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sexta-feira, 12 de abril de 2013

Evangelho – 4º domingo da Páscoa - Ano - C 2013 - Jo, 27-30


Comentário ao Evangelho – IV domingo da Páscoa - Ano - C 2013

Evangelho  Bom Pastor Jo, 27-30
27As minhas ovelhas ouvem a minha voz, Eu as conheço, e elas Me seguem. 28 Eu lhes dou a vida eterna; elas jamais hão de perecer, e ninguém as roubará de  minha mão. 29 Meu Pai, que Mas deu, é maior que todas as coisas; e ninguém pode arrebata-las da mão de meu Pai. 30 Eu e o Pai somos um (Jo 10, 27-30).
Somos todos ovelhas de Jesus?
Assim como outrora Jesus, o Bom Pastor, procurou atrair todos para seu Rebanho, sua voz continua hoje a ressoar nos corações, apelando para que nos deixemos apascentar por Ele. Os fariseus O recusaram decididamente. Que atitude tomará este nosso mundo?
O simbolismo na obra da Criação
Do nada, Deus criou todas as coisas, e de forma instantânea; não transformou seres pré-existentes, mas agiu por um ato exclusivo de sua onipotência, incomunicável a qualquer outro ser, mesmo por milagre (1). Ele tornou realidade o universo tendo em vista sua própria glória: “Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas. A Ele a glória por toda a eternidade!” (Rm 11, 36). O Concílio Vaticano I é categórico neste particular: “Se alguém negar que o mundo foi criado para a glória de Deus, seja anátema” (2).
Deus é modelo de todos seres criados
 Poucos dogmas de nossa fé tiveram tão numerosos adversários como o da criação do mundo, claramente afirmado na primeira frase do Gênesis: “No princípio, Deus criou os céus e a terra” (Gn 1, 1). A variedade de objeções e heresias contra essa verdade que atribui a Deus a causa eficiente da origem do universo é grande. Por outro lado, embora a doutrina de que Deus é causa exemplar de todos os seres de sua obra dos seis dias quase não levante inimigos frontais e explícitos, são muito difundidos costumes, modos de ser, gostos, etc., pervadidos de erros larvados a esse respeito.
Na quarta via das provas da existência de Deus, explicitadas por São Tomás de Aquino, encontramos também, além do Criador como o Pulchrum (o Belo) por essência, todas as belezas esparsas pelo universo como participações e decorrências dessa fonte infinita. Mais claramente, em sua Suma Teológica, o Doutor Angélico define Deus enquanto modelo de todos os seres criados: “Deus é a primeira causa exemplar de todas as coisas (…); existem na sabedoria divina as razões de todas as coisas, às quais chamamos ‘ideias’, ou seja, ‘formas exemplares’ existentes na mente divina. Essas ideias (…) não são, contudo, algo realmente distinto da essência divina (…) Assim, pois, Deus é o primeiro exemplar de todas as coisas” (3).
Uma nota de altíssima beleza na Criação
A mente divina é infinitamente rica de seres possíveis e, se bem que Deus os possa criar todos, somente alguns Ele torna realidade. Assim, cada um de nós existiu como um possível na consideração de Deus, desde toda a eternidade (4). Apesar d’Ele não ter querido criar todos os seres possíveis, é enorme a quantidade de criaturas vindas à existência pelo seu poder divino. Essa superabundância, como ocorre com todos os atos de Deus, foi intencional; entre outras razões, procedeu Ele dessa forma para evitar a sensação de monotonia que poderia facilmente se produzir na alma humana. Nessa imensa obra que O levou a descansar no sétimo dia, o Criador quis colocar uma nota de altíssima beleza: o simbolismo.
Claro está que a beleza estética pura e simples tem grande valor, mas a intelecção desse valor não atingirá sua plenitude enquanto não remeta, de alguma forma, através de seu simbolismo, para o próprio Deus. A beleza simbólica tem uma categoria muito superior à estritamente física. Daí o terrível castigo de Deus aos que se negam a conhecê-Lo através dos símbolos e, em consequência, a adorá-Lo (5).
A rica simbologia do relacionamento entre o pastor e as ovelhas
Portanto, para nós, é uma obrigação moral ascender a Deus, e para isso nos servem as criaturas. No cumprimento desse dever através delas, encontraremos uma verdadeira hierarquia, pois umas nos serão mais ricas de conteúdo simbólico e, outras, menos. Por exemplo, no relacionamento com seus pais, uma criança, praticamente no todo de seu ser, sentir-se-á apoiada, compreendida e até afagada pela simples presença deles. Bastará vê-los afastar-se para julgar-se naufragando. Esse fenômeno, apesar de guardar características próprias, também se verifica entre adultos, pois todos necessitamos de receber as influências de nossos semelhantes, devido aos impulsos de nosso instinto de sociabilidade. Ora, o homem tem maior adesão às influências recebidas da parte daqueles que se constituem em seus modelos. Por isso, deixar-se enlevar, influenciar e mesmo formar pelos modelos que nos aproximam de Deus e a Ele nos assemelham não é um defeito, mas, muito pelo contrário, uma grande virtude e até obrigação.
Por outro lado, às vezes entende-se mais facilmente o protótipo de uma certa categoria analisando-se as relações entre seres inferiores a ela. Por exemplo, para nós nunca houve nem haverá modelo igual e, menos ainda, superior a Jesus Cristo; porém, comove-nos até a última fímbria de nossa sensibilidade vê-Lo refletido na figura do Bom Pastor que cuida carinhosamente de suas ovelhas. De fato, como anteriormente vimos, o universo existe, entre outros motivos, para nos auxiliar a melhor compreender a Deus, e nessa perspectiva está uma substanciosa condição para a prática do primeiro Mandamento. Amar a Deus sobre todas as coisas, como uma de suas vias, consiste em conhecê-Lo através de todas as coisas, para assim poder adorá-Lo e entregar-se inteiramente a Ele.
É na rica simbologia do relacionamento entre pastor e ovelhas que se situa a perspectiva do Evangelho deste domingo.

Continua no próximo post.

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