EVANGELHO 14 DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C 2013 Lc 10, l-12.17-20
Naquele tempo, o Senhor escolheu outros setenta e dois
discípulos e os enviou dois a dois, na sua frente, a toda cidade e lugar aonde
ele próprio devia ir. 2 E dizia-lhes “A messe é grande, mas os trabalhadores
são poucos. Por Isso, pedi ao dono da messe que mande trabalhadores para a
colheita. Eis que vos envio como
cordeiros para o meio de lobos. Não
leveis bolsa nem sacola nem sandálias, e não cumprimenteis ninguém pelo
caminho! Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta
casa!’ 6 Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará sobre ele; se não,
ela voltará para vós. Permanecei naquela
mesma casa, comei e bebei do que tiverem, porque o trabalhador merece o seu
salário. Não passeis de casa em casa.
8 Quando entrardes numa cidade e fordes bem recebidos,
comei do que vos servirem curai os doentes que nela houver e dizei ao povo: ‘O
Reino de Deus está próximo de vós’. 10 Mas, quando entrardes numa cidade e não
fordes bem recebidos, saindo pelas ruas, dizei: ‘‘‘Até a poeira de vossa cidade
que se apegou aos nossos pés, sacudimos contra vós’. No entanto, sabei que o
Reino de Deus está próximo! 2 Eu vos digo que naquele dia, Sodoma será tratada
com menos rigor do que essa cidade”. Os setenta e dois voltaram muito
contentes, dizendo: “Senhor, até os demônios nos obedeceram por causa do teu
nome”.18 Jesus respondeu: “Eu vi Satanás cair do céu, como um relâmpago. ‘‘ Eu
vos dei o poder de pisar em cima de cobras e escorpiões e sobre toda a força do
inimigo. E nada vos poderá fazer mal. 20 Contudo, não vos alegreis porque os
espíritos vos obedecem. Antes, ficai alegres porque vossos nomes estão escritos
no céu” (Lc 10, 1-12.17-20).
Comentários ao Evangelho do XIV DOMINGO DO TEMPO COMUM
O vade-mécum do apóstolo
Válidas para todas as épocas históricas,
as normas dadas pelo Divino Mestre aos setenta e dois discípulos delineiam o
perfil de um auténtico evangelizador e constituem precioso guia para conduzir
os homens à verdadeira felicidade.
Como alcançar a felicidade?
Pródigo em irradiar a luz e o
calor, o Astro Rei anuncia o início e o
término de cada dia com fulgores sempre novos, oferecendo a quem quiser
contemplá-lo, no alvorecer ou no ocaso, um belo espetáculo que proclama a grandeza
de Deus. Algo semelhante pode ser observado em todos os seres materiais, pois o
Criador os dispôs, um a um, conforme os desígnios de sua sabedoria, e “tudo
tende regularmente para a sua finalidade” (Edo 43, 28). As árvores frutíferas,
por exemplo, dão em alimento aos homens e aos animais a abundância de seus
frutos, com a diversidade de sabores, perfumes, formatos e colorações que
caracteriza a riqueza de sua vitalidade. E, quer em meio às águas, quer nas
alturas do firmamento, sobre a Terra ou até nas profundezas dela, o reino
animal manifesta com profusão ainda maior as infinitas perfeições do Autor da
vida. Guiados por instintos inerrantes, os animais movem-se com impressionante
acerto para obter o seu sustento, e algumas espécies constroem abrigos tão
engenhosos, como é o caso das abelhas, que causam admiração à própria
inteligência humana. A respeito de tão eloquente harmonia da criação, afirma
São Boaventura: “O universo é semelhante a um canto magnífico que desenrola
suas maravilhosas consonâncias; suas partes se sucedem até que todas as coisas
sejam ordenadas em vista de seu fim”.1 Este fim último e absoluto de todas as
criaturas consiste em dar glória a seu Criador, pois o mundo foi por Ele tirado
do nada, não por uma necessidade, mas como manifestação de uma bondade infinita,
conforme ensina São Tomás.2
Da parte dos seres irracionais,
esse louvor é tributado pelo simples fato de existirem e trazerem em si
reflexos do Criador, como canta o Eclesiástico: “A obra do Senhor está cheia de
sua glória” (42, 16). Entretanto, o dever de tal glorificação cabe em especial
às criaturas inteligentes e livres — Anjos e homens, por serem capazes de honrar
a Deus por amor, de modo consciente, livre e voluntário. O renomado teólogo
Frei Royo Marín, OP, pondera: “Ao homem, principalmente, por ser composto de
espírito e matéria, corresponde recolher o clamor inteiro da criação, que
suspira pela glória de Deus (cf. Rm 8, 18-23), e oferecê-la ao Criador, como um
hino grandioso em união com sua própria adoração”.3
Na sua misericórdia, a Providência
faz coincidir essa glorificação com a felicidade do ser humano, procurada com
incansável ardor ao longo da vida terrena: ‘Alcançando sua própria felicidade,
o homem glorifica a Deus e, glorificando-O, encontra sua própria felicidade.
São dois fins que se confundem realmente, embora haja entre eles uma diferença
de razão. A suprema glorificação de Deus coincide plenamente com a nossa suprema
felicidade”,4 conclui o teólogo dominicano. Apesar de tal plenitude ser
atingida apenas ao se entrar na bem-aventurança eterna, é possível ao homem gozar
de certa felicidade verdadeira ainda nesta vida. Desfrutam-na todos os que
orientam a existência rumo à finalidade suma, conhecendo, amando e servindo a
Deus, trilogia que se sintetiza na prática da virtude e no empenho em promover
a glória d’Ele na Terra.
Ora, como “o bem, enquanto tal,
é difusivo; e quanto melhor algo é, tanto mais difunde sua bondade às coisas
mais distantes”, as almas possuidoras de tal alegria não a limitam à satisfação
pessoal, pois anseiam transmiti-la a todos os semelhantes. Surge, então, o
corolário da verdadeira felicidade, sobre o qual o Evangelho deste 14 Domingo
do Tempo Comum nos oferece preciosos ensinamentos: fazer o bem ao próximo, levando-o
a participar das alegrias da virtude, nesta Terra, rumo às eternas alegrias do
Céu.
O VADE-MECUM DO APÓSTOLO
Conquanto não seja possível
saber com precisão a ordem cronológica dos fatos ocorridos na fase da vida de
Nosso Senhor contemplada no Evangelho de hoje, muitos comentaristas concordam
em reunir, como concernentes a uma única viagem, o relato de São João sobre a
ida de Jesus a Jerusalém, para a Festa dos Tabernáculos (cf. Jo 7, l-53), e o
de São Lucas, ao registrar que o Salvador resolvera dirigir-Se à Cidade Santa
porque o tempo da Paixão se aproximava (cf. Lc 9, 51).6
Segundo essa interpretação e e
de acordo com a narração do terceiro Evangelista, foi durante essa viagem que
Tiago e João perguntaram ao Mestre se poderiam fazer vir fogo do céu sobre os
inospitaleiros samaritanos, sendo repreendidos com a belíssima afirmação acerca
da missão do Redentor: “O Filho do Homem não veio para perder as vidas dos
homens, mas para salvá-las” (Lc 9, 56). Em seguida, o Evangelista registra três
diálogos entre Jesus e algumas pessoas com vocação para segui-Lo. Os conselhos
dados por Nosso Senhor deixam evidenciada a seriedade do chamado para ser
Apóstolo e a necessidade imposta pela vocação de romper os laços com o mundo
(cf. Lc 9, 57-62).
Situando a escolha dos setenta
e dois discípulos logo a seguir, São Lucas compõe um quadro bastante expressivo
a respeito da impostação de espírito e da conduta que deve caracterizar os
convocados a propagar o Reino de Deus. Provavelmente foi após o término das
comemorações religiosas mencionadas por São João que Jesus, visando à evangelização
da vasta região da Judeia, instituiu o novo método de ação apostólica
considerado no trecho do Evangelho deste domingo.
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