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quarta-feira, 3 de abril de 2013

Evangelho — 2º Domingo da Páscoa Jo 20, 19-31 Ano C 2013


Continuação dos comentários ao Evangelho — 2º Domingo da Páscoa Jo 20, 19-31  Ano C 2013
Jesus envia os apóstolos
20 Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se muito ao ver o Senhor.
Tudo leva a crer que estavam dez Apóstolos no Cenáculo, e, como anteriormente comentávamos, um forte medo dominava a todos. Embora João omita a afirmação de Lucas: “Acreditavam estar vendo um espírito”, a pergunta que Jesus lhes faz mostra o estado de espírito em que se encontravam: “Por que vos perturbais? (24, 37-38). Compreende-se o temor de todos, vendo o Senhor entrar quando estavam bem fechadas as portas e janelas, pois não conheciam ainda o ensino teológico a respeito das características dos corpos gloriosos, e nem sequer lhes cruzava a mente uma consideração que seria formulada por Santo Agostinho nos seguintes termos: “As portas fechadas não podiam impedir a passagem a um corpo no qual habitava a Divindade; assim pôde penetrar as portas Aquele que, ao nascer, deixou imaculada sua Mãe” (4).
“Mostrou-lhes as mãos e o lado”
Essa é a razão pela qual Ele chama a atenção dos Apóstolos para suas chagas, ou seja, para tornar patente tratar-se de Quem foi crucificado, morreu e ressuscitou. Os autores são unânimes a propósito dessa observação, como, por exemplo, Santo Agostinho: “Os cravos haviam transpassado as mãos, a lança havia aberto o costado, e as feridas foram conservadas para curar o coração dos que duvidavam” (5).
Três questões emergem deste versículo:
1) Como foi possível aos Apóstolos contemplar a glória de Jesus ressurrecto, sendo que, no Tabor, três deles não haviam suportado vê-Lo em sua transfiguração?
A isso responde Santo Agostinho: “É de crer-se que a claridade com a qual, como o sol, resplandecerão os justos em sua ressurreição, foi velada no corpo de Cristo ressurrecto aos olhos dos discípulos, porque a debilidade do olhar humano não a teria podido suportar, e era necessário que eles O reconhecessem e ouvissem” (6).
2) Sendo as cicatrizes um defeito produzido por ferimentos, como puderam se conservar no Sagrado Corpo do Senhor?
Das mais variadas formas se expressam os autores a esse respeito, mas são concordes em observar que se trata de cicatrizes de triunfo e, portanto, gloriosas e não defectivas. No Céu, todos os mártires trarão à mostra suas cicatrizes como símbolo triunfante de seu testemunho, tal qual na terra o fazem os militares vencedores em suas batalhas.
3) Os Apóstolos apenas viram as chagas, ou também as tocaram? Tomé terá sido o único a apalpar as cicatrizes do Senhor?
O Evangelista João afirma apenas que Jesus mostrou suas chagas. Lucas vai mais longe: “Apalpai e vede, porque um espírito não tem carne nem osso” (24, 39).
Entretanto, o dito de São João em sua primeira Epístola: “O que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos, o que tocamos com as nossas mãos relativamente ao Verbo da Vida” (1, 1), e a condição posta por São Tomé para dar sua adesão de fé: “Se não vir nas suas mãos ... se não meter a minha mão” (v. 25), levam os autores à conclusão de que, de fato, não só Tomé, mas também os outros tocaram nas Santas Chagas de Jesus.
Qual não deve ter sido a consolação dos Apóstolos ao tocarem no Sagrado Corpo do Salvador? Nós hoje temos a graça, não de tocá-Lo, mas, muito mais, de recebê-Lo em Comunhão.
Oh! sacrossantas chagas, manancial de toda santidade, quantos dons receberam os Apóstolos ao tocá-las!
Sem embargo, o fato de Jesus as haver mostrado nessa ocasião não significa que Ele deva sempre ostentar os sinais de sua Paixão. Apareceu como um peregrino aos discípulos de Emaús, e, para a fé robusta de Madalena, não só Se apresentou sem as chagas, como não lhe permitiu que O tocasse, para não diminuir os seus méritos. Aos Apóstolos, convida-os a apalparem-nas por razões didáticas. A forma de apresentar-Se depende de sua vontade e conveniência.
A alegria que sentiram eles, nessa ocasião, era o cumprimento da promessa do próprio Salvador: “Outra vez vos verei e alegrar-se-á vosso coração” (Jo 16, 22).
Jesus lhes dá o Espírito Santo
21 Ele disse-lhes novamente: “A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também vos envio a vós”.
Jesus deseja-lhes novamente a paz. Ele os quer serenos e confiantes para receberem a grande missão que lhes outorgará. Com a mesma autoridade com a qual o Pai enviou o Filho, este envia seus discípulos. Essa autoridade reside n’Ele enquanto Homem: “Foi-me dado todo o poder no céu e na terra” (Mt 28, 18); e enquanto Deus, Ele a possui por natureza. Os Apóstolos são “enviados”, portanto, possuem um poder por delegação.
“ Tendo dito estas palavras, soprou sobre eles e disse-lhes: “Recebei o Espírito Santo”.
A exegese se inclina a interpretar esta passagem no sentido de que Cristo não soprou sobre cada um dos Apóstolos, mas o fez somente de modo genérico, o que era suficiente para todos, incluindo o próprio Tomé, ausente naquele momento.
Como entender a anterior afirmação de Jesus: “A vós convém que Eu vá, porque, se não for, o Paráclito não virá a vós; mas, se for, Eu vo-Lo enviarei” (Jo 16, 7)?
É preciso distinguir entre “enviar” e “dar”. No presente versículo, Jesus “dá” aos Apóstolos o Espírito Santo com o único objetivo — conforme veremos a seguir — de conferir-lhes o poder de perdoar os pecados, um dos vários dons do mesmo Espírito. Em Pentecostes, sim, foi “enviado” sobre Maria e as demais pessoas reunidas no Cenáculo, o Espírito Santo, com seus dons.
A esse propósito diz Santo Agostinho: “O sopro corporal da boca [de Cristo] não foi a substância do Espírito Santo, mas uma conveniente demonstração de que o Espírito Santo não procede somente do Pai, mas também do Filho” (7).
E São Gregório Magno acrescenta: “Por que razão Ele O dá a seus discípulos, primeiro quando ainda está na terra, para depois o enviar do Céu? Porque são dois os preceitos da caridade: o do amor a Deus e o do amor ao próximo. Na terra foi dado o Espírito de amor ao próximo, e do Céu, o Espírito de amor a Deus; (...) porque o amor ao próximo nos ensina como podemos chegar ao amor a Deus” (8).
O Sacramento da Reconciliação
23 “ Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhe-ão perdoados, àqueles a quem retiverdes, ser-lhe-ão retidos”.
É em função destas palavras do Sumo e Eterno Sacerdote que os presbíteros são constituídos ministros do Sacramento da Penitência e juízes dos pecados, com a faculdade de retê-los ou de perdoá-los. Ministério de indizível elevação, mas que exige luzes, prudência, pureza de coração e, sobretudo, zelo pelas almas. “Noblesse oblige!”, dizem os franceses. E isso a tal ponto que São João Crisóstomo chega a opinar: “Um sacerdote que levasse uma vida bem ordenada, mas não cuidasse com diligência da dos outros, seria condenado com os réprobos” (9).
Por outro lado, esse ministério pervade de consolação o coração dos fiéis, pois, apesar de tornar-lhes necessária a confissão, confere-lhes a certeza do perdão. E mesmo se retiver algum pecado, o sacerdote assim procederá para melhor proveito do penitente, quando, de futuro, este se vir perdoado. Nós hoje tomamos com naturalidade essa incomensurável dádiva de termos à disposição nossa o Sacramento da Reconciliação, mas é ele tão extraordinário que nossa limitada inteligência não alcança circundá-lo inteiramente.
Continua no próximo post.

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