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domingo, 7 de julho de 2013

Evangelho 15º Domingo do Tempo Comum - Ano C - 2013 - Lc 10, 25-37

Comentário ao Evangelho – XV Domingo do Tempo Comum - Lc 10, 25-37- Ano C - 2013   

O Evangelho Lc 10, 25-37
Então, levantou-se um doutor da Lei, que Lhe disse para O experimentar: “Mestre, que devo eu fazer para alcançar a vida eterna?” 26 Jesus respondeu-lhe: “O que é que está escrito na Lei? Como lês tu?” 27 Ele respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento, e o teu próximo como a ti mesmo.” 28 Jesus disse-lhe: “Respondeste bem: faze isso e viverás.” 29 Mas ele, querendo justificar-se, disse a Jesus: “E quem é o meu próximo?”. 30 Jesus, retomando a palavra, disse: “Um homem descia de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos ladrões que o despojaram, o espancaram e retiraram-se, deixando-o meio morto. 31 Ora aconteceu que descia pelo mesmo caminho um sacerdote que, quando o viu, passou de largo. 32 Igualmente um levita, chegando perto daquele lugar e vendo-o, passou adiante. 33 Um samaritano, porém, que ia de viagem, chegou perto dele e, quando o viu, encheu-se de compaixão. 34 Aproximou-se dele, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho; e, pondo-o sobre o seu jumento, levou-o a uma estalagem e cuidou dele. 35 No dia seguinte tirou dois denários, deu-os ao estalajadeiro e disse-lhe: “Cuida dele; quanto gastares a mais, eu to pagarei quando voltar. 36 Qual destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos ladrões? 37 Ele respondeu: “O que usou de misericórdia com ele.” Então Jesus disse-lhe: “Vai e faze tu o mesmo.” (Lc 10, 25-37)
Quem é o meu próximo?
A Lei mandava amar o próximo como a si mesmo. Os judeus, porém, limitavam o conceito de próximo, de forma a restringir essa importante obrigação. Jesus vem dar o verdadeiro sentido à Lei.
O principal objeto do pensamento, ontem e hoje
“Falhou o motor do carro, acabou a energia elétrica, os bancos entraram em greve, foi lançado um novo tipo de software, afinal a ciência encontrou a substância preventiva contra o câncer”... e, se tempo e espaço houvesse, poderíamos encher páginas e páginas com os assuntos que no mundo atual absorvem exageradamente a atenção da humanidade. Deus deixou de ser a preocupação principal de quase todas as pessoas para dar lugar a um desenfreado egocentrismo. A agitação passou a ser a nota tônica do dia-a-dia em toda a face da terra, o relacionamento humano e a própria estrutura da vida social já não mais facilitam a elevação do pensamento a Deus.
A esse respeito, a situação do gênero humano era bem diversa na época da Jesus; apesar da grande decadência na qual estava ele mergulhado, o empenho em conhecer idéias era mais notório. No povo judeu, em concreto, a apetência por explicitações doutrinárias, sobretudo quando estreitamente ligadas com a religião, era robusta e contagiante. Um exemplo característico deste estado de espírito ocorre com o legista que, no Evangelho de hoje, se levanta para fazer uma pergunta a Nosso Senhor. Por mais que seu intento não fosse inteiramente isento de segundas intenções, o questionamento exposto por ele deixa transparecer qual era o teor dos assuntos tratados nas conversas comuns daquele período histórico.
Contexto do diálogo entre Jesus e o doutor da Lei
Esse fato narrado por Lucas deve ter-se passado por volta do mês de outubro do ano 29, portanto no último da vida pública de Jesus, um pouco antes da festa dos Tabernáculos. Recém terminara o treinamento dos setenta e dois discípulos pelas aldeias da Peréia, região calma e um tanto recolhida, na qual não chegava a acontecer nada semelhante às hostilidades características da Judéia. Jesus escolhera com divina sabedoria a região onde eles deveriam realizar suas primeiras aventuras apostólicas. Ademais, por ali, os Apóstolos e discípulos não tinham nenhum laço de amizade ou de parentesco com os seus beneficiados, como na Galiléia, tornando assim mais fácil sua ação. Provavelmente, os fatos do Evangelho de hoje se verificaram em Jericó e se inserem na atmosfera de alegria reinante entre todos, pelas excelentes novidades transmitidas por eles e comentadas pelo Divino Mestre, pois “até os demônios se nos submetem em teu nome!” (Lc 10, 17). Aqueles simples pescadores, que haviam abandonado o comércio de peixes para lançar as redes no mar das almas, foram eleitos não para prever, nem somente para comprovar, mas para serem os anfitriões de uma nova era.

É nesse quadro histórico que se desdobra o diálogo contido no Evangelho de hoje.
Malévolas intenções dos doutores da lei e dos fariseus
25 Então, levantou-se um doutor da Lei, que Lhe disse para O experimentar: “Mestre, que devo eu fazer para alcançar a vida eterna?”
A pergunta feita pelo doutor da Lei é praticamente a mesma relatada tanto por São Mateus (22, 35), como por São Marcos (12, 28). Porém, ao lermos os três Evangelhos, damo-nos conta de serem cenas diferentes. Esta de São Lucas (da Liturgia de hoje), como foi dito anteriormente, deve ter-se passado em Jericó e, levando em conta o consagrado costume durante as exposições e pregações realizadas nas sinagogas — ou seja, todos os assistentes participavam sentados e, ao surgir uma pergunta, esta deveria ser pronunciada de pé — tudo indica ter-se dado no interior desse ambiente.
O anseio mal disfarçado desse doutor da Lei de apanhar Jesus em algum lapso, transparece na essência e na forma da pergunta. Se alcançasse êxito em seu intento, teria satisfeito seu amor próprio. Provavelmente se tratava de um fariseu ainda não penetrado das malévolas intenções daqueles que, mais tarde, procurariam pretexto para matá-Lo. São Cirilo é categórico em afirmar que “certos charlatães percorriam todo o território judaico lançando acusações contra Cristo e dizendo que Ele qualificava de inútil a Lei de Moisés e ensinava doutrinas novas. Querendo, pois, aquele doutor da Lei induzir Jesus a dizer algo contra a Lei de Moisés, apresenta-se tentando-O, chamando-O de Mestre, não suportando ser ensinado. E como costumava o Senhor falar da vida eterna a todos quantos vinham a Ele, o doutor da Lei servia-se de suas próprias palavras; e como O tenta com astúcia, não ouve outra coisa a não ser o que Moisés tinha ensinado. Por isso, Jesus respondeu-lhe: ‘O que é que está escrito na Lei? Como lês tu?’” (1). O objetivo desse doutor da Lei era de pôr à prova os conhecimentos de Jesus e estabelecer com Ele uma polêmica da qual, sendo doutor, sairia triunfante. Esta suposição se deduz da segunda pergunta feita pelo mesmo personagem a Jesus. O fato de este encaminhar a conversa para um ponto muito discutido entre os rabinos deixa claro esse seu intuito.

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