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segunda-feira, 22 de julho de 2013

EVANGELHO DO XVII DOMINGO DO TEMPO COMUM Lc 11, 1-13 - Ano C - 2013

CONTINUAÇÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO DO XVII DOMINGO DO TEMPO COMUM  Lc 11, 1-13 -  Ano C - 2013
O pão nosso de cada dia dá-nos hoje;
Muitos autores do passado, em especial os Padres da Igreja, consideravam ser esta petição relativa à Eucaristia; hoje, porém, sem negar essa interpretação, admite-se ser ela mais especialmente voltada para se obter o alimento material.
4 perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a todos os que nos ofendem; e não nos deixes cair em tentação.”
Comentando este versículo, São João Crisóstomo nos põe diante de uma situação inegável: “Conhecendo nós isto, devemos dar graças a nossos devedores, porque são para nós (se sabemos conhecê-lo assim) a causa de nosso maior perdão, e dando pouco, alcançamos muito; porque nós temos muitas e grandes dívidas para com Deus, e estaríamos perdidos se Ele nos pedisse uma pequena parte delas” (5).
Sobre as tentações, pondera Orígenes: “Deus não quer impor o bem, Ele quer seres livres... Para alguma coisa a tentação serve. Todos, com exceção de Deus, ignoram o que nossa alma recebeu de Deus, até nós mesmos. Mas a tentação o manifesta, para nos ensinar a conhecer-nos e, com isso, descobrir-nos na miséria e nos obrigar a dar graças pelos bens que a tentação nos manifestou” (6).
O AMIGO INOPORTUNO
Retrocedamos dois mil anos de História, e analisemos de perto uma caravana avançando pelo deserto, sobre asnos ou camelos, em pleno dia ensolarado de tórrido verão. Poeira, sede, calor e cansaço são os companheiros a cada passo, tornando muito penosos os translados. Esta era uma das razões pelas quais os orientais muitas vezes preferiam os deslocamentos noturnos, invertendo o período do sono.
Esta era uma das razões pelas quais os orientais muitas vezes preferiam os deslocamentos noturnos, invertendo o período do sono.
Pelo contrário, o inverno oferece condições mais agradáveis para viagens diurnas: o sol aquece suavemente, o desgaste físico é menor e a necessidade de água não tão frequente. A parábola de hoje se verifica numa noite de verão.
Aqueles tempos possuíam costumes bem mais simplificados em relação aos atuais e, sem aviso prévio, um amigo podia se apresentar à porta a qualquer hora do dia ou da noite. Caso a visita se desse durante o horário do sono, bastava estender uma esteira num canto da sala, que o hóspede ficaria muito contente. Se sua fome fosse considerável, sobretudo no caso de não haver jantado, alguns pães com azeite de oliva e especiarias, eram suficientes para torná-lo alegre e satisfazer-lhe o apetite.
As casas não eram grandes e nem com muitos cômodos. Em geral, toda a família se deitava na própria sala de visitas, cuja porta dava acesso direto à rua. Não imaginemos uma sequência de camas, mas sim esteiras ou tapetes estendidos ao solo, com leves colchas. Portanto uns golpes à porta, ainda quando suaves, facilmente despertavam quem junto a ela dormia.
É de dentro dessa moldura que devemos assistir à cena narrada pelo Salvador.
5 Disse-lhes mais: “Se algum de vós tiver um amigo, e for ter com ele à meia-noite para lhe dizer: Amigo, empresta-me três pães, 6 porque um meu amigo acaba de chegar à minha casa de uma viagem e não tenho nada que lhe dar;
 Jesus sempre se apoia em fatos comuns e frequentes da vida quotidiana para fazer entender aos seus ouvintes as profundas verdades da Fé. Portanto, o caso contido nestes versículos 5 a 8 provavelmente já se havia dado com vários dos circunstantes.
Devido à inteira organicidade do modo de ser daquela civilização, as pessoas procuravam aproveitar a luz do dia para seus afazeres e, quanto ao repouso, utilizavam para dormir as horas que iam desde o declínio ao nascer do sol. Por volta das nove da noite, o silêncio penetrava em todos os lares, chegando ao auge no período de meia-noite às três horas da madrugada. O “amigo” dessa parábola chega justamente na hora mais incômoda: é muito tarde para deitar- se e terrivelmente cedo para acordar. Mas, o inconveniente maior desse acontecimento estava no fato de não ter sobrado pão na despensa do anfitrião e a essas alturas não era mais possível matar um animal para levá-lo às brasas... A única saída era recorrer às reservas do vizinho.

O vilarejo inteiro se encontra submerso em profundo sono mas, logo às primeiras batidas, o dono da casa desperta e, sem se mover de sua esteira, ouve a demanda. Tratava-se de conceder três pães para quem estava à porta. Sobre o porquê de serem três, várias hipóteses tecem os autores, procurando atribuir sentidos simbólicos a este número. Na realidade, segundo os costumes da época, os pães tinham um tal tamanho que três faziam uma refeição normal de um adulto.

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