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terça-feira, 9 de abril de 2013

Evangelho do 3º Domingo da Páscoa Jo 21, 1-19 - Ano C - 2013


CONTINUAÇÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO DO III DOMINGO DA PÁSCOA
3 Simão Pedro disse-lhes: “Vou pescar”. Responderam-lhe: “Nós vamos também contigo”. Partiram e entraram numa barca. Naquela noite nada apanharam.
A noite é o período mais propício para a pesca e, certamente, hábeis e experientes nesse ofício, intuíam um bom êxito naquele empreendimento proposto por Pedro. Bastou ele comunicar seu plano que todos os outros se congregaram naquela aventura, tanto mais que deveriam estar carentes de subsídios para seu dia-a-dia. Pedro, sempre entusiasmado e não menos impetuoso, paulatinamente se havia constituído em propulsor dos Apóstolos.
Deu-se a partida cheia de esperança. Entretanto, com o passar das horas, a constatação da ineficácia de seus esforços fazia-lhes crescer no coração a convicção de quanto dependiam de um auxílio divino.
4 Chegada a manhã, Jesus apresentou-Se na praia, mas os discípulos não conheceram que era Ele.
O senso de observação era rico naquela civilização orgânica. Sem jornal, televisão, cinema ou rádio, as notícias se espalhavam oralmente e, por essa razão, surgiam espectadores da realidade por todas as partes. Assim, tomaram com naturalidade a presença de Jesus na praia, sem reconhecê-Lo de imediato. Aliás, da mesma forma havia procedido o Mestre com os discípulos de Emaús e com Madalena.
5 Jesus disse-lhes: “Rapazes, tendes alguma coisa para comer?” Responderam-Lhe: “Nada”.
Jesus, mesmo ao dirigir-lhes a palavra, voluntariamente não revela sua identidade, quer comunicar-Se com eles de forma exclusivamente humana, quiçá até mesmo modificando o timbre de voz e a expressividade, para não ser reconhecido. Este minúsculo detalhe nos mostra o quanto Jesus pode estar presente junto de nós em nossas atividades quotidianas, sem nós nos darmos conta. Compreenderemos no dia de nosso Juízo a que extremo Ele foi nosso companheiro a cada segundo, observando até nossos pensamentos e desejos.
Neste curto diálogo, Jesus propicia aos sete Apóstolos o sonho com um possível freguês. É curioso notar como, apesar do fracasso noturno, estão dispostos a uma nova tentativa para não perder o hipotético comprador. Assim devemos ser nós em nossos afazeres, sobretudo os apostólicos, ou seja, nunca desanimar. Sempre há uma última chance.
6 Disse-lhes: “Lançai a rede para o lado direito da barca e encontrareis.” Lançaram a rede e já não a podiam arrastar, por causa da grande quantidade de peixes.
Sendo Jesus onipotente, sua didática é divina. A fim de tornar ainda mais maravilhoso o milagre a ser por Ele operado, aproveita-se de uma noite de fracasso para aconselhar-lhes a lançar uma vez mais a rede. Nossas desilusões com as puras forças da natureza muitas vezes nos são úteis para convencer-nos da infinitude do poder de Deus.
Jesus orienta que seja do lado direito da barca. Por quê?
Quem nos explica é o grande Santo Agostinho (2): “Essa pesca se faz depois da Ressurreição do Senhor para nos indicar qual será o estado da Igreja após a nossa ressurreição. ‘Lançai a rede à direita da barca’ (Jo 21, 6) disse o Senhor. Os que estão à direita não se confundirão com os outros. Não esquecestes como o Filho do Homem nos garantiu sua vinda no meio dos anjos; as nações comparecerão diante d’Ele, e Ele as separará como o pastor separa as ovelhas dos cabritos, as ovelhas à direita, os cabritos à esquerda, e dirá depois às ovelhas: ‘Vinde (...)tomai posse do reino’; e aos cabritos: ‘apartai-vos de mim, malditos, ao fogo eterno’ (Mt. 25, 31-41). ‘Lançai a rede à direita’ significa, portanto, vede-me ressuscitado’. Quero dar-vos uma imagem do que vai ser a Igreja na Ressurreição dos mortos. ‘Lançai à direita’ (...)Lançaram a rede à direita e mal podiam levantá-la, tal era o seu peso!”
7 Então aquele discípulo a quem Jesus amava disse a Pedro: “É o Senhor!” Simão Pedro, ao ouvir dizer que era o Senhor, cingiu-se com a túnica, porque estava nu, e lançou-se à água.
Compreensível e belo era que o discípulo mais amado, somando suas impressões ainda implícitas à constatação da superabundância de peixes obtida, fosse o primeiro a concluir quem era aquele possível freguês. O timbre da voz, o decidido da ordem e a plenitude do efeito levaram João a reconhecê-Lo: “É o Senhor!”, exclamou ele.
Entretanto, o que mais amava, devido ao seu temperamento impetuoso e arrojado, foi o único a lançar-se nas águas. A dor pela falta cometida, o entusiasmo por Jesus, a rede pesadíssima, etc. fizeram-no optar por vias mais rápidas e decididas. Porém, por estar usando uma roupa comum dos pescadores daqueles tempos, devido a serem quentes os ares do Lago de Genezaré naquela época do ano, viu-se Pedro na contingência de cingir-se com a túnica, para nadar os cem metros que o separavam de Jesus. O “porque estava nu” não significa que estivesse de todo despido, mas sim com o sumário traje de pescador.
Curioso é de se notar que na época de Jesus nadava-se cingido de túnica.
8 Os outros discípulos, que não estavam distantes da terra senão duzentos côvados, vieram no barco puxando a rede cheia de peixes.
Ouçamos Santo Agostinho comentar este versículo (3): “Trouxeram a rede até a margem. (...) Ao dizer-se ‘margem’, deve-se entender ‘fim do mar’; e por ‘fim do mar’, entende-se fim do século. Na primeira pesca, as redes não foram trazidas até a margem, pelo contrário, os peixes foram colocados dentro das barcas. Agora não, são arrastadas até a praia. Espera o fim do século. Ele virá para o bem dos que estiverem à direita e para o mal dos que estiverem à esquerda”.
Continua no próximo post.

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