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sábado, 13 de abril de 2013

Evangelho – 4º domingo da Páscoa - Ano - C 2013 - Jo, 27-30


Continuação dos comentários ao Evangelho – IV domingo da Páscoa - Bom Pastor Jo, 27-30 - Ano - C 2013

O pensamento de Platão

É interessante notar que Platão — em quem a Escolástica sorveu muitos ensinamentos, purificando-os do que havia de panteísmo —, ao desenvolver seu pensamento sobre a dialética do amor, diz que esta chega à sua plenitude ao contemplar “essa beleza isenta de acréscimo e de diminuição, beleza que não é bela numa parte e feia noutra, bela só em tal tempo e não em tal outro, bela em certo sentido e feia em tal outro, bela num lugar e feia noutro, bela para uns e feia para outros… Beleza que não reside num ser diferente de si mesma, num animal, por exemplo, ou na terra ou no céu ou em qualquer outra coisa, mas que existe eterna e absolutamente por si mesma e em si mesma; da qual participam todas as demais belezas, sem que o nascimento ou a destruição delas lhe ocasione a menor diminuição ou o menor acréscimo, nem a modifique em coisa alguma” (Banquete, 211 C).
Ambientação da Cena de hoje
Antes de entrarmos na análise dos quatro versículos que constituem o Evangelho deste quarto Domingo da Páscoa, relembremos em rápidos traços o contexto histórico de onde eles surgem.
Anualmente, cerca de dois meses após o término da festa dos Tabernáculos, por volta do fim de dezembro do nosso calendário, os judeus celebravam outra festa, a da Dedicação. Desde o ano 165 a.C. havia sido ela estabelecida, a partir da purificação do Templo levada a cabo por Judas Macabeu, após as profanações promovidas por Antíoco Epifanes (cf. 1 Mac 4, 36-59).
Nessa época, o Salvador contava seus trinta e dois anos de idade. Estaria Ele portanto, ingressando no último período de sua vida pública. Era uma manhã de inverno e já bem cedo Se encontrava Ele no Pórtico de Salomão, edificado com alvíssimas pedras. Nessa parte exterior do Templo, na face oriental, Jesus estava à espera de constituir-se uma assembleia de ouvintes. Em pouco tempo juntou-se em torno d’Ele uma grande multidão. Desta não podiam estar ausentes seus inimigos.
A fama de Jesus se espalhara rapidamente, sobretudo por causa dos numerosos milagres e da magnitude deles. Talvez pelo fato de, bem naqueles dias, ter Ele curado dez leprosos, os fariseus imploravam uma declaração taxativa sobre sua identidade: era ou não o Messias? À primeira vista, o pedido deles parece, não só razoável, mas até mesmo afetuoso. Entretanto, a Jesus ninguém engana. Quantas vezes, ao longo da História da Igreja, ímpios e hereges se serviram dos mesmos pretextos daqueles fariseus! Não era de clareza nem de evidência que necessitavam, mas, sim, de boa fé, docilidade e humildade.
Os fariseus se obstinavam na rejeição a Jesus
Temos tornado claro, em anteriores comentários, o quanto os judeus — especialmente os fariseus — concebiam o Messias de forma equivocada. Viam-No como um conquistador político e militar, um libertador do domínio, até mesmo sob o aspecto financeiro, do Império ao qual estavam subjugados; ademais, deveria Ele conferir aos seus co-nacionais toda a glória e a supremacia universal. Os que consideravam no Messias a exclusividade dos aspectos religiosos, d’Ele esperavam a força para obrigar à conversão e à prática da Lei (na qual, segundo seus fanáticos critérios, encontrava-se a mais alta santidade) todas as outras nações.
Ora, Jesus era, sim, o Messias esperado, mas muito diferente dessa distorcida concepção. Ele é o Filho Unigênito do Pai, Deus e Homem verdadeiro; seu Reino não é deste mundo... “Veio para o que era seu, mas os seus não O receberam” (Jo 1, 11). Exceção feita da Samaritana (Jo 4, 26) e de seus discípulos, ninguém ouvira Jesus atribuir-Se esse título, mas, na festa dos Tabernáculos, Ele não poderia ter sido mais explícito sobre sua origem, sua natureza e até mesmo sua missão (cf. Jo 7). Por isso Jesus afirmou já Se ter pronunciado sobre sua identidade e, apesar disso, não Lhe terem crido (cf. Jo 10, 24-26). Os fariseus não O entenderam, porque não se entregaram ao Messias como Ele realmente é; pelo contrário, desejavam que o Messias Se entregasse a eles como eram, com seus caprichos e fantasias.
De nada adiantaram todos os milagres, pregações, nem mesmo a manifestação das virtudes de Jesus para dissolver o egoísmo pétreo e incrédulo daqueles fariseus. Para eles só havia uma e exclusiva infalibilidade: a de suas ideias político-religiosas. Essa obstinação não é novidade para nós neste século XXI: a História, os fatos, o Papa, a Igreja, Nossa Senhora em Fátima, o universo, falam a uma só voz, mas, à exceção de poucos, ninguém quer entender, ou crer...
Essa é a muralha de aço que a Verdade tem sempre diante de si. Em geral, a Verdade de Deus exige de nós uma renúncia feita de dor; é preciso arrepender-se e fazer penitência, como proclamava João Batista, aspirar à perfeição, amar o bem e admirar o belo. Em uma palavra, é indispensável ser do número das ovelhas de Jesus. E os fariseus não o eram, por isso Ele procura ensinar-lhes não só com palavras, mas com fatos, pois não há como negá-los. Jesus, em resposta à pergunta se Ele era o Cristo, simbolicamente os exclui de seu Reino, pelo menos naquele momento, devido ao vício do orgulho tão penetrado nas almas deles (cf. Jo 10, 24-26). Sentença terrível que caberá eternamente àqueles recalcitrantes, obstinados e empedernidos na incredulidade de seu orgulho. Essa é a opinião de Santo Agostinho: “Disse-lhes isso porque os via predestinados à morte eterna, e não à vida eterna que Ele lhes havia conquistado com seu sangue. As ovelhas nada mais fazem do que crer no seu pastor e segui-Lo” (6).
Significado das palavras de Jesus
Entremos agora na análise do Evangelho deste quarto Domingo da Páscoa.
Continua no próximo post.

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