CONTINUAÇÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO DO XVII DOMINGO DO TEMPO COMUM Lc 11, 1-13 - Ano C - 2013
O PAI NOSSO
1 Estando Ele a fazer
oração em certo lugar, quando acabou, um dos seus discípulos disse- Lhe:
“Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos seus discípulos”.
Tal qual afirma São Cirilo (4), Jesus demonstra o quanto Lhe
é própria a oração e com isso nos ensina como não devemos exercitá-la com
preguiça, mas sim com toda piedade e atenção. Entre os discípulos de Jesus,
estavam alguns que o haviam sido também de João. Por esta narração de São
Lucas, percebe-se o grande valor atribuído por eles às ações do Mestre,
reforçado pelo comportamento de seu Precursor a esse respeito. Fundamental é o
papel do exemplo. Da admiração a um e a outro nasceu na alma dos discípulos o
desejo de bem rezar. Quão grande é a responsabilidade dos que ensinam! Mais
eficaz se torna a palavra saída dos lábios de quem é modelo vivo de sua própria
didática, pois não basta saber explicar, sobretudo é preciso ser.
2 Ele respondeu-lhes:
“Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino.
São Mateus nos transmite uma forma mais extensa para esta
oração dominical (Mt 6, 9-13), criando para alguns autores um problema de
critério: seriam duas maneiras diferentes de rezá-la ou uma só? Para uns, a
original é a de Lucas e, neste caso, Mateus a teria ampliado. Para outros, ter-se-ia
dado o inverso, ou seja, Lucas julgou melhor sintetizá-la. Analise-se como
quiser, é compreensível que, por seu caráter pedagógico, muito provavelmente
Jesus a tivesse repetido várias vezes, sobretudo por ter querido deixar-nos um
modelo perfeito de oração.
Se bem não haja o menor inconveniente em nos utilizarmos de
longas orações, quis Jesus conceder-nos uma fórmula breve e universal, contendo
logo de início um louvor a Deus que d’Ele aproxima quem reza, a fim de tornar
solícita a audição das petições a serem feitas. Pela introdução da Oração Dominical
nos é fácil perceber o quanto Deus é também sensível a uma “diplomacia”
religiosa. Desejar a santificação do nome de Deus, não é senão querer que todos
os homens O conheçam, adorem e sirvam com perfeição. E trata-se aqui de um nome
sobre todos os nomes: “Pai”.
É de se notar a diferença de significado desta palavra “Pai”,
entre o Antigo e o Novo Testamento. Até então, a referência à paternidade de
Deus era um tanto metafórica, considerando-O como o Criador e com vistas a
realçar sua providência sobre o povo judeu. A partir da Encarnação, esse termo
revestiu-se de uma realidade profundíssima, quer pela natureza humana de Jesus,
quer pela divina. E também no que toca a nós, batizados, pois, como afirma São
João, somos filhos de Deus, “e realmente
o somos” (1 Jo 3, 1). Por isso Nosso Senhor usava a expressão “meu Pai” —
nesta oração, somente “Pai” na versão de São Lucas, ou “Pai nosso”, segundo São
Mateus — com relação à verdadeira paternidade de Deus e filiação divina de
todos os batizados. E o próprio Jesus nos advertiu: “ A ninguém chameis pai sobre a terra, porque um só é o vosso Pai, Aquele
que está nos Céus” (Mt 23, 9).
Ora, o Batismo não só imprime em nossas almas o caráter de
cristão e nos faz reais filhos de Deus pela graça, mas também nos introduz no
reino de Deus, cuja plena participação de corpo e alma gloriosos se dará após o
Juízo Final: “Vinde, benditos de meu Pai,
possuí o reino que vos está preparado desde a criação do mundo” (Mt 25,
34). Assim, o que era metáfora no Antigo Testamento tornou-se realidade com a
Redenção.
Continua no próximo post.
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