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63 É o Espírito que vivifica; a carne para nada aproveita. As palavras que Eu vos disse são espírito e vida.
Ao longo dos séculos multiplicaram-se, entre os comentaristas, várias interpretações sobre este versículo. A melhor delas nos parece ser a do Bispo de Hipona:
“Que sentido tem esta afirmação: a carne para nada aproveita? Para nada aproveita no sentido em que os judeus a entenderam. Entenderam ‘carne’ no sentido em que se toma, quando é cortada no cadáver, ou vendida no talho, e não enquanto a carne tem vida, que lhe é comunicada pelo espírito. (...)
“Assim sucede com a expressão: a carne para nada aproveita, a carne tomada isoladamente. Junte-se o espírito à carne, como se junta a caridade à ciência, e a carne aproveita de um modo extraordinário.
“Se a carne para nada aproveitasse, o Verbo não Se faria carne para habitar entre nós. Se Cristo nos aproveitou muito por meio da carne, como pode dizer-se que a carne para nada aproveita?
“Mas o espírito fez alguma coisa em ordem à nossa salvação, por meio da carne. A carne foi um vaso. Atende ao que o vaso encerrava, e não à natureza do mesmo vaso” (7).
Alimento espiritual e material
Não é exagero julgar que o alimento material foi criado para o desenvolvimento e sustento orgânico do homem, com vistas também a servir de símbolo para a instituição da Eucaristia. Há, entretanto, uma distinção entre o alimento material e o espiritual. O primeiro produz em nós seus efeitos, convertendo-se em substância de nosso organismo, ao ser por ele assimilado. Com o segundo se passa exatamente o contrário: nós somos assumidos por ele, como diz Santo Agostinho, “o qual narra ter como que ouvido a voz de Cristo lhe dizendo: Não serás tu que Me mudarás em ti, como fazes com o alimento da tua carne, mas és tu que te transformarás em Mim” (8). “A virtude própria deste alimento divino é uma força de união que nos vincula ao Corpo do Salvador e nos faz seus membros, a fim de que nos transformemos naquilo que recebemos” (9).
Pela Eucaristia passamos a ser outros Cristos
Pela Eucaristia, participamos não só da própria vida de Jesus como também de todo o tesouro de seu Sagrado Coração, dos méritos de sua oração, sacrifício, etc. Essa realidade mística arranca surtos de entusiasmo das almas dos bem-aventurados: “Para vir ao mundo a fim de nos redimir, Deus Se fez homem. Quando tu vais ao altar e O recebes, és tu que te transformas n’Ele. E se dissesse que te fazes Cristo, não mentiria” (10).
Por outro lado, ao comungarmos, passamos a ser parte de Cristo: “Quando comungas, passas a ser membro do Corpo de Cristo; assim como a mão é parte do corpo, vive e se sustenta dele, assim fazes parte de Cristo, vives e te sustentas d’Ele, incorporando-te pela comunhão em Cristo, como o membro no corpo” (11).
Ora, se a Eucaristia, por assim dizer, transforma-nos em Cristo, nossa vida moral também será participativa da santidade de Jesus. Não é sem fundamento que se afirma: “Christianus alter Christus” (12), pois, realmente, pelo Batismo passamos a ser outros Cristos, e a Eucaristia vai paulatinamente reproduzindo em nós os mesmos sentimentos e virtudes próprias ao Homem-Deus. Com o tempo, e pela assídua freqüência a esse Sacramento, pensaremos, amaremos e agiremos tal como Ele próprio. Nossa caridade, humildade, obediência e demais virtudes serão semelhantes às d’Ele.
Continua
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