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sábado, 22 de dezembro de 2012

Evangelho Missa da Noite do Natal do Senhor - Ano C 2012

Continuação dos comentários ao Evangelho Missa da Noite do Natal do Senhor -  Ano C-  2012

Adoração dos pastores
8 Naquela mesma região, havia uns pastores que velavam e faziam de noite a guarda ao seu rebanho. 9 Apareceu-lhes um anjo do Senhor e a glória do Senhor os envolveu com a sua luz e tiveram grande temor.
Também Davi havia sido pastor de ovelhas, e naquela gruta estavam três de seus descendentes, sendo um deles o Filho do Altíssimo. A corte celeste já rendera culto e homenagem ao Menino. Nascido com nossa natureza, digno e justo era que também de nossa sociedade recebesse Ele adoração.
Uma categoria social desprezada
Os pastores constituíam uma comunidade desprezada pelos fariseus. No caso concreto de Belém, trabalhavam eles nos confins da região, onde o cultivo das plantações já não interessava e as terras estavam abandonadas e incultas. Ali permaneciam os rebanhos mais numerosos, fosse inverno ou verão, vigiados por alguns homens. Os habitantes do povoado guardavam seus animais nos estábulos dos arredores. A péssima reputação dos pastores entre os fariseus provinha de várias razões. Percebe-se, de imediato, que as funções por eles exercidas não se coadunavam muito com as inúmeras abluções, lavar de mãos, purificação de vasilhas, seleção de alimentos, etc., às quais os fariseus davam tanta importância. Mas, sobretudo, eram eles homens de bom senso e mais dados à contemplação. O contato permanente com a natureza saída das mãos de Deus, na calma e tranquilidade do isolamento do campo, lhes enriquecia a alma de pensamentos elevados, conduzindo-os à elaboração de critérios sólidos, difíceis de serem destruídos pela ilogicidade caprichosa dos fariseus.
Eis, em poucas palavras, os motivos pelos quais os pastores eram excluídos dos pleitos judiciais dos fariseus, não eram aceitos como testemunhas, e nem sequer podiam entrar em seus tribunais.
Separando dos incrédulos os que têm fé
Assim, já ao nascer, o Menino-Deus iniciou sua missão de pedra de escândalo, deixando de lado os que não crêem. Herodes ouviria dos lábios dos Reis Magos o anúncio do grande milagre; aqueles que recusaram pousada aos pais do Menino, e os próprios fariseus, com sua pérfida pertinácia, também rejeitariam os milagres de Jesus. Todos esses não creram. Os Anjos buscaram os pastores por terem estes uma robusta virtude da fé, toda feita de obediência. Não era fácil crer num Messias nascido em plena pobreza, num estábulo, entre um boi e um burro. Os pastores, entretanto, foram escolhidos por Deus, não por sua simplicidade de vida e de costumes, nem sequer pela sua pouca capacidade financeira — pois muitos outros havia em Israel mais pobres e simples do que eles —, mas porque estavam predispostos a crer.
O temor da grandeza de Deus
Sem embargo, os pastores “tiveram grande temor”. Herodes também temeria, da mesma forma que, mais tarde, os escribas, os fariseus e o Sinédrio. São muito diferentes todos esses temores. A aparição de um Anjo, para os judeus, vinha sempre acompanhada da ideia de perecimento imediato. Mas neste caso, além do mais, dava-se a manifestação da glória de Deus, e o natural efeito de sua grandeza é o temor, seguido de admiração ou de ódio, nunca de indiferença. Por isso uns irão correndo à Gruta para adorá-Lo e outros quererão matá-Lo.
10 Porém, o anjo disse-lhes: “Não temais, porque vos anuncio uma boa nova, que será de grande alegria para todo o povo: 11 Nasceu-vos hoje na cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo, o Senhor. 12 Eis o que vos servirá de sinal: Encontrareis um Menino envolto em panos e deitado numa manjedoura”.
O anúncio do Anjo se inicia por uma determinação: “Não temais!” Estas palavras evidentemente diziam respeito à sua própria aparição, mas bem poderiam constituir um letreiro a ser colocado sobre a manjedoura onde repousa o Menino-Deus. Sim, porque, apesar da fragilidade de um recém-nascido, ali se encontram a Grandeza infinita de Deus, a Verdade, a Justiça e a Bondade. Por nossa natureza defectiva e por sermos pecadores, temos medo da Justiça e, assim como a luz muito brilhante pode ferir os olhos enfermos, treme nossa maldade diante da Grandeza de Deus.
Daí ter o Anjo recomendado com tom imperativo que não temessem, e logo a seguir lhes falado de uma “grande alegria”. De fato, impossível alegria maior. Aquele Messias que tanto fora objeto de suas longas conversas, como também de suas inúmeras contemplações, havia nascido. Apesar de sua formação tosca, estavam os pastores isentos do dogmatismo obliterado dos fariseus; com a fé inocente de camponeses que eram, cheios da graça do Espírito Santo, imediatamente acreditaram na angélica mensagem.
Encontrarem o local não constituía problema para eles, pois todos os estábulos já lhes eram muito conhecidos. Nas noites de muito frio, ou chuva, buscavam refúgio nessa ou naquela gruta. O Anjo lhes dá o sinal indicativo: “Um Menino envolto em panos e deitado numa manjedoura”.
O cântico dos anjos
13 E subitamente apareceu com o anjo uma multidão da milícia celeste louvando a Deus e dizendo: 14 “Glória a Deus no mais alto dos Céus, e paz na terra aos homens, objecto da boa vontade de Deus ”.
Fixemos nossa atenção nestas palavras: “multidão da milícia celeste (...) glória a Deus”.
Glória a Deus nas alturas...
Sim, a maior glória que a humanidade e os próprios Céus poderiam dar a Deus realizou-se no grandioso nascimento do Senhor. Toda a criação — nela incluída a Santíssima Virgem — reunida num só coro, jamais prestaria a Deus o louvor que se elevou do Menino Jesus em seu nascimento. Antes de este ter-se dado, os cânticos de todos os seres eram débeis e sem eco. Com a vinda de Cristo, causa meritória e eficiente de nossa divinização, toda a obra da criação atingiu um patamar inimaginável. E tornando-Se Jesus centro e modelo, não apenas o cântico passou a ser outro, como Ele também começou a cooperar na infinita glorificação que o Pai deseja Lhe seja tributada. A humanidade adquiriu como cabeça e sacerdote o próprio Cristo, que só por seu nome dá toda glória a Deus.
Aquele Menino na manjedoura, desde seu primeiro momento e ao longo de sua vida, em suas palavras, obras e sofrimentos, nada quis mais do que ser instrumento para servir, louvar e glorificar a Deus.
Tanto mais nobre será o homem, quanto mais se considerar criatura de Deus e deste princípio tirar todas as consequências, conferindo à sua vida uma inteira ordenação. Daí nascerão as mais belas virtudes. Ora, vindo esta noite ao mundo, o Menino, desde seu abrir de olhos, sempre foi submisso a Deus, na completa justiça, equidade e perfeição. Até mesmo sem levar em conta o caráter expiatório de sua Encarnação, já é insuperável a glória que se elevou a Deus, partindo daquela gruta em Belém.
Paz na terra...
Em harmonia com essa “Glória a Deus nas alturas”, o Menino veio trazer a paz aos homens. Sim, Ele nos reconciliou com Deus, ensinounos a bem conhecer e amar o Pai, assim como nossos irmãos, e, morrendo por todos e cada um, convidou-nos à santidade. O nosso fim último tornou-se claramente explícito, como também ficou indicado qual deve ser o nosso governo sobre nós mesmos e sobre as criaturas.
Mais uma vez, aproximemo-nos do Presépio e adoremos o Menino, Príncipe da Paz, e ouçamos a voz de Isaías: “Como são belos sobre as montanhas os pés do mensageiro que anuncia a felicidade, que traz as boas novas e anuncia a libertação, que diz a Sião: Teu Deus reina!” (Is 52,7). Ele, o autor da graça santificante, sem a qual “não pode haver verdadeira paz, mas somente uma paz aparente” (6).
Eis o convite essencial para o mundo de hoje tomado pelas guerras, catástrofes e ameaças: ajoelhe-se e, juntamente com Maria, José e os pastores, ouça a saudação de São Paulo: “O Senhor da paz, Ele próprio, vos dê a paz, sempre e em todos os lugares” (2 Ts 3, 16).

1)       Hoje nasceu Cristo.
2)       Suma Teológica III, q. 35, a. 8, ad 1.
3)       Cf. Epitaph Paulae [inter Epist. S. Hieron., 108, 27] 10. Efratá significa fértil.
4)       Suma Teológica III, q. 35, a.7, ad 1.
5)       Suma Teologica III, q. 35 a. 2c.
6)       São Tomás de Aquino, Suma Teológica, II-II, q. 29, a. 3, ad. 1.

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