CONTINUAÇÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO DOMINGO DE RAMOS DA PAIXÃO DO SENHOR Lc 23, 1-49 Ano C 2013
Inteira conformidade com a vontade do Pai
Ora, até então Nosso Senhor sempre evitara qualquer
homenagem ostensiva à sua realeza, impondo silêncio àqueles que reconheciam
n’Ele o Salvador. No momento em que o povo quis proclamá-Lo rei, logo após a primeira
multiplicação dos pães, Ele Se havia esquivado, retirando-Se sozinho para um
monte (cf. Jo 6, 15). Na entrada em Jerusalém neste dia, pelo contrário,
aceitou com inteira naturalidade as honras e aplausos. Tal atitude, além de
permitir que as pessoas por Ele beneficiadas manifestassem sua gratidão de
maneira formal, tinha em vista também a Paixão, pois era preciso ficar notório
e testemunhado pelo próprio povo que o Crucificado era o descendente de Davi por
excelência, o Messias esperado.
Vemos aqui ressaltada a plena conformidade de Nosso Senhor
com a vontade do Pai. Quando Lhe foi pedido o apagamento, o Divino Redentor o abraçou
por completo: nasceu numa Gruta da pequena Belém e recebeu tão somente a
adoração dos pastores e dos Magos vindos de terras longínquas. A única reação
de Jerusalém à notícia de seu nascimento fora a perturbação (cf. Mt 2, 3), e
nenhum de seus habitantes saíra à procura do rei dos judeus recém-nascido para
Lhe prestar homenagens.
Entretanto, chegado o momento propício de sua glorificação pelos
homens, Ele acolheu com benevolência os brados que O proclamavam Rei de Israel,
assim como, durante anos, aceitara ser chamado de “filho do carpinteiro” (Mt
13, 55). Na resposta à insolente interpelação dos fariseus pedindo-Lhe que
censurasse seus aclamadores, Jesus deixou bem claro ser esse triunfo a realização
de um desígnio divino, o qual se cumpriria mesmo se os homens se negassem a
louvá-Lo: “Eu vos declaro: se eles se calarem, as pedras gritarão”.
Triunfo prenunciador da Paixão
Um detalhe da cerimônia litúrgica indica outro aspecto do Domingo
de Ramos, sem o qual não nos seria possível entender seu significado mais
profundo: o sacerdote celebra revestido dos paramentos vermelhos, cor própria à
comemoração dos mártires.
Devido à sua personalidade divina, para Nosso Senhor tudo é
presente, tanto o passado quanto o futuro. Por conseguinte, Ele via que dentro
de alguns dias, uma vez mais, estrugiriam nas ruas de Jerusalém brados bem
diferentes dos que então O reconheciam como Filho de Davi. Diante de Pilatos, o
populacho vociferaria pedindo sua crucifixão e a libertação do vulgar bandido,
Barrabás. A esse respeito, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira faz uma
observação: “Os pintores católicos que reproduziram a cena apresentam Nosso
Senhor recebendo com certo bom grado aquela homenagem, mas com um fundo de
tristeza e ao mesmo tempo de severidade, porque Ele compreendia o que aquilo
tinha de vazio, e que o povo que O aclamava, sem pensar nisso, reconhecia a sua
própria culpa. [...] Ele desfila bondoso e triste; Ele sabe o que O espera”.7
O triunfo de Jesus em Jerusalém não era senão o prenúncio de
seu martírio na Cruz. Os evangelistas, sempre muito sintéticos, tiveram
especial diligência ao consignar a Paixão de Cristo, acontecimento de importância
ímpar na História. E por isso que o Evangelho da Missa deste domingo excede em
extensão o habitual dos demais, o que impossibilita comentar cada um de seus
versículos no exíguo espaço de um artigo. Façamos, então, uma reflexão que nos
coloque na adequada perspectiva para contemplar as maravilhas oferecidas pela
Liturgia do Domingo de Ramos, de modo a obtermos os melhores frutos para nossa
vida espiritual.
Continua no próximo post.
7) CORREA DE OLIVEIRA, Plinio. Palestra. São Paulo, 14 abr.
1984.
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