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quarta-feira, 21 de maio de 2014

Comentário ao Evangelho – VI Domingo da Páscoa – Ano A – Jo 14, 15-21

Continuação dos comentários ao Evangelho – VI Domingo da Páscoa – Ano A – Jo 14, 15-21

III – Preparação para a descida do Espírito Santo
15b “...e Eu rogarei ao Pai, 16 e Ele vos dará um outro Defensor, para que permaneça sempre convosco:”
O termo Defensor — Paráclito, tradução do original grego Parakletos — significa etimologicamente “chamado a auxiliar”, como o vocábulo latino Advocatus. Quando Se refere ao Espírito Santo como Defensor, Nosso Senhor emprega essa palavra no sentido de Advogado. Cabe ao advogado a função de defender em juízo a causa de seus clientes, apresentando todos os argumentos e provas para que estes não sejam condenados.
Ora, dada a contingência humana, todos nós cometemos faltas. Como afirma São João, com exceção apenas de Nossa Senhora e do próprio Jesus Cristo, Homem Deus, quem diz que não tem pecado é um mentiroso (cf. I Jo 1, 8).
Assim, todos somos réus e, com razão, tememos a justiça divina. Como nos apresentaremos diante do Juiz com essas lacunas, sem termos a integridade de que nos fala o versículo anterior? Por essa razão, o Divino Pastor nos promete enviar o Defensor para nos auxiliar na prática da Lei.
De fato, quando agimos bem, devemos ter certeza absoluta de que nossa boa ação não é fruto de nossa pobre natureza decaída, mas sim do indispensável auxílio da graça divina. Santa Teresinha experimentava claramente esta insuficiência ao escrever: “Sentimos que, sem o socorro divino, fazer o bem é tão impossível como trazer de volta o Sol ao nosso hemisfério durante a noite”.8
Esse Defensor, afirma ainda Nosso Senhor, permanecerá para sempre conosco. Ou seja, estará agindo sem cessar, protegendo e consolando, embora não na mesma intensidade, e por vezes de modo imperceptível. Cabe-nos, assim, ouvirmos o que Ele nos diz no fundo da alma, seguindo os princípios e os ditames de nossa consciência. Para isso também, temos necessidade de uma graça divina.
Se formos fiéis a essas inspirações, teremos um Advogado contra as acusações apresentadas por nossa consciência e aquelas que o demônio fará a cada um de nós, no Juízo Particular. Oposição entre o Espírito Santo e o mundo
17a “o Espírito da Verdade, que o mundo não é capaz de receber, porque não O vê nem O conhece”.
O que leva o mundo a não ver nem conhecer o Espírito da Verdade?
Quem resolve seguir princípios contrários à Lei de Deus, procura deformar e aquietar a sua consciência, para não ouvir a voz do Espírito Santo que está sempre a indicar-lhe as retas vias da virtude e da santidade à qual todos — sem qualquer exceção — são chamados, conforme a doutrina bem explicitada pelo Concílio Vaticano II: “Jesus, mestre e modelo divino de toda a perfeição, pregou a santidade de vida, de que Ele é autor e consumador, a todos e a cada um dos seus discípulos, de qualquer condição: ‘Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito’ (Mt 5, 48) [...] É, pois, claro a todos que os cristãos, de qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade”.9
Participar do relacionamento entre as três Pessoas divinas
17b “Vós O conheceis, porque Ele permanece junto de vós e estará dentro de vós. 18 Não vos deixarei órfãos. Eu virei a vós. 19 Pouco tempo ainda, e o mundo não mais Me verá, mas vós Me vereis, porque Eu vivo e vós vivereis. 20 Naquele dia sabereis que Eu estou no meu Pai e vós em Mim e Eu em vós”.
A cena é emocionante. Nesse discurso de despedida, Nosso Senhor quer deixar patente que cada um de nós, batizados, faz parte desse relacionamento de familiaridade entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Como o Pai está no Filho, a Trindade estará em mim, se eu amar a Deus e cumprir a Lei. O Espírito Santo estará em mim, e serei templo vivo d’Ele.
Como devemos, pois, cuidar desse templo, desse tabernáculo que somos nós mesmos, nunca permitindo que nele entre a desordem do pecado!
Não existe amor sem humildade
21a “Quem acolheu os meus mandamentos e os observa, esse Me ama”.
Aqui o Divino Mestre retoma a ideia do início do Evangelho deste domingo: amar a Deus sobre todas as coisas significa praticar os Mandamentos. Nisto consiste a prova do verdadeiro amor.
Ora, podemos dizer que a base fundamental para acolher os Mandamentos da Lei de Deus se chama humildade. O orgulhoso confia em si, julga-se capaz de tudo e, por isso, não verá necessidade de crer num Deus onipotente. Para acolher os Mandamentos, deve-se rejeitar aquilo a que a natureza humana decaída aspira: ser considerada deus. A partir do momento em que a pessoa se inclina ao pecado, começa a ceder em matéria de orgulho ou de sensualidade, e se não receber uma proteção muito especial da graça, ela irá até o último limite do mal.
Observa a este propósito o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira: “Como os cataclismos, as más paixões têm uma força imensa, mas para destruir. Essa força já tem potencialmente, no primeiro instante de suas grandes explosões, toda a virulência que se patenteará mais tarde nos seus piores excessos”.10
O perigo das concessões
De fato, as concessões ao pecado comparam-se a uma pequena bola de neve que se desprende do alto do monte, vai crescendo à medida que desce e acaba provocando uma avalanche. Aparentemente insignificantes no princípio, se não forem combatidas, podem levar a alma ao extremo desta absurda pretensão: “Hei de subir até o céu e meu trono colocar bem acima das estrelas divinas, hei de sentar-me no alto das montanhas pelas bandas do norte, onde os deuses se reúnem! Vou subir acima das nuvens, tornando-me igual ao Altíssimo” (Is 14, 13-14).
O delírio de querer ser Deus está incrustado em todo defeito consentido. Ilustra bem isso a tentação proposta a Eva pelo demônio, incitando- a a comer do fruto proibido: “No dia em que dele comerdes [...] sereis como deuses” (Gn 3, 5). Comer do fruto da árvore da ciência do bem e do mal era a única proibição que havia no Paraíso! Contudo, Adão caiu, e seu pecado produziu, segundo Lacordaire, “efeitos desastrosos, tais como o obscurecimento do espírito, o enfraquecimento da vontade, o predomínio do corpo sobre a alma e dos sentidos sobre a razão, consequências lamentáveis que nos são por demais reveladas pela experiência que fazemos, em nós mesmos, do império do pecado”.11
Até hoje a humanidade inteira padece as consequências dessa primeira transgressão a uma ordem de Deus, cometida no Paraíso. E Nosso Senhor Jesus Cristo teve de encarnar-Se e voluntariamente derramar todo o seu sangue para repará-la. Por aí se mede quanto precisamos de vida interior, de oração e de vigilância para cortarmos logo no início tudo quanto possa nos conduzir ao pecado.

O contrário desta situação nos é dado pelo maravilhoso convite do versículo seguinte.
Continua no próximo post.

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