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quarta-feira, 10 de abril de 2013

Evangelho do 3º Domingo da Páscoa Jo 21, 1-19 - Ano C - 2013


CONTINUAÇÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO DO III DOMINGO DA PÁSCOA
10 Jesus disse-lhes: “Trazei dois peixes que apanhastes agora.”
Esse pedido feito por Jesus não visava apenas aumentar a quantidade de peixes a serem comidos por eles. De maneira sempre afetuosa e com ilimitada bondade, Jesus deseja fazê-los comprovar a grandeza da pesca realizada. Até esse momento, os Apóstolos estavam absortos na contemplação do Mestre e até já haviam se esquecido dos peixes e da barca. Em realidade, seu propósito era o de que trouxessem todos os peixes e os contassem.
11 Simão Pedro subiu à barca e arrastou a rede para terra, cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes. E, sendo tantos, não se rompeu a rede.
Pedro, em seu ardoroso amor, está sempre pronto a, com arrojo, atender às solicitações de Jesus. Sua disponibilidade total não se cifra somente ao fato de ser ele o dono da barca. Ele sozinho termina a operação iniciada pelos outros. O primeiro no amor, o mais flexível na obediência. Aí está a verdadeira raiz da qual retiram substanciosa seiva todas as virtudes: o amor.
O número cento e cinquenta e três suscitou ao longo dos séculos — e até mesmo entre os Padres da Igreja — uma variada gama de opiniões. Entre somas, subtrações e multiplicações, uma corrente de teólogos e de exegetas atribuíram um notório caráter simbólico a essa cifra. Outros, porém, — e é a opinião predominante hoje em dia — julgam ter sido intenção exclusiva do evangelista, a de ressaltar a grandeza do milagre.
Simbólica, sem dúvida alguma, é a afirmação contida no fim do versículo, ou seja, apesar do grande número e do porte dos peixes, a rede não se rompeu. Quase todos os autores procuram tornar clara essa passagem de São João. Santo Agostinho é o mais feliz em interpretá-la.
Explica-nos ele a diferença entre as duas pescas, no tocante à integridade da rede. Na primeira, rompeu-se. Símbolo das heresias que surgiriam ao longo dos séculos. Na descrita pelo Evangelho de hoje, a rede manteve-se intacta apesar do enorme peso. Esta é uma pré-figura da Igreja após a ressurreição dos mortos, na qual haverá o supremo império da paz dos justos.
12Jesus disse-lhes: “Vinde comer.” Nenhum dos discípulos ousava perguntar-Lhe: “Quem és Tu?”, sabendo que era o Senhor.
Se bem não afirme São João que Jesus comera nessa ocasião, pode-se supor que tenha acompanhado os Apóstolos naquela refeição matutina a beira mar. Santo Agostinho assim discorre sobre este particular (4): “Na futura ressurreição, os corpos dos justos não necessitarão da árvore da vida que os preserve da morte por enfermidade ou decrepitude, nem tampouco de nenhum outro alimento que os livre dos incômodos da fome e da sede, porque se acharão revestidos de uma verdadeira e inviolável imortalidade, e não terão, caso queiram, necessidade de comer; pois ainda que não estarão privados da faculdade, estarão isentos dessa necessidade; assim como nosso Salvador, depois de ressuscitado em verdadeira carne, ainda que espiritual, comeu e bebeu com seus discípulos, não por necessidade, mas sim por poder”.
A sensibilidade dos Apóstolos começa a ser trabalhada pela realidade a respeito de Quem é Jesus. Apesar de ensejar Ele uma conversa, ninguém ousa dirigir-Lhe a palavra. A atmosfera é de respeito, admiração e de um certo temor reverencial. Todos reconheciam n’Ele o Senhor, mas era tão luminosa a transparência de sua majestade que o silêncio se impunha.
Digno é também de se notar a bondade e o carinho do Senhor em não só lhes propiciar uma excelente pesca, mas preparar e oferecer-lhes uma refeição segundo os costumes da época. Novamente imaginamos quão deliciosos deveriam ser aqueles pães e peixes...
13 Jesus aproximou-se, tomou o pão e deu-lhos, fazendo o mesmo com o peixe.
Jesus toma a iniciativa de aproximar-se dos discípulos, pois provavelmente guardavam uma certa distância respeitosa. Este divino procedimento nos faz comprovar uma vez mais a evidente realidade do grande empenho do Salvador em nos robustecer contra o mal. Antes mesmo de articularem qualquer palavra, ou de formularem um mínimo pedido, em sua infinita bondade dirige-se aos sete para alimentá-los, ou seja, fortalecê-los.
Transbordante e insuperável é o afeto de Jesus. Ele Se compadece em extremo pelo simples fato de nos encontrar com fome, símbolo do quanto nos assiste em nossas necessidades espirituais; basta levantar-se ao nosso redor um mínimo perigo que Ele se aproxima de nós para amparar-nos, fortalecer-nos e conceder-nos a vitória.
Muitos outros aspectos poderiam ser considerados nestas poucas palavras, ricas em significado. Ouçamos este comentário de São Gregório (5): “O convite último feito aos sete discípulos revela que, no banquete da glória, só estarão com Jesus aqueles que estejam cheios dos sete dons do Espírito Santo. Também os sete dias sintetizam todo o tempo deste mundo, e com frequência se designa a perfeição com este número. Aqueles, pois, que, animados pelo desejo de perfeição, se sobrepõem às coisas terrenas, são os que gozarão do eterno convite da verdade”. Ter-lhes-á sido dado a comer o puro pão ou, mais uma vez, lhes ofereceu a Eucaristia? É um belo problema para a Teologia resolver.
* * *
Os versículos finais (15 a 19), nos mostram a reparação de Pedro junto ao Salvador, por suas três negações durante a Paixão, e mais especialmente o recebimento do poder direto e universal sobre todo o rebanho, das mãos de Quem o perdoa, conforme o define o Concílio Vaticano I: “Só a Simão Pedro conferiu Jesus, depois de sua Ressurreição, a jurisdição de sumo pastor e reitor de todo o seu rebanho, ao dizer: ‘Apascenta meus cordeiros’, ‘apascenta minhas ovelhas’ (Jo 21, 15ss)” (6).
Não fossem os limites destas páginas, muito se poderia comentar sobre as palavras finais de Jesus, em especial os vários sentidos do convite expressado por Ele: “Segue-Me”. Não faltará ocasião para tal.

Continua no próximo post.

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