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sexta-feira, 5 de julho de 2013

EVANGELHO XIV DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO C - 2013 - Lc 10, 1-12.17-20

CONCLUSÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO 14º DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C 2013 Lc 10, l-12.17-20
A vocação, dom mais precioso que o poder
 19 “Eu vos dei o poder de pisar em cima de cobras e escorpiões e sobre toda a força do inimigo. E nada vos poderá fazer mal’.
Os Atos dos Apóstolos apresentam um fato ilustrativo da efetividade de tal poder ao narrar o ocorrido com São Paulo durante uma de suas incursões na bacia do Mediterrâneo, para difundir o Evangelho: picado por uma víbora, não sofreu nenhum mal, deixando estupefatos os nativos da região (cf. At 28, 3-6).
No entanto, muito mais amplo é o significado da promessa feita pelo Mestre. Segundo um conceituado exegeta moderno, as mordidas e veneno desses animais peçonhentos “sintetizavam, no mundo antigo, os perigos da morte, e são símbolo do ‘poder do inimigo”,20 ao qual Cristo Se refere. Nosso Senhor confirma, portanto, estarem os discípulos imbuídos de força sobrenatural para enfrentar os assaltos do demônio. Essa proteção divina nunca falta aos que se encontram no exercício das atividades próprias à sua vocação específica, e havia sido especialmente comprovada pelos 72 durante o período da missão.
20 “Contudo, no vos alegreis porque os espíritos vos obedecem. Antes, ficai alegres porque vossos nomes estão escritos no céu”.
Os excelentes resultados da evangelização, na qual os discípulos haviam manifestado em abundância os dons recebidos da Providência para o benefício das almas, atraíam os aplausos da opinião pública, como sói acontecer. Se tais homenagens não fossem restituídas a Deus, convencendo-se eles de que eram mero instrumento para a ação da graça, o bom êxito do aposto lado poderia constituir perigoso obstáculo para a vida espiritual de cada um. Pouco a pouco, de modo quase imperceptível para eles, o desejo inicial de glorificar a Deus seria substituído pelo egoísmo pretensioso, ávido de receber honras pessoais. Por isso, o Salvador afasta a primeira jactância e a corta pela raiz, pois dela nasce o desejo de vanglória; corta-a com rapidez, imitando os melhores agricultores que, no mesmo momento em que veem brotar uma praga no jardim ou entre as hortaliças, arrancam-na pela raiz”.21 Em seguida, com grandeza e simplicidade infinitas, Jesus lhes revela a mais sublime dádiva por Ele concedida, muito superior ao domínio sobre a natureza e as potências infernais, e pela qual realmente deveriam exultar de contentamento. Por cumprirem com perfeição sua finalidade nesta Terra, devotam a Deus a glória que Lhe era devida, a cada um deles estava garantida a verdadeira e eterna felicidade: seus nomes estavam escritos no Céu”.
CHAMADOS AO REINO DA VERDADEIRA FELICIDADE
O conjunto dos ensinamentos contidos no Evangelho deste 14º Domingo do Tempo Comum nos leva a uma importante conclusão. A ilusão óptica é uma das numerosas impressões enganosas captadas por nossos sentidos, os quais, por esse motivo, devem ser submetidos aos sensatos juízos da razão. Entretanto, se muitas das percepções transmitidas pela sensibilidade podem ser falsas, nada é causa de tantas ilusões — desde os primórdios da História, a começar por Adão e Eva, no Paraíso — como o modo de se obter a felicidade. Esse é o primordial desejo do homem, procurado com ardor insaciável durante toda a vida. No mundo atual, muitos a confundirão com as inovações da técnica ou da ciência; outros, com os ditames da moda e do culto à saúde; outros ainda, com os lucros financeiros, o bom êxito nos negócios, o relacionamento social, a realização profissional, os sonhos românticos, etc. Além de não saciarem a sede de felicidade natural, essas ilusões do mundo não poucas vezes colocam em risco também a felicidade eterna, por conduzirem ao pecado, o qual, sendo uma desordem do homem em relação a seu fim, que é Deus, traz como consequência inevitável, após uma satisfação passageira, a frustração e a tristeza.
À missão dos setenta e dois discípulos escolhidos por Jesus bem caberia o título de evangelização cia felicidade, sob dois aspectos. Primeiro quanto aos discípulos, porque se davam por inteiro em benefício do próximo, movidos pelo amor a Deus, experimentando em si mesmos como “há mais alegria em dar do que em receber” (At 20, 35). Depois quanto às almas favorecidas pela pregação, porque lhes era oferecida a possibilidade de cumprirem os desígnios de Deus, transformando a vida terrena em preparação para o Céu.

Também a todos nós, batizados, o Mestre chama à verdadeira felicidade, fruto da boa consciência e da fidelidade à vocação individual outorgada por Ele próprio, quer se desenvolva esta no estado sacerdotal, quer no religioso ou no leigo. Tal felicidade terá como essência a evangelização, ou seja, fazer o bem às almas, apresentando-lhes as belezas do sobrenatural e instruindo-as na verdade trazida por Cristo ao mundo. Em suma, hoje o Salvador nos convoca a transmitir a todos os homens a alegria de glorificar a Deus, trabalhando para que a vontade d’Ele seja efetiva na Terra assim como o é no Céu.
1) SÃO BOAVENTURA. In I Sent. d.44, a.1, q.3. In: Opera Omnia. Florença: Ad Claras Aquas (Quaracchi), 1883, tI, p.786.
2) Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. I, q.44, a.4.
3) ROYO MARIN, OP, Antonio. Teología Moral para seglares. Madrid: BAC, 1996, v.1, p.29.
4) Idem, p.3 8.
5) SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma contra os gentios. L.1II, c.24.
6) A esse respeito, ver FILLION, Louis-Claude. Vida de Nuestro Señor Jesucristo Vida pública. Madrid: Rialp, 2000, v.11; LAGRANGE, OP, Marie-Joseph. L ‘Evangile de Jésus-Christ avec la synopse évangélique. Paris: Lecoffre — J. Gabalda, 1954.
7) PEIRÓ, SJ, Francisco Xavier. Evangelio comentado. Madrid: Sapientia, 1954, v.1, p.807.
8) Já no século g Santo Agostinho recomendava em sua regra: “Quando sairdes de casa, ide juntos; quando chegardes aonde fordes, permanecei também juntos” (SANTO AGOSTINHO. Regula ad Servos Dei, IV, 2. In: Obras. Madrid: BAC, 1995, v.XL, p.570).
9) SANTO AMBRÓSIO. Tratado sobre el Evangelio de San Lucas. LVII, n.46. In: Obras. Madrid: BAC, 1966, v.1, p.367.
10) SAO CIRILO DE ALEXANDRIA. Comentario al Evangelio de Lucas, 61, apud ODEN, Thomas C.; JUST, Arthur A. La Biblia comentada por los Padres de Ia Iglesia. Evangelio según San Lucas. Madrid: Ciudad Nueva, 2006, v.111, p.246. 199
11) Cf. LAGRANGE, op. cit., p.213.
12) SÃO GREGÓRIO MAGNO. Homiliæ in Evangelia. LI, horn. 17, n.5. In: Obras. Madrid: BAC, 1958, p.602.
13) Cf. CARRILLO ALDAY, Salvador. El Evangelio según San Lucas. Estella: Verbo Divino, 2009, p.217.
14) Cf. SANTO AGOSTINHO. De Civitate Dei. LXIX, c.13, n.1. In: Obras. Madrid:BAC, 1958, v.X VI-X VII, p.13 98.
15) SÃO GREGÓRIO NAZL’NZENO, apud SÃO TOMÁS DE AQUINO. Catena Aurea. In Lucam, c.X, v.3-4.
16) TEOFILATO, apud SAO TOMÁS DE AQUINO, Catena Aurea, op. cit., v.5-12.
17) PEIRO, op. cit., p.810.
18) SÃO JOÃO CRISÓSTOMO, apud SÃO TOMÁS DE AQUINO, Catena Aurea, op. cit., v.3-4.
19) LAGRANGE, op. cit., p.158.
20) CARRILLO ALDAY, op. cit., p.219.
21) SÃO CIRILO DE ALEXANDRIA. Comentario al Evangelio de Lucas, 64, apud ODEN; JUS1 op. cit., p.251.

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