-->

domingo, 22 de setembro de 2013

EVANGELHO XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO C - 2013 - Lc 16, 19-31

COMENTÁRIO AO EVANGELHO DO XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM
O POBRE E O RICO
Estamos, uma vez mais, diante de uma cena evangélica sobre a condenação eterna. O inferno se apresenta nesta parábola com algumas características ainda não conhecidas até então, e em dramático contraste com o prêmio celeste.
O  EVANGELHO Lc 16, 19-31
Havia um homem rico que se vestia de púrpura e de linho fino e todos os dias se banqueteava esplendidamente. 20 Havia também um mendigo, chamado Lázaro, que, coberto de chagas, estava deitado à sua porta, 21 desejando saciar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico, e até os cães vinham lamber-lhe as chagas.
22 Sucedeu morrer o mendigo, e foi levado pelos Anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico, e foi sepultado. 23 Quando estava nos tormentos do inferno, levantando os olhos, viu ao longe Abraão e Lázaro no seu seio. 24 Então exclamou: “Pai Abraão, compadece-te de mim, e manda Lázaro que molhe em água a ponta do seu dedo para refrescar a minha língua, pois sou atormentado nestas chamas”.
25 Abraão disse-lhe: “Filho, lembra-te que recebeste os teus bens em vida, e Lázaro, ao contrário, recebeu males; agora é ele aqui consolado e tu és atormentado. 26 Além disso, há entre nós e vós um grande abismo; de maneira que os que querem passar daqui para vós não podem, nem os daí podem passar para nós”. 27 O rico disse: “Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à minha casa paterna, 28 pois tenho cinco irmãos, para que os advirta disto, e não suceda virem também eles parar a este lugar de tormentos”.
29 Abraão disse-lhe: “Eles têm Moisés e os profetas; ouçam-nos”. 30 Ele, porém, disse: “Não basta isso, pai Abraão, mas, se alguém do Reino dos mortos for ter com eles, farão penitência”. 31 Ele disselhe: “Se não ouvirem Moisés e os profetas, também não acreditarão, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos”. (Lc 16, 19-31)
A parábola do Evangelho deste domingo se desdobra em três atos sucessivos. No primeiro, assistimos ao paroxismo de situações opostas, entre o pobre Lázaro e o rico, ainda nesta terra. A seguir, ambos morrem, e são conduzidos a destinos bem diferentes. Lázaro vai para o Céu e o rico para o inferno. Este, em meio aos tormentos do fogo, se dirige a Abraão, rogando um lenitivo. Por último, implora pelos próprios parentes, a fim de evitar que caiam na mesma desgraça.
Tendo em vista a profundidade dos múltiplos significados das palavras e ações do Divino Mestre, procuremos apreciar com amor todas as importantíssimas lições contidas no Evangelho deste domingo.
OS EPISÓDIOS NESTA TERRA
À primeira impressão, o drama nos enche a alma de compaixão pelo pobre Lázaro e nos conduz a uma antipatia pelo avarento. As formas podem ter sido escolhidas pelo Divino Pedagogo com mero intuito didático, entretanto, na sua essência, os fatos narrados são realíssimos e se repetem ao longo de toda a existência humana. Comecemos por analisar o avarento.
O rico avarento
Na literatura judaica, as figuras cheias de posses eram comumente apresentadas vestidas de púrpura. As túnicas e roupas interiores eram confeccionadas em puro linho. Com a maneira refinada de vestir-se, desfrutava o rico em questão também de uma elaborada culinária oriental. Curioso é de se notar que a narração evangélica não menciona amigos ou convidados aos festins diários do personagem em foco. Teria talvez esse rico um tão supino egoísmo, que preferia comer a sós, com o receio de, ao condividir os prazeres da mesa, diminuir seu próprio gozo? Também não aparece nenhuma referência sobre as instalações do tal rico. Terá sido um grande palácio? Não era o costume da época. O luxo naqueles tempos era bem mais fruído nas roupas e nos prazeres da mesa do que nas magnificências dos palácios.
Transparece nesse simples versículo (v. 19) o claro desejo do Divino Mestre de focalizar a figura de um homem abastado e rodeado dos melhores prazeres: dinheiro em quantidade, finos tecidos e excelente comida. Até aqui a descrição não insinua maior desordem na conduta do rico. Sua avareza se evidenciará pateticamente nos detalhes da dolorosa miséria do mendigo deitado à porta de sua opulência.
O pobre Lázaro
Do rico, não sabemos o nome, mas a memória do mendigo se fixou na História. Lázaro, diminutivo popular de Eleazar, cujo significado é “Deus ajuda”. Certamente se tratava de um desses mendigos que se aninhavam em determinados cantos ou entradas de casas para obter uma esmola ou algum alimento. A miséria aliada à sensação de abandono levava-os a uma verdadeira obstinação de se fixarem num posto e ali permanecerem, muitas vezes por décadas. Até hoje em dia, o mesmo fenômeno se repete. Quem de nós não se recorda de pelo menos um caso assim? Dá-se ao mendigo um nome, ou um apelido, e se estabelece uma certa familiaridade entre ele e seus benfeitores. Apesar de sua indigência, de seu aspecto pouco asseado ou da decomposição da fisionomia, ele sempre terá alguns simpatizantes que, além de uns trocados, lhe darão uns dedos de prosa. Ele saberá colocar-se em situações onde possa chamar a atenção sobre si.
Provavelmente, esses elementos somados a outros tantos levaram o bom Lázaro a deitar-se na porta principal do edifício do rico. Ali permanecia silencioso ou desenrolando uma ladainha de pedidos, a fim de implorar — com base em seu miserável aspecto, ou através da pura palavra — o auxílio dos transeuntes. Era seu posto fixo de mendicância, tolerado pelo dono da casa, o qual, dessa forma, manifestava alguma caridade em relação ao mendigo.
Como se não lhe bastasse a penúria dos meios de subsistência, seu corpo estava coberto de chagas. Algumas delas à mostra, sobretudo nas pernas insuficientemente cobertas pela curta túnica — quiçá, não só curta mas também rasgada.
Naqueles tempos, não era incomum, na Palestina, o contraste entre mendigos estropiados e peregrinos de porta em porta à busca de restos de comida a fim de não morrer de fome, e, de outro lado, ricos acomodados em seu fausto. Porém, os pobres não eram revoltados com sua situação de inferioridade e nem desejavam promover uma revolução social para ter parte na fortuna alheia. Eles não almejavam senão viver.
Lázaro desejava se alimentar das migalhas, ou seja, das sobras da mesa do rico, o qual “todos os dias se banqueteava esplendidamente”. A completa indiferença da opulência em relação à extrema miséria do mendigo sentado à sua porta, demonstrava que ao rico faltava o carinho cheio de calor humano para aliviar um pouco o sofrimento de Lázaro. Esse afeto só era concedido ao pobre pelos cães, tão dramático era seu estado. Ele nem forças tinha para os afastar de perto de si.

Assim termina o primeiro ato da parábola: o rico satisfeitíssimo em seu fausto, indiferente ao infeliz pobre, na indigência de sua roupa, saúde e alimentos, vivendo os últimos suspiros de sua existência.
Continua 

Nenhum comentário: