Conclusão dos comentários ao Evangelho XVI Domingo do Tempo Comum - Ano C - 2013 - Lc 10, 38-42
A lição foi para as duas
Há neste Evangelho uma lição
não só para as almas “Marta”, mas também para as almas “Maria”. Às primeiras,
ensina Jesus que uma só coisa é necessária: o amor a Deus, pois apenas a
caridade ultrapassa o umbral da eternidade, e todo o resto é secundário. Não
devemos nos ocupar com os afazeres do dia a dia sem ter o coração voltado para
o que há de mais elevado, tendo presente que em tudo dependemos da graça
divina. E às segundas, mostra que não podem desprezar a parte menos perfeita,
ignorando as providências necessárias para a boa ordenação da vida. Pois, como
bem sublinha Teofilato ao comentar esta passagem do Evangelho, “o Senhor não
vitupera a hospitalidade, mas sim o cuidado por muitas coisas, ou seja, a
absorção e o alvoroço”.20
Na ação ou na contemplação,
trata-se de manter a alma serena, pervadida de devoção e inteiramente voltada
para o sobrenatural.
Ser perfeito na ação e na contemplação
Marta, por ser virtuosa, sem
dúvida acolheu bem as palavras de Nosso Senhor e percebeu que, de fato, tinha
andado por vias equivocadas.
Como procedeu ela após a
repreensão divina? Certamente continuou a servi-Lo, mas sem febricitação. Cheia
de paz, alegria e consolação, deve ter agradecido a lição recebida, aceitando-a
até o fundo da alma pela ação da graça. “Repreende o justo e ele te amará” (Pr
9, 8). Assim, passou ela a amar mais Nosso Senhor, depois dessa afetuosa
correção.
Devemos imitar as duas irmãs:
fazer todos os atos cotidianos com o amor de Maria, mas, como Marta, cumprir nossas
obrigações de modo exímio. Porque a vida dos homens tem momentos de ação e de
contemplação e, tanto em uns quanto nos outros, é preciso ser “perfeito como o
Pai celeste é perfeito” (Mt 5, 48).
Da contemplação provém a ação
Nesta terra, nossa vida deve
estar marcada pela preocupação primordial de cuidar das coisas eternas. Como
bem explica o padre Romano Guardini, a existência humana se desenvolve em dois
planos paralelos: o interior e o exterior. O mais importante, porém, é o
interior, pois, em última análise, dele provém o exterior.
“Assim é que — acrescenta —, já
na vida ordinária dos homens, o interior se sobrepuja ao exterior. Tem o
caráter de ‘um necessário’, que tem primeiro de aparecer claramente. Se as
raízes adoecem, a árvore pode continuar a crescer por algum tempo, mas acaba
por morrer. Isso ainda é mais verdadeiro para a vida da fé. Também aí há um domínio
exterior; fala-se e ouve-se, trabalha-se e luta-se, há obras e instituições,
mas o sentido último de tudo reside no interior. O trabalho de Marta é
justificado por Maria”.21
Atendendo ao convite que nos é
feito neste trecho do Evangelho, façamos os esforços necessários para elevar ao
Céu as nossas vistas deformadas pelo espírito naturalista, porque, no umbral da
eternidade, as coisas concretas nos serão tiradas. Nossa fé se transformará em
visão de Deus, face a face; nossa esperança, em posse definitiva do Sumo Bem; e
a caridade atingirá sua plenitude.
Muito mais felizes do que Marta e Maria
Hoje somos muito mais
afortunados do que Marta, pois recebemos Jesus, não em nossa morada, mas em
nosso coração. Ele Se dá a nós na Eucaristia e, ao invés de nos afanarmos em
preparar-Lhe uma refeição, Ele nos alimenta com Seu Corpo, Sangue, Alma e
Divindade. Situação, portanto, muito mais feliz e celestial que a da família de
Betânia que tantas vezes hospedou Nosso Senhor! Assim, agradeçamos a Marta por
seu zelo em acolher Jesus, louvemos Maria pelo exemplo do amor a Deus, mas,
sobretudo, demos graças a Jesus pelo que Ele faz, a cada instante, por cada um
de nós.
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