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quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Evangelho 19° domingo do Tempo Comum – Ano C – 2013 Lc 12, 32-48

Continuação dos comentários ao Evangelho 19º Domingo Tempo Comum Ano C 2013
Evangelho Lc 12, 32-48 
Exortações de Jesus aos Discípulos
32 Não temais, ó pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino.
Logo após a parábola do rico insensato (vs. 16-21), Lucas encadeia uma série de conselhos do Divino Mestre sobre a necessidade de antes — e acima de tudo — buscar-se o Reino de Deus e sua justiça, pois, assim procedendo, o resto nos será dado por acréscimo. Porém, dada a força de nossa concupiscência, os sentidos dificultam a prática destes conselhos, por mais sapienciais que sejam. A doutrina convence, mas “a carne é fraca”. Justamente nesse ponto se concentra o temor: como abandonar-nos nas mãos da Divina Providência? Daí a ênfase deste “não temais”.
A “pequenina grei” dos escolhidos
Além disso, confere-lhes o título de “pequenino rebanho”, figura que com certa frequência encontramos ao percorrer as páginas do Antigo Testamento, dado o caráter pastoril da sociedade nesse longo período histórico.
Sobre o porquê desse título dado aos discípulos, múltiplas são as hipóteses entre os autores. Teofilato assim comenta: “O Senhor chama de pequenino rebanho àqueles que querem ser seus discípulos, seja pelo motivo de, nesta vida, os santos parecerem pequenos, em virtude de sua pobreza voluntária, seja pelo fato de serem superados pela multidão dos anjos, cujo número é incomparavelmente maior” (7).
Beda analisa o referido título debaixo de outro prisma: “O Senhor denomina também de pequenina grei os escolhidos, comparando-os com o número maior de réprobos ou, mais ainda, por seu amor à humildade” (8).
Na realidade, a Igreja nascente era minúscula em porte, número e força, não passava ela de um grãozinho de mostarda. Aqueles poucos não deveriam temer que lhes viesse a faltar o necessário para sua subsistência própria, pois o Pai, por um efeito de seu amor gratuito, lhes havia concedido o seu Reino. Que Pai e que Reino! É Ele o próprio Deus e Soberano Senhor, onipotente e absoluto, para o qual não há obstáculo capaz de impedi-Lo na determinação de suas vontades.
Não se trata de um reino terreno: “Meu Reino não é deste mundo” (Jo 18, 36), disse Jesus a Pilatos. Se fosse um reino em qualquer parte da terra, estaríamos sôfregos por recebê-lo o quanto antes e empreenderíamos todos os esforços para possuí-lo. Este Reino é eterno e celestial. Por isso é indispensável a esse “pequenino rebanho” ter uma plenitude de reciprocidade em relação a tão dadivoso Pai. Jesus nos dá a garantia de sua palavra absoluta. “Manifesta a razão pela qual não devem temer, acrescentando: ‘porque agradou a vosso Pai’, etc. Como se dissesse: ‘Como deixará de ser clemente convosco Aquele que dá graças tão extraordinárias?’ Mesmo sendo pequenino esse rebanho (por sua natureza, seu número e sua glória), a bondade do Pai lhe concedeu o destino dos espíritos celestiais, isto é, o Reino dos Céus” (9).
É belo o comentário de Maldonado à segunda parte deste versículo: “Cada uma dessas palavras tem especial sentido e doçura. Diz ‘agradou’, mostrando a particular benevolência e liberalidade de Deus para com eles; diz ‘a vosso Pai’, chamando Deus de pai deles, o qual, enquanto pai, não pode esquecer esquecer-se de seus filhos (Is 49, 15); acrescenta: ‘dar-vos’, como a filhos e herdeiros seus, ‘o Reino’, ou seja, o reino celestial e eterno, não o terreno e temporal” (10).
“Vendei o que possuís”, um conselho de Jesus
33 Vendei o que possuís e dai esmolas; fazei para vós bolsas que não envelhecem, um tesouro inesgotável no Céu, onde não chega o ladrão, nem a traça corrói. 34 Porque onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.
No início do Cristianismo, era comum os primeiros fiéis seguirem à risca este conselho e, ainda hoje, encontram-se alguns casos nessa linha. Ele, em sua essência, incide sobre dois pontos:
- Em primeiro lugar, nossa propriedade se constitui não só de bens materiais ou riquezas, mas também de toda sorte de possíveis apegos: ciência, erudição, amizade, comodidades, prazeres lícitos (e mais intensamente ainda os ilícitos, quando a eles nos entregamos), etc. Quanto mais desapegado esteja nosso coração dos objetos terrenos, quer sejam do espírito, quer da matéria, tanto mais gozaremos da felicidade no tempo e incomensuravelmente mais na eternidade.
- Um segundo ponto diz respeito à obrigatoriedade, sim ou não, de vender o que se possui e dar esmolas. Poderíamos a este propósito levantar, com Maldonado, a seguinte pergunta: “Como, porém, aqui Cristo manda a todos, em geral, vender tudo o que têm e dar aos pobres, sendo que em outra passagem (Mt 19, 21) aconselha isso só àqueles que querem ser perfeitos? A resposta não é difícil: ou aqui Ele fala apenas aos discípulos, os quais queriam ser perfeitos, ou, se fala a todos os cristãos, refere-se à disposição de espírito, como dizem os teólogos. Porque, embora não seja a todos necessário vender tudo quanto tenham, deve-se, isto sim, enquanto cristão, ter a disposição de espírito de vender todos os seus bens, se for preciso, para não perder Cristo” (11).
Dar na terra para receber no Céu
Ainda uma palavra sobre os benefícios recebidos por quem dá esmolas. De si, mais lucra quem dá do que quem recebe: “É maior ventura dar, que receber” (At 20, 35). “Não há pecado que a esmola não possa apagar. Contudo, a esmola não se faz apenas com dinheiro, mas também pelas obras, como quando alguém protege um outro, quando um médico cura ou quando um sábio aconselha” (12).
Daí ser um inesgotável tesouro no Céu nossa riqueza distribuída aos necessitados, aqui na terra. As virtudes praticadas diante de Deus para prestar-Lhe culto e louvor, as boas obras, os conselhos dados a outros, o instruir, orar pelos aflitos e necessitados, como também dar esmolas, constituem um tesouro no Céu. Nessa categoria se incluem: a invocação aos santos, a confiança em sua intercessão, a frequência aos Sacramentos, como também todo ato de piedade e qualquer obra santa.
Voltar o coração para os tesouros eternos
Pelos costumes da época, a bolsa para moedas era de uso comum aos homens e às mulheres. Tratava-se de peças de tecido que, apesar de reforçadas, poderiam vir a desgastar-se com o tempo ou ser danificadas pela traça, ficando assim em risco seu conteúdo. Bem pior era a situação, quando a habilidade de algum ladrão fazia desaparecer essas bolsas de seu lugar habitual, para ali não mais retornarem.
Pela força de sua própria natureza, não pode o homem deixar de buscar a felicidade, quer seja neste mundo, quer na eternidade, onde ele coloca o objetivo de seus anseios. Abandonado às inclinações de sua concupiscência, ele se entregará às volúpias da matéria e nela colocará o seu coração.
O exemplo de Maria
Foi Maria quem, de dentro de nossa natureza, elevou sua alma virginal a engrandecer o Senhor e a fazer d’Ele seu tesouro. De sua fidelidade nasceu uma nova raça que São Luís Grignion de Montfort denomina “a raça da Virgem”, raça esta que constitui o calcanhar da Soberana Senhora, chamada a esmagar a cabeça da serpente. Ela nos ensina a, desta terra, fazer uma escola preparatória para o Céu, pois os tesouros aqui perecem, são vis, frequentemente nos degradam, afligem e nos empobrecem. A morte no-los arrancadas mãos, de maneira implacável.

O oposto se dá com os tesouros do Céu: eles nos enobrecem, consolam e nos asseguram uma eternidade feliz. A própria morte nos confere a posse irreversível destes bens.

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