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quinta-feira, 12 de julho de 2012

Evangelho 15º Domingo Tempo Comum - ano B

Continuação


“...e deu-lhes poder sobre os espíritos imundos”.
Era esta outra prova irrefutável da divindade de Nosso Senhor. Sendo o poder dos Anjos muito superior ao dos homens, ninguém pode vencer um espírito impuro a não ser com o auxílio de Deus. Cristo tem não só esse poder, mas também a capacidade de transmiti-lo aos Apóstolos, pois Ele é Deus. E a Igreja, até os dias de hoje, o confere aos seus ministros, designando exorcistas, com o encargo de — em caso de possessão diabólica comprovada, e seguindo normas bem estritas — expulsarem os espíritos impuros, com o poder que Cristo outorgou a Ela.
No tempo de Nosso Senhor, o império do mal estendia-se sobre toda a humanidade, imersa nas trevas do paganismo e da idolatria, manifestando- se frequentemente através de possessões, como nos relatam numerosas passagens dos Evangelhos.
Talvez em nossos dias não seja tão visível o domínio do mal sobre o mundo, como era na Antiguidade, mas sua ação, sem dúvida, é mais ampla e insidiosa, levando grande número de pessoas a acharem que não existe o demônio nem o pecado. Assim, as almas, por falta de defesa, ficam mais expostas à sua maléfica influência. E a assombrosa degradação dos costumes de nossa época, com a consequente multiplicação dos crimes, não será um sintoma dessa forma sub-reptícia de dominação dos espíritos impuros em toda a terra?
8 “Ordenou-lhes que não levassem coisa alguma para o caminho, senão somente um bordão; nem pão, nem mochila, nem dinheiro no cinto; 9 como calçado, unicamente sandálias, e que se não revestissem de duas túnicas”.
A radicalidade dessas determinações de Nosso Senhor aos Apóstolos tem suscitado entre os exegetas e mestres espirituais, ao longo da história da Igreja, múltiplas interpretações.
Segundo alguns, entre os quais São Francisco de Assis, tais preceitos devem ser seguidos à risca, de acordo com o exemplo dos Apóstolos. Outros interpretam as palavras de Nosso Senhor num sentido figurado, fazendo as devidas adaptações às circunstâncias de cada época e lugar. De qualquer modo, é inequívoca a intenção de Nosso Senhor de, com essas prescrições, tornar claro que os Apóstolos, ao se dedicarem à evangelização, não deviam preocupar-se com os recursos materiais, mas fazer uso apenas do que lhes era indispensável. Toda a sua confiança deveria estar posta na proteção de Deus, tanto para obter os meios de subsistência como, sobretudo, para alcançar os meios sobrenaturais, ou seja, a graça, indispensável à conversão das almas.
Por vezes, o evangelizador, demasiadamente preocupado com os recursos materiais para desenvolver suas atividades em favor da salvação das almas, pode acabar por depositar sua confiança nos próprios esforços e qualidades naturais, esquecendo que só Deus, com a graça divina, é capaz de mover os corações. Todo o resto, inclusive o próprio apóstolo, não passam de meros instrumentos nas mãos do Altíssimo. Portanto, depois de ter feito todos os esforços para o bom resultado da evangelização, devemos estar convictos de que somos “servos inúteis” (Lc 17, 10).
O melhor modo de assegurar bons frutos de apostolado consiste em ter essa disposição de alma, de entrega absoluta nas mãos da Providência, confiando cegamente em Seu auxílio.
Deixemos de lado a interpretação dada pelos exegetas às discrepâncias entre os Evangelistas sobre o uso ou não de bastão, e outros detalhes de menor importância, e voltemos nossa atenção para a belíssima simbologia que alguns autores ressaltam nas prescrições do Divino Mestre.
São Tomás de Aquino recolhe na Catena Áurea algumas dessas interpretações simbólicas, repletas de sabedoria. Santo Agostinho assim explica a significação do uso das sandálias, em vez de calçado comum: “Quando, segundo São Marcos, o Salvador lhes recomenda calçar as sandálias, é preciso ver nessas sandálias um significado simbólico e misterioso: o calçado deve deixar o pé do pregador descoberto por cima e protegido por baixo; isto significa que o Evangelho não pode permanecer oculto nem apoiar-se sobre as vantagens terrenas”.6
Quanto à recomendação de não levar duas túnicas para a viagem, assim a interpreta o mesmo Doutor: “O que significa a proibição de ter e de levar duas túnicas, e a proibição mais expressa de vestir mais de uma túnica, senão que os Apóstolos devem andar na simplicidade, sem a menor duplicidade?”.7
Por sua vez, São Beda interpreta da seguinte forma o simbolismo do pão, da mochila e do dinheiro: “No sentido alegórico, a mochila representa os encargos e os embaraços mundanos; o pão, as delícias da terra; e o dinheiro no cinto, a sabedoria que permanece escondida. Com efeito, quem se revestiu das funções de evangelizador não pode dobrar-se sob o peso das ocupações terrenas, nem deixar-se amolecer pelos desejos carnais, nem esconder, sob a negligência de um corpo entregue à ociosidade, o talento da palavra que lhe foi confiado”.8


Continua no próximo post

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