cruzes como se fossem pequenas. Quer dizer, esse amor latente por Deus, por Nossa Senhora, pelas grandezas do Céu age com tal profundidade no homem que, por um ato de consentimento livre, consciente — e ao mesmo tempo subconsciente, o que parece paradoxal, porém verdadeiro —, ele se deixa transformar. E o amor à Cruz é o sintoma dessa mudança de mentalidade”.17 Assim, conformados com o Divino Redentor, estaremos aptos não só a reconhecê-Lo como o verdadeiro Messias, confessando com São Pedro: “Tu és o Cristo de Deus”, mas diremos também com o chefe da Igreja, desta vez com um timbre de autenticidade que somente a cruz é capaz de oferecer: “Senhor, sabes tudo, tu sabes que te amo” (Jo 21, 17). 
1) SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT, apud ABAD, SJ, Camilo María. Introducción General, c.VI, n.32. In: Obras de San Luis María Grignion de Montfort. Madrid: BAC, 1954, p.66.
2) SÃO LUÍS MARTA GRIGNION DE MONTFORT. Carta circular a los Amigos de la Cruz, n.15. In: Obras de San Luis María Grignion de Montfort, op. cit., p.236- 237.
3) FILLION, Louis-Claude. Vida de Nuestro Señor Jesucristo. Vida pública. Madrid: Rialp, 2000, v.11, p.269.
4 Cf. Lc 3, 21; 5 9, 18; 10, 21; 11, 1; 22, 31-32; 22, 3, 46.
5) SÃO CIRILO DE ALEXANDRIA, apud SÃO TOMÁS DE AQUINO. Catena Aurea. In Lucam, c.IX, v.18-22.
6) CORNELIO A LÁPIDE. Lib. I de Orat., apud BARBIER, SJ, Jean-André (Org.). Les trésors de Cornelius a Lapide. 6.ed. Paris: Ch. Poussielgue, 1876, v.I’vÇ p.147.
7) BENTO XVI. Jesús de Nazaret. Desde el Bautismo a la Transfiguración. Bogotá: Planeta, 2007, p.341.
8) SÃO JOÃO CRISÓSTOMO. Homilía XIX, nl. In: Homilías sobre el Evangelio de San Juan (1-29). 2.ed. Madrid: Ciudad Nueva, 2001, p.241.
9) SÃO TOMÁS DE AQUINO. Super Matthæum. C.16, lect.2.
10) SAO CIRILO DE ALEXANDRIA. Comentario al Evangelio de Lucas, 9, 18,apud ODEN, Thomas C.; JUST, Arthur A. La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia.Evangelio según San Lucas. Madrid: Ciudad Nueva, 2006, vIII, p.224.
11) Cf. SAO TOMAS DE AQUINO, Super Matthæum, op. cit.
12) FILLION, op. cit., p.272.
13) BENETTI, Santos. Caminando por el desierto. Ciclo C. Madrid: Paulinas, 1985,p.70.
14) VEUILLOT, Louis. Vida de Jesus. São Paulo: Jornal dos livros, [s.d.], v.11, p.131.
15) SANTO ANIBRÓSIO. Tratado sobre el Evangelio de San Lucas. LVI, n.100. In: Obras. Madrid: BAC, 1966, v.1, p.338.
16) LAGRANGE, OP, Marie-Joseph. Évangile selon Saint Luc. 4.ed. Paris: J. Gabalda, 1927, p.266.
17) CORREA DE OLIVEIRA, Plinio. A “Carta Circular aos amigos da Cruz” — I. Enlevo e holocausto. In: Dr Plinio. São Paulo. Ano X. N.112 (Jul., 2007); p.12.

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