CONTINUAÇÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO DO IV DOMINGO DA QUARESMA ANO C 2013 - Lc 15,1-3;11-32
A PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO
“Irei ter com meu pai”
“Tendo entrado em
si, disse: Quantos diaristas há em casa de meu pai que têm pão em abundância e
eu aqui morro de fome!” — A fome, a dor e a provação, acompanhadas da graça de Deus,
bem podem nos conduzir a um raciocínio equilibrado e produzir em nós uma real
conversão e emenda de vida. A comparação entre os benefícios das sendas virtuosas
e as frustrações das avenidas do pecado, produziu a restauração através de uma
forte resolução: “Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e dir-lhe-ei: Pai,
pequei contra o céu e contra ti, já não sou digno de ser chamado teu filho,
trata-me como a um dos teus diaristas. Levantou-se e foi ter com o pai.”
O CONTRASTE ENTRE DUAS JUSTIÇAS
Símbolo do Sacramento da Reconciliação
As reações do pai não poderiam ser mais comovedoras em
matéria de bondade e ternura. Certamente há muito ansiava rever seu filho e por
ele rezava. Ao avistá-lo a boa distância, sentiu-se penetrado de afetuosa
compaixão e, apesar de sua idade, saiu ao seu encontro sem lentidão, muito pelo
contrário, “correndo”. Recordemos de onde vinha aquele pobre miserável! De
chiqueiros, nos quais disputava com os porcos seu alimento. Apresentava-se,
pois, como um verdadeiro maltrapilho, nada limpo, totalmente impróprio para ser
abraçado. Entretanto, o pai se lançou ao seu pescoço e o cobriu de beijos.
A certa altura da
confissão de suas faltas, o pai o interrompeu, manifestamente não querendo
ouvi-la por inteiro, e deu ordem aos empregados a que se apressassem em trazer-lhe
a mais rica vestimenta, sandálias e anel.
22 Porém, o pai disse aos servos: Trazei
depressa o vestido mais precioso, vesti-o, metei-lhe um anel no dedo e as
sandálias nos pés
Quanta simbologia nesse curto versículo 22!
O filho, além de ter-se esquecido longamente de seu pai,
havia esbanjado seus bens. É a imagem do efeito do pecado na alma de um
batizado: o despoja dos méritos, dons e virtudes; priva-o das belas roupas
sobrenaturais; sobretudo, rouba-lhe o incomensurável privilégio da adoção
divina, e o faz retornar ao estado de mera criatura, e ainda manchada pela lama
da ofensa a Deus. Porém, ao acusar suas misérias no confessionário e receber a
absolvição, o homem é revestido dos mais preciosos tecidos da reconciliação, as
sandálias dos méritos lhe são devolvidas e o anel de filho de Deus recolocado
em seu dedo.
O pai não quer vê-lo com nenhum dos sinais que possam
recordar a anterior vida pecadora e, como se esses gestos não bastassem, ordena
que preparem uma festa, matando um “vitelo gordo” — indicando assim o caráter
solene do banquete, porque normalmente se mataria um cordeiro ou um cabrito.
A razão alegada para tal comemoração é a mesma formulada por
Jesus: “Haverá maior alegria no Céu por um pecador que fizer penitência que por
noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento” (Lc 15, 7). O filho
se tinha perdido, o filho estava morto, e era incalculável o júbilo daquele
reencontro.
Essa é a perfeita imagem da justiça divina, toda feita de
misericórdia. Vejamos agora a reprodução metafórica da “justiça mundana” nas
reações do filho mais velho.
Continua no próximo post.
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