Comentário ao Evangelho – IV domingo da Páscoa - Ano - C 2013
Evangelho Bom Pastor Jo, 27-30
27As minhas ovelhas ouvem a minha voz, Eu as conheço, e
elas Me seguem. 28 Eu lhes dou a vida eterna; elas jamais hão de perecer, e
ninguém as roubará de minha mão. 29 Meu
Pai, que Mas deu, é maior que todas as coisas; e ninguém pode arrebata-las da
mão de meu Pai. 30 Eu e o Pai somos um (Jo 10, 27-30).
Somos todos ovelhas de Jesus?
Assim
como outrora Jesus, o Bom Pastor, procurou atrair todos para seu Rebanho, sua
voz continua hoje a ressoar nos corações, apelando para que nos deixemos
apascentar por Ele. Os fariseus O recusaram decididamente. Que atitude tomará
este nosso mundo?
O simbolismo na obra da Criação
Do nada, Deus criou todas as
coisas, e de forma instantânea; não transformou seres pré-existentes, mas agiu
por um ato exclusivo de sua onipotência, incomunicável a qualquer outro ser,
mesmo por milagre (1). Ele tornou realidade o universo tendo em vista sua
própria glória: “Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas. A Ele a glória
por toda a eternidade!” (Rm 11, 36). O Concílio Vaticano I é categórico neste
particular: “Se alguém negar que o mundo foi criado para a glória de Deus, seja
anátema” (2).
Deus é modelo de todos seres criados
Poucos dogmas de nossa fé
tiveram tão numerosos adversários como o da criação do mundo, claramente
afirmado na primeira frase do Gênesis: “No princípio, Deus criou os céus e a
terra” (Gn 1, 1). A variedade de objeções e heresias contra essa verdade que
atribui a Deus a causa eficiente da origem do universo é grande. Por outro
lado, embora a doutrina de que Deus é causa exemplar de todos os seres de sua
obra dos seis dias quase não levante inimigos frontais e explícitos, são muito
difundidos costumes, modos de ser, gostos, etc., pervadidos de erros larvados a
esse respeito.
Na quarta via das provas da
existência de Deus, explicitadas por São Tomás de Aquino, encontramos também,
além do Criador como o Pulchrum (o Belo) por essência, todas as belezas
esparsas pelo universo como participações e decorrências dessa fonte infinita.
Mais claramente, em sua Suma Teológica, o Doutor Angélico define Deus enquanto
modelo de todos os seres criados: “Deus é a primeira causa exemplar de todas as
coisas (…); existem na sabedoria divina as razões de todas as coisas, às quais
chamamos ‘ideias’, ou seja, ‘formas exemplares’ existentes na mente divina.
Essas ideias (…) não são, contudo, algo realmente distinto da essência divina
(…) Assim, pois, Deus é o primeiro exemplar de todas as coisas” (3).
Uma nota de altíssima beleza na Criação
A mente divina é infinitamente
rica de seres possíveis e, se bem que Deus os possa criar todos, somente alguns
Ele torna realidade. Assim, cada um de nós existiu como um possível na
consideração de Deus, desde toda a eternidade (4). Apesar d’Ele não ter querido
criar todos os seres possíveis, é enorme a quantidade de criaturas vindas à
existência pelo seu poder divino. Essa superabundância, como ocorre com todos
os atos de Deus, foi intencional; entre outras razões, procedeu Ele dessa forma
para evitar a sensação de monotonia que poderia facilmente se produzir na alma
humana. Nessa imensa obra que O levou a descansar no sétimo dia, o Criador quis
colocar uma nota de altíssima beleza: o simbolismo.
Claro está que a beleza
estética pura e simples tem grande valor, mas a intelecção desse valor não
atingirá sua plenitude enquanto não remeta, de alguma forma, através de seu
simbolismo, para o próprio Deus. A beleza simbólica tem uma categoria muito
superior à estritamente física. Daí o terrível castigo de Deus aos que se negam
a conhecê-Lo através dos símbolos e, em consequência, a adorá-Lo (5).
A rica simbologia do relacionamento entre o
pastor e as ovelhas
Portanto, para nós, é uma
obrigação moral ascender a Deus, e para isso nos servem as criaturas. No
cumprimento desse dever através delas, encontraremos uma verdadeira hierarquia,
pois umas nos serão mais ricas de conteúdo simbólico e, outras, menos. Por
exemplo, no relacionamento com seus pais, uma criança, praticamente no todo de
seu ser, sentir-se-á apoiada, compreendida e até afagada pela simples presença
deles. Bastará vê-los afastar-se para julgar-se naufragando. Esse fenômeno,
apesar de guardar características próprias, também se verifica entre adultos,
pois todos necessitamos de receber as influências de nossos semelhantes, devido
aos impulsos de nosso instinto de sociabilidade. Ora, o homem tem maior adesão
às influências recebidas da parte daqueles que se constituem em seus modelos.
Por isso, deixar-se enlevar, influenciar e mesmo formar pelos modelos que nos
aproximam de Deus e a Ele nos assemelham não é um defeito, mas, muito pelo
contrário, uma grande virtude e até obrigação.
Por outro lado, às vezes
entende-se mais facilmente o protótipo de uma certa categoria analisando-se as
relações entre seres inferiores a ela. Por exemplo, para nós nunca houve nem
haverá modelo igual e, menos ainda, superior a Jesus Cristo; porém, comove-nos
até a última fímbria de nossa sensibilidade vê-Lo refletido na figura do Bom
Pastor que cuida carinhosamente de suas ovelhas. De fato, como anteriormente
vimos, o universo existe, entre outros motivos, para nos auxiliar a melhor
compreender a Deus, e nessa perspectiva está uma substanciosa condição para a
prática do primeiro Mandamento. Amar a Deus sobre todas as coisas, como uma de
suas vias, consiste em conhecê-Lo através de todas as coisas, para assim poder
adorá-Lo e entregar-se inteiramente a Ele.
É na rica simbologia do
relacionamento entre pastor e ovelhas que se situa a perspectiva do Evangelho
deste domingo.
Continua no próximo post.
Continua no próximo post.
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