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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Evangelho: cura do paralítico III

“Para o amor, nada é impossível!”
4 Como não pudessem levá-lo junto d’Ele por causa da multidão, descobriram o teto na parte debaixo da qual estava Jesus e, tendo feito uma abertura, desceram o leito em que jazia o paralítico.
Os condutores do paralítico usam de tal radicalidade que a cena adquire um caráter dramático. Imaginem-se as tentativas, feitas por eles e talvez até pelos acompanhantes, familiares e amigos do doente, de convencerem as pessoas a abrirem caminho no meio da impenetrável multidão aglomerada. O temperamento oriental, muito dado à tragédia, deve ter se evidenciado de maneira viva nessa ocasião. Uns fazendo pressão teatral para ultrapassar a barreira humana e outros resmungando, à medida que se espremem ainda mais. Intuitivos como são aqueles povos, os condutores e acompanhantes concluíram serem inúteis suas artes diplomáticas. Desistiram de usar as vias normais de entrada e lançaram-se numa aventura, também muito característica daquelas terras.
As casas judias dos tempos messiânicos eram térreas, com um terraço fazendo o papel de telhado, ou uma cobertura construída de uma mescla de barro e fibras vegetais suficiente para resistir às intempéries e permitir seu uso pela família numa noite de verão. Seu acesso se fazia por uma das laterais da casa, através de uma escada fixa. Ao que tudo indica, sem maior risco para os que se encontravam na sala, os portadores da maca do paralítico afastaram os ramos da argamassa, abrindo um buraco no teto.
Esse belo e ousado gesto nos faz entender a realidade do axioma de Santa Teresinha: “Para o amor, nada é impossível!” De fato, ali estava simbolizado o verdadeiro zelo apostólico. Assim devem ser nossa fé e nosso empenho no cuidado pelas almas, não se deixando vencer por obstáculo algum. Por outro lado, o mesmo episódio nos mostra o quanto Jesus deseja que a salvação de uns seja operada pelo auxílio de outros. É bem a imagem da importância do apostolado colateral.
Podemos fazer ideia do espanto dos circunstantes, apinhados em torno de Nosso Senhor, ao se darem conta de que o teto se abria. Poeira, ruído, surpresa! De repente, uma padiola começa a descer através de cordas e, por fim, o pobre paralítico aterrissa, obrigando-os a se afastarem e se espremerem.
5 Vendo Jesus a fé daqueles homens, disse ao paralítico: “Filho, são-te perdoados os pecados”.
Em vista da fama dos inúmeros milagres realizados por Jesus, evidentemente todos os presentes aguardavam a cura imediata daquele paralítico. É de se crer que ele tenha descido do teto com fisionomia de súplica e causadora de pena. Bastaria a presença ali de algumas senhoras, dotadas do admirável instinto materno, para estar criado um clima de comiserado “suspense”. Se qualquer uma delas fosse taumaturga, faria o paralítico levantar-se imediatamente.
A perplexidade suscitada em uns e outros pelas palavras do Divino Mestre foi intencional, e por várias razões. Jesus deixa claro quanto os problemas da alma são mais importantes que os do corpo. Ademais, como anteriormente dissemos, havia uma forte crença entre os judeus de serem as doenças fruto dos pecados próprios ou dos pecados dos antepassados. Outras situações houve nas quais Jesus, após o milagre, recomendou aos beneficiados: “Não tornes a pecar”, a fim de não lhes vir a acontecer males piores. É de se perguntar se, no caso concreto desse paralítico, haveria alguma relação entre seu estado físico e problemas morais, mas nos é possível responder nem afirmativa nem negativamente. Entretanto, pecados ele os deveria ter, pois a frase de Nosso Senhor é inequívoca. É até admissível que estivesse profundamente arrependido, como se comprova pelo afetuoso tratamento a ele dispensado: “Filho, confia”.
Muito interessante é a opinião de Maldonado sobre “a fé daqueles homens”:
“Provavelmente, esse paralítico não teria menor fé que aqueles que o levavam. Mas, segundo está dito, Cristo lhe perdoou os pecados pela fé de seus portadores. Jesus apreciou tanto a fé daqueles bons homens que, mesmo se o paralítico não a tivesse de modo conveniente, Ele lhe teria perdoado, por causa da fé de seus portadores”.
Há também quem — como São João Crisóstomo — levante a hipótese de ter querido Jesus dar oportunidade a uma reação dos fariseus, servindo-se desse pretexto para tornar patente sua divindade.
Continua...

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