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quarta-feira, 19 de junho de 2013

Evangelho XII Domingo do Tempo Comum – Ano – C 2013 Lc 9, 18-24

Continuação dos Comentários ao Evangelho XII Domingo do Tempo Comum – Ano –  C 2013 – Lc 9, 18-24
Espera de um falso Messias
Os Apóstolos, como todos em Israel, aguardavam com sofreguidão o advento do Messias prometido por Deus e anunciado pelos profetas. Uma santa expectativa norteava a vida de cada judeu, fazendo convergir para esse personagem mitificado todos os seus anseios de felicidade. Em si mesmo, tal impulso deve ser tido não somente como legítimo, mas também como uma reação salutar à paganização da sociedade daquele tempo e sinal de fidelidade às promessas da Escritura. Caso não procedessem assim, dariam os hebreus mostras de uma reprovável tibieza. Era Deus que, em sua admirável Providência, os vinha preparando para a chegada de seu ungido. Haviam passado mais de quatro séculos da morte de Malaquias, e depois dele nenhum outro profeta erguera a voz entre os filhos de Abraão. Esse silêncio, acrescido às vicissitudes históricas que tiveram como palco a Palestina, nesse extenso período, concorria para compenetrá-los da importância e necessidade de tal varão.
Entretanto, uma deformação se estabelecera na mentalidade do povo eleito — e, por conseguinte, na dos Apóstolos — a respeito da índole da missão desse enviado. O Messias, o Cristo de Deus, não era para eles senão aquele que viria estabelecer a dominação dos judeus sobre os outros povos, resolver todos os problemas políticos, sociais e, sobretudo, financeiros do país; traria ele, antes de mais nada, uma felicidade humana. Ou seja, seria a súmula de uma espécie de super Moisés, de super Davi e de super Salomão, personagens que tinham levado a nação israelita a um auge de glória e fizeram tremer os estrangeiros. Ao lado de tão formidável poderio, pensavam eles, o Messias também seria um homem justo, cumpridor da Lei e temente a Deus, tal como os maiores expoentes do judaísmo. Coadunaria uma religiosidade exemplar com o despotismo dos césares, o respeito à Torá com o desrespeito aos gentios: numa palavra, seria o imperador da terceira posição. Com esse Messias haveria alguém que, por fim, traria todos os benefícios e extirparia todos os males de Israel. Que imensa vitória! Por isso, Nosso Senhor faz aos Apóstolos uma nova revelação, logo após a declaração de Pedro, para todos inesperada. Primeiro Ele determina sigilo sobre sua origem, como se dissesse: “Não queirais jamais ensinar que Eu sou esse Messias que estais pensando. Sim, sou o Messias, mas não o que vós sentis e pretendeis. O Cristo que havereis de anunciar é o que Eu mesmo vos revelarei”.13 Depois, para extirpar o erro e educá-los adequadamente, Jesus, no dizer de Louis Veuillot, “sem lhes deixar formar qualquer ideia agradável da glória que os esperava, rasgou o véu do porvir, e mostrou-lhes o Calvário”.14
Sofrimento: a marca do Salvador
22 E acrescentou: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos ancios, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia”.
“Tanto quanto o céu domina a Terra, tanto é superior à vossa a minha conduta e meus pensamentos ultrapassam os vossos” (Is 55, 9). Enquanto o povo esperava um Messias terreno, Nosso Senhor vinha trazendo o resgate da dívida infinita contraída com o Pai pelo pecado, o que nenhum homem, por mais santo e perfeito que fosse, poderia fazer. Não há termo de comparação para exprimir a superioridade da Redenção perante o mais esplendoroso dos impérios humanos, e, portanto, do que o Messias trazia aos judeus, comparado com o reino material que eles aguardavam.
Não obstante, para o pleno cumprimento de tão alta missão, era necessária a expiação na Cruz, a imolação do Filho de Deus. E essa declaração — que contradiz de forma contundente os sonhos de olhos abertos dos Apóstolos — é feita por Jesus com todo o seu realismo. Santo Ambrósio reconhece a dificuldade dos Doze em admitir o prenúncio da Paixão e comenta: “Quiçá porque sabia o Senhor que era difícil acreditar no mistério da Paixão e Ressurreição, mesmo tratando-se de seus discípulos, quis ser Ele mesmo o anunciador”.15 Já os vaticínios dos profetas do Antigo Testamento apontavam para um Messias padecente, fato de que ninguém queria se lembrar. Nosso Senhor, despertando-os de uma profunda letargia, mostra que seria desprezado pelo poder vigente, por aqueles sem cuja aprovação — ponderavam os Apóstolos — não se estabeleceria o reinado messiânico. Ele quebra, desse modo, o apoio psicológico depositado em homens de falsa sabedoria, indicando serem precisamente estes os que tramariam a sua morte.

Então Jesus, o Mestre, seria morto! Sim, “é preciso estabelecer para sempre a verdadeira natureza da salvação trazida por Cristo; ela é operada pelos seus sofrimentos e pela sua morte”.16 A impressão produzida foi tão forte que os Apóstolos parecem não prestar atenção no anúncio da ressurreição ao terceiro dia. Quiçá tenha sido esse pasmo que os fez omitir novas perguntas sobre como se daria tal holocausto. Sem embargo, era chegado o momento de conhecerem o plano de Deus ao enviar o Filho Unigênito, uma vez que o Pai desejava conferir-Lhe toda honra e toda a glória e eles estavam a poucos meses desse acontecimento pinacular. 

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