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segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Comentário ao Evangelho – XXV Domingo do Tempo Comum Ano B Mc 9, 30-37

Acompanhe os comentários de Mons João Clá Dias ao Evangelho Mc 9, 30-37 em diversos posts.


Evangelho Mc 9, 30-37
30“Tendo partido dali, atravessaram a Galileia. Não queria, porém, que ninguém o soubesse. 31 E ensinava os seus discípulos: ‘O Filho do homem será entregue nas mãos dos homens, e matá-Lo-ão; e ressuscitará três dias depois de sua morte’. 32 Mas não entendiam estas palavras; e tinham medo de Lhe perguntar. 33 Em seguida, voltaram para Cafarnaum. Quando já estava em casa, Jesus perguntou-lhes: ‘De que faláveis pelo caminho?’. 34 Mas eles calaram-se, porque pelo caminho haviam discutido entre si qual deles seria o maior. 35 Sentando-Se, chamou os Doze e disse-lhes: ‘Se alguém quer ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos’. 36 E tomando um menino, colocou-o no meio deles; abraçou-o e disse-lhes: 37 ‘Todo o que recebe um destes meninos em Meu nome, a Mim é que recebe; e todo o que recebe a Mim, não Me recebe, mas Aquele que Me enviou’”
Uma sociedade marcada pela inocência
A sociedade humana no Paraíso
Uma sociedade que se desenvolvesse no Paraíso Terrestre, composta por uma humanidade em estado de justiça original, seria regida pela graça divina e favorecida por dons preternaturais e sobrenaturais concedidos por Deus. Nela reinariam a plena harmonia e o total entendimento entre os homens, sem inveja nem rivalidades. Cada qual admiraria a virtude dos outros, alegrando-se com eles e desejando-lhes a maior santidade possível.
Aconteceu, contudo, que o homem pecou e foi expulso do Paraíso. Despojada dos dons de que gozavam nossos primeiros pais, a humanidade ficou sujeita à doença, à morte, ao desequilíbrio psíquico e a tantas outras mazelas.
Mais grave ainda, a alma perdeu o dom da integridade, pelo qual dominava a concupiscência e mantinha as paixões em perfeita ordem.1 Sem este dom, elas entraram em ebulição, tornando necessária ao ser humano uma contínua luta interior para poder governá-las. A inocência entrou em estado de beligerância para se preservar do pecado.
A causa mais profunda das dissensões
Consequências dessa desordem são a inveja e as rivalidades, principal causa, por sua vez, das rixas e dissensões. Pois, como afirma o Apóstolo São Tiago na segunda leitura deste 25º Domingo do Tempo Comum, “onde há inveja e rivalidade, aí estão as desordens e toda espécie de obras más” (Tg 3, 16).
Com efeito, é a inveja um dos vícios mais perniciosos. Quem por ela se deixa levar, não conhece a felicidade. O invejoso está sempre se comparando com os outros, e quando se depara com quem o supera em qualquer ponto, logo se pergunta: “Por que ele é mais e eu menos? Por que ele tem e eu não?”. Essa atitude torna ácida e amargurada a sua vida, causando toda espécie de dissabores e, por vezes, até de mal-estar físico.
Deste “por que” — proveniente em última análise do orgulho — decorrem os males todos. Bem claramente o aponta São Tiago: “De onde vêm as guerras? De onde vêm as brigas entre vós? Não vêm, justamente, das paixões que estão em conflito dentro de vós?” (Tg 4, 1).
Quanta luta trava o homem hoje, por exemplo, para obter mais dinheiro, mais poder ou mais prestígio, recorrendo muitas vezes a meios ilícitos ou até criminosos! Em quantas misérias morais cai ele, para atingir esse objetivo!
Contudo, mesmo tendo acumulado imensa fortuna, ou galgado o supra-sumo do poder, nunca estará satisfeito. Sempre quererá mais, porque a alma humana é insaciável, por natureza, uma vez que é feita para o infinito, para o absoluto, para o eterno.2 Daí conclui São Tiago: “Cobiçais, mas não conseguis ter. Matais e cultivais inveja, mas não conseguis êxito. Brigais e fazeis guerra, mas não conseguis possuir” (Tg 4, 2).
Enorme esforço faz o homem ganancioso para obter algo que, em vez de trazer-lhe a felicidade, o fará perder a paz de alma!
A santidade faz recuperar o equilíbrio perdido
Para vencer as paixões desregradas e recuperar o equilíbrio de alma perdido por causa do pecado, há apenas um caminho: abraçar as vias da santidade.
Na luta constante contra as próprias paixões, procurando submetê-las à Lei Divina, irá o homem restaurando a inocência primitiva, e, com isso, suas reações de alma se tornarão cada vez mais semelhantes àquelas que teria no Paraíso. O que ali lhe seria fácil, custa-lhe agora, nesta terra de exílio, grande esforço, dura luta interior e muita ascese, acompanhados do indispensável auxílio da graça. Pois sem esta nenhum homem é capaz de dominar a tremenda ebulição das próprias paixões.
Portanto, o Reino de Deus prosperará nesta terra na medida em que houver entre os homens almas santas, faróis de virtude e de inocência a iluminar o caminho da humanidade. Será o Reino da inocência, à imagem do Inocente por excelência, Nosso Senhor Jesus Cristo. Teremos, assim, a realização mais próxima possível da civilização paradisíaca. É esta uma das importantes lições a tirar do rico Evangelho deste domingo.

Continua no próximo post.

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