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terça-feira, 12 de março de 2013

Evangelho 5º Domingo da Quaresma - Ano C - 2013 - Jo 8, 1-11


Continuação dos comentários ao Evangelho V Domingo da Quaresma -  Ano C -  2013 - Jo 8, 1-11



Jesus eleva a questão do plano jurídico ao moral

7 Como eles insistissem, ergueu-Se e disse-lhes: “Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra”.

No Deuteronômio encontramos a clara obrigatoriedade de a primeira testemunha de um crime, punido com pena de morte, atirar a primeira pedra: “Tens, ao contrário, o dever de matá-lo:

Diante do Senhor se encontravam mestres da Lei e fariseus, peritos no domínio desses conhecimentos relativos à jurisprudência. Portanto, Jesus não se exime, pronuncia a sentença, mas, a propósito de sua execução, aproveita o ensejo para transferir a problemática do campo jurídico a um plano muito mais elevado, ou seja, o moral. Frase divinamente célebre, se ela fosse gravada de forma indelével em nossos corações, compenetrados estaríamos de nossa indignidade, de

nossas insuficiências, pecados, etc., e não seríamos ásperos com ninguém, nem repreenderíamos com dureza de coração os culpados. Doçura, humildade e compaixão constituiriam a essência de nosso relacionamento, e assim, atrairíamos a benevolência de Deus e seríamos causa de edificação do próximo. “Creio que Cristo quis criticá-los, e não só dava a entender que podiam pecar, enquanto homens, e que eram pecadores de fato — quer dizer, que estavam manchados de pecados como a generalidade dos homens — mas também que eram hipócritas: cheios de iniqüidade no interior, enquanto no exterior fingiam santidade e zelo religioso, tratando de apedrejar aquela mulher. Increpou-os como naquela outra ocasião em que os chamou de sepulcros caiados (Mt 23, 27). Feriu-os, portanto, no íntimo da consciência, ao dizer-lhes: ‘Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra’, dando a entender que eles eram réus daquele pecado ou de outros maiores. Mas essa acusação é tão prudente que não parece ser Ele quem a faz, mas a consciência de cada um deles. O Salvador os remete às suas próprias consciências, estabelecendo-as como juízes, como se Ele ignorasse o que nelas havia. De certo modo, é de direito natural que quem acusa ou condena alguém esteja livre do pecado que lhe reprocha” (8).

Pode um homem julgar outro homem?

É insuperavelmente magistral essa resposta de Nosso Senhor, pois não assume a função de juiz, que lhe ofereciam os escribas e fariseus, mas sim a de Mestre, conforme o título empregado por eles ao Lhe proporem o julgamento (v. 4). Como Altíssimo Conselheiro, Jesus lhes recorda que um juiz, apesar de seus pecados ou falhas, pode — e até deve — julgar e condenar, se necessário for; porém, levanta para eles um espinhoso problema: pode um pecador ser o executor da justiça de Deus?

O único, verdadeiro e competente Juiz é Nosso Senhor Jesus Cristo: “O Pai não julga ninguém, mas entregou todo o julgamento ao Filho” (Jo 5, 22). Todo aquele que de forma competente julga outro homem, por direito natural, positivo ou divino, assim o faz por delegação de Jesus Cristo. Entretanto, aquela sentença moral lançada contra homens orgulhosos que hipocritamente se julgavam santos e imaculados, de si não os deteria em sua determinação de cumprir a Lei, se esse fosse realmente seu objetivo exclusivo. Que mais faria Jesus para impedi-los?

Escrevendo, Jesus acusava os acusadores

8 Inclinando-Se novamente, escrevia na terra.

 Por mais que São Jerônimo não seja acompanhado pela maioria dos autores, parece ter ele inteira razão em sua análise a respeito deste ponto. Não cremos ser de boa linha a opinião de alguns comentaristas, de que Jesus escrevia sem um objetivo definido, como simplesmente querendo significar seu desinteresse pela questão levantada, ou para ganhar tempo. Tudo leva a crer que os pecados, dignos do mesmo castigo, cometidos pelos acusadores, figuravam naquela escrita aparentemente informal. Santo Ambrósio é também partidário desta hipótese de São Jerônimo.

Se assim de fato foi, Jesus procedeu com invariável sabedoria e, ademais, com suma bondade, pois poderia contra-acusar de público cada um deles, e não o fez. Muito pelo contrário, colocava-lhes à disposição seu total perdão. Bastaria um arrependimento interior e um pedido de misericórdia, ainda que implícito, para todos saírem daquela situação em inteira harmonia com Deus e até mesmo entre eles próprios. Jesus lhes oferecia essa grande oportunidade, mas...


Continua nos próximos posts.

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