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quinta-feira, 4 de abril de 2013

Evangelho — 2º Domingo da Páscoa Jo 20, 19-31 Ano C 2013


Continuação dos comentários ao Evangelho — 2º Domingo da Páscoa Jo 20, 19-31  Ano C 2013

O apóstolo incrédulo
24 Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. 25 Os outros discípulos disseram-lhe: “Vimos o Senhor!” Mas ele respondeu-lhes:” Se não vir nas suas mãos abertura dos cravos, se não meter a minha mão no seu lado, não acreditarei”.
Embora não haja uma expressa indicação nos Evangelhos, deduz-se pelos fatos narrados que os Apóstolos se dispersaram durante a Paixão. Ademais, parece que não viviam juntos em Jerusalém até a ordem dada pelo Senhor por ocasião da Ascensão (10). A terrível acusação de violadores do Santo Sepulcro — uma das mais criminosas ações, punida com pesadas penas —, lançada pelo Sinédrio contra eles, levou-os a buscar formas de segurança pessoal, em extremo cautelosas. Por essas razões, reuniam-se somente em ocasiões esporádicas. Em concreto, com São Tomé aconteceu que não procurou os outros e nem soube das notícias sobre as diversas aparições, por puro temor das perseguições. A isso se deve sua ausência durante a primeira aparição de Jesus aos Apóstolos.
Nenhum motivo válido tinha Tomé para não crer em tão numerosas e fidedignas testemunhas. Percebe-se nele uma imaginação fértil acompanhada de robusta obstinação, dificultando-lhe qualquer conclusão, por mais óbvia que fosse. Além disso é preciso notar sua presunção, pois coloca como condição para sua fé: “Se não vir ... se não meter o meu dedo ... e não meter a minha mão”. É uma verdadeira temeridade. Tomé determina quais devem ser os caminhos de Deus, e, se não forem observadas as condições por ele impostas, não crerá. O Senhor deverá render-se à sua vontade.
No trato com Tomé, fulgura a extrema bondade de Jesus
26 Oito dias depois, estavam os  discípulos outra vez em casa e  Tomé com eles.  Veio Jesus, estando as portas fechadas, colocou-Se no meio deles e disse: “A paz esteja convosco”.
Na falta de relatos, podemos imaginar o quanto deveriam ter sido fervilhantes os comentários e trocas de impressões, e variadas as hipóteses, durante a semana que mediou entre uma e outra aparição. Tomé, ao encontrar-se com estes ou aqueles, ouviria calado as manifestações de incontida euforia de seus irmãos de vocação. Seu fundo de alma era bom; não havia malícia em sua dúvida, mas pura fraqueza. Esses oito dias de ansiosa espera foram, por divina didática, certamente benfazejos a todos.
Era necessário que eles fossem encontrados reunidos em plenário na primeira ocasião, e isso só seria possível na semana seguinte. Alguns autores levantam a hipótese de querer Jesus ir iniciando a substituição do sábado judaico pelo domingo católico. Outros aplicam a Tomé a sentença de Paulo: “Os pecadores públicos devem ser publicamente admoestados” (1 Tm 5, 20). E, portanto, era bom que, quem diante de todos havia faltado com a fé, fosse corrigido diante das testemunhas de sua falta.
Tenham ou não razão, o certo é que Jesus, repetindo todo o seu proceder tal como na primeira aparição, usou de extrema bondade para com Tomé. Assim manifestava o seu inteiro perdão ao Apóstolo incrédulo.
Não nos é difícil imaginar a surpresa de São Tomé ao reencontrar o Senhor. Essa será a situação pela qual passaremos todos nós ao deixarmos os umbrais do tempo e penetrarmos nas infinitudes da eternidade... Qual o grau de fé que nos acompanhará nessa ocasião?
27 Em seguida disse a Tomé:” Mete aqui o teu dedo e vês as minhas mãos, aproxima também a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas fiel!”
 Jesus não espera a iniciativa de Tomé, e a ele se dirige, repetindo as mesmas palavras condicionais do discípulo incrédulo. E aqui vemos o quanto é melhor ser amado do que amar: nesse amor que desce do Sagrado Coração, nossas faltas são consumidas e somos afetuosamente corrigidos. Neste versículo podese notar mais uma demonstração da divindade de Jesus, o qual, sem ter presenciado as afirmações de incredulidade de Tomé, conhecia-as perfeitamente.
Discutem os exegetas se Tomé tocou nas santas chagas ou se lhe bastou rever o Salvador. Como também, se lhe seria possível, ou não, apalpar um corpo glorioso. Prevalece a opinião da maioria, segundo a qual Jesus, em sua bondade infinita, fez com que suas adoráveis cicatrizes fossem tocadas por aquele Apóstolo sujeito à falta de fé. Se a orla de seu manto, e até sua sombra, curavam as mais terríveis enfermidades, o que dizer de seu Corpo? E qual foi a reação de Tomé?
28 Respondeu-Lhe Tomé: “Meu Senhor e meu Deus!”
Entre os Padres da Igreja, Teófilo é um dos que melhor comentam esta passagem: “Aquele que antes se havia mostrado infiel converteu-se no melhor teólogo, depois de tocar o lado do Senhor, pois dissertou sobre as duas naturezas de Cristo em uma só Pessoa; porque dizendo ‘Senhor meu’, confessou a natureza humana, e dizendo ‘meu Deus’, confessou a divina, e um só Deus e Senhor” (11).
Outros autores ressaltam o poder da graça sobre certas almas, transformando-as de um extremo de mal a um oposto pólo de virtude, e fazem uma aproximação entre a conversão de Paulo e a boa atitude final de Tomé.
Testemunhas preparadas para, no futuro, beneficiar-nos
29 Jesus disse-lhe: “ Tu acreditaste, Tomé, porque Me viste; bem-aventurados os que acreditaram sem terem visto”.
Com muita clareza, objetividade e discernimento, Frei Manuel de Tuya OP (de quem guardo saudosas lembranças) explica-nos esse versículo. Ressalta ele que a intenção de Jesus não é recriminar “os motivos racionais da fé”, nem as pessoas às quais havia Se mostrado. Era, sim, bendizer “os fiéis futuros que aceitassem, por tradição contínua, a fé daqueles que Deus ‘escolhera’ para serem ‘testemunhas oficiais’ de sua ressurreição e para transmiti-la a outros. É o que Cristo pediu na ‘Oração Sacerdotal’: ‘Não rogo só por estes [os Apóstolos], mas por todos os que por sua palavra hão de crer em Mim’ (Jo 17, 20)” (12).
30 Outros muitos prodígios fez ainda Jesus na presença de seus discípulos, que não foram escritos neste livro. 31Estes, porém, foram escritos a fim de que acrediteis que Jesus é o Messias, Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.

Em face do escândalo da Crucifixão, os Apóstolos tinham necessidade desse auxílio. Depois de comprovarem os maiores milagres efetuados pelo Divino Mestre, viram-No preso, flagelado, preterido a um Barrabás, levantado no Madeiro entre dois criminosos e morto na rejeição geral. Aqueles eleitos pelo Pai para serem os arautos não só da Paixão, mas também da Ressurreição, necessitavam ver o Messias em seu Sagrado Corpo glorificado. A incredulidade deles, culposa ou não, deve ser tomada como extremamente vantajosa para nós: “Para que acrediteis”. Em sua sabedoria eterna e infinita, a Providência Divina concebeu essas insuperáveis testemunhas, esses primeiríssimos arautos do Evangelho. Para nós eles viram, para nós eles foram provados, para nós eles creram, para nós eles escreveram. E agora chegou a nossa vez de dar o nosso testemunho e, se não acreditarmos, não teremos escusas. Estamos destinados à bem-aventurança de crer sem ter visto, para, assim, ingressarmos na vida eterna.
* * *
Neste mundo ateu, relativista e pervadido de egoísmo, voltemos nosso olhar Àquela que jamais vacilou na fé, ou em qualquer outra virtude, e imploremos sua poderosa intercessão para obtermos de seu Filho ressurrecto graças eficazes e superabundantes para praticarmos em grau heróico as virtudes teologais e cardeais. Ou seja, para alcançarmos uma plena santidade de perfil mariano. 

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