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quinta-feira, 5 de setembro de 2013

XXIV Domingo do Tempo Comum - Ano C - 2013

Evangelho 24º Domingo do Tempo Comum - Ano C - 2013 - Lc 15, 1-32

“Naquele tempo, 1 os publicanos e pecadores aproximavam-se de Jesus para O escutar. 2 Os fariseus, porém, e os mestres da Lei criticavam Jesus. ‘Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles’.
3 Então Jesus contou-lhes esta parábola: 4 ‘Se um de vós tem cem ovelhas e perde uma, não deixa as noventa e nove no deserto, e vai atrás daquela que se perdeu, até encontrá-la? 5 Quando a encontra, coloca-a nos ombros com alegria, 6 e, chegando a casa, reúne os amigos e vizinhos, e diz: ‘Alegrai-vos comigo! Encontrei a minha ovelha que estava perdida!’. 7 Eu vos digo: Assim haverá no céu mais alegria por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão. 8 E se uma mulher tem dez moedas de prata e perde uma, não acende uma lâmpada, varrea casa e a procura cuidadosamente, até encontrá-la? 9 Quando a encontra, reúne as amigas e vizinhas, e diz: ‘Alegrai-vos comigo! Encontrei a moeda que tinha perdido!’. 10 Por isso, eu vos digo, haverá alegria entre os Anjos de Deus por um só pecador que se converte’.
11 E Jesus continuou: ‘Um homem tinha dois filhos. 12 O filho mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me cabe’. E o pai dividiu os bens entre eles. 13 Poucos dias depois, o filho mais novo juntou o que era seu e partiu para um lugar distante. E ali esbanjou tudo numa vida desenfreada.
14 Quando tinha gasto tudo o que possuía, houve uma grande fome naquela região, e ele começou a passar necessidade. 15 Então foi pedir trabalho a um homem do lugar, que o mandou para seu campo cuidar dos porcos. 16 O rapaz queria matar a fome com a comida que os porcos comiam, mas nem isto lhe davam.
17 Então caiu em si e disse: ‘Quantos empregados do meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome. 18 Vou-me embora, vou voltar para meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra Deus e contra ti; 19 já não mereço ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados’.
20 Então ele partiu e voltou para seu pai. Quando ainda estava longe, seu pai o avistou e sentiu compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o e cobriu-o de beijos. 21 O filho, então, lhe disse: ‘Pai, pequei contra Deus e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho’.
22 Mas o pai disse aos empregados: ‘Trazei depressa a melhor túnica para vestir meu filho. E colocai um anel no seu dedo e sandálias nos pés. 23 Trazei um novilho gordo e matai-o. Vamos fazer um banquete. 24 Porque este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado’. E começaram a festa.
25 O filho mais velho estava no campo. Ao voltar, já perto de casa, ouviu música e barulho de dança. 26 Então chamou um dos criados e perguntou o que estava acontecendo. 27 O criado respondeu: ‘É teu irmão que voltou. Teu pai matou um novilho gordo, porque o recuperou com saúde’.
28 Mas ele ficou com raiva e não queria entrar. O pai, saindo, insistia com ele. 29 Ele, porém, respondeu ao pai: ‘Eu trabalho para ti há tantos anos, jamais desobedeci a qualquer ordem tua. E tu nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos. 30 Quando chegou esse teu filho, que esbanjou teus bens com prostitutas, matas para ele o novilho cevado’.
31 Então o pai lhe disse: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. 32 Mas era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado’” (Lc 15, 1-32).
UMA CONCEPÇÃO ERRADA DA JUSTIÇA E DA MISERICÓRDIA
Os homens costumam julgar as atitudes alheias, em geral, com o seguinte critério: Agiu bem? Merece prêmio e estima. Agiu mal? Merece castigo e repulsa. Tal mentalidade, além de conspurcar a pureza de intenção das boas obras, levando a pessoa a fazer o bem pelo simples interesse de receber uma recompensa, cria na alma condições favoráveis ao desenvolvimento de toda sorte de vícios, semeados pelo amor-próprio ferido, tais como a vingança, o ressentimento e o rancor. No relacionamento com Deus, em consequência, muitos se baseiam na mesma concepção e O imaginam como um intransigente legislador, a quem a menor infração encoleriza e faz desfechar sobre o faltoso, de imediato, o merecido castigo. Ainda de acordo com esse critério, a benevolência divina apenas incide, em forma de bênçãos, consolações e demais favores sobrenaturais, sobre aqueles que, tendo cumprido de modo exímio os Mandamentos, merecem ser recompensados.
Ora, essa visão da perfeição infinita de Deus é muito deformada, pois Lhe atribui uma justiça conforme os limitados critérios humanos e ignora sua misericórdia. E tal atributo é n’Ele tão vigoroso que chega a vencer a própria justiça. Uma prova da insuperável força de sua compaixão são as palavras dirigidas aos nossos primeiros pais, logo após o pecado original: antes de sentenciar os sofrimentos aos quais a natureza humana estaria sujeita na terra de exílio, Ele lhes prometeu a vinda de um Salvador, nascido da descendência de Adão (cf. Gn 3, 15). Mal o homem havia pecado, o Senhor garantiu-lhe o perdão. Por isso, poderíamos parafrasear a afirmação de São João e dizer que, no “fiat!” de Maria Santíssima, o perdão de Deus se fez carne e habitou entre nós (cf. Jo 1, 14).
Durante sua vida mortal, Jesus manifestou com largueza o desejo de salvar, acolhendo com indulgência os pecadores arrependidos que a Ele acorriam, confiantes de ali encontrar o perdão. Entretanto, a mesma misericórdia que tanto atraía uns, despertava acirrada indignação em outros...
A MISERICÓRDIA POSTA EM PARÁBOLAS
“Naquele tempo, 1 os publicanos e pecadores aproximavam-se de Jesus para O escutar. 2 Os fariseus, porém, e os mestres da Lei criticavam Jesus. ‘Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles’”.
Para entendermos a fundo o motivo de tal objeção, basta considerar que os fariseus e mestres da Lei exemplificam de modo cabal a mentalidade deformada à qual nos referimos. Para eles “Deus é, sobretudo, Lei; julgam-se em relação jurídica com Deus e, sob este aspecto, quites com Ele”,1 comenta o Papa Bento XVI. Era também segundo o mesmo critério que avaliavam os outros, discriminando como pecadores — e, enquanto tais, objeto da ira divina e do desprezo dos homens — todos os judeus negligentes no cumprimento das prescrições legais relativas à pureza ritual ou alimentar. Na mesma categoria incluíam os publicanos, pois, além de colaborarem com o domínio pagão exercido por Roma, muitas vezes eram desonestos ao arrecadar os impostos, cometendo extorsões em benefício próprio. Todavia, o principal alvo de repulsa eram os pagãos, devido à errônea ideia, muito difundida entre os judeus, de que a eleição divina do povo hebreu era sinônimo da condenação eterna de todas as outras nações. Desta forma, se para os israelitas não observantes da Lei e para os cobradores de impostos havia ainda uma longínqua possibilidade de salvação, caso se arrependessem e se reconciliassem com Deus, tal hipótese não se aplicava a um estrangeiro, pelo simples fato de não ser beneficiário das promessas feitas aos patriarcas.
Nada poderia contundir de modo tão veemente essa mentalidade quanto o modo de Nosso Senhor proceder. A cura do servo do centurião romano (cf. Lc 7, 1-10; Mt 8, 5-13), a pecadora perdoada na casa de Simão, o fariseu (cf. Lc 7, 36-50), e a incorporação de um coletor de impostos ao Colégio Apostólico, com o chamamento de Levi (cf. Mt 9, 9-17; Mc 2, 13-22; Lc 5, 27-39), são alguns exemplos de atitudes escandalizantes para os fariseus, a cujos ouvidos soavam como blasfêmias as palavras: “Não vim chamar os justos, mas sim os pecadores” (Lc 5, 32).
Por esta razão, a todo momento procuravam mostrar sua ferrenha oposição a Ele, conforme nos narra o início do Evangelho deste domingo.2

No entanto, como Jesus desejava salvar a todos — inclusive os fariseus e mestres da Lei —, sua resposta a tais objeções foi uma tríade de parábolas, registradas por São Lucas à maneira de um mesmo argumento apresentado sucessivamente, sob diferentes invólucros. Em cada uma delas, Nosso Senhor visava não só incentivar os pecadores que O ouviam a confiarem no perdão, como também convencer os opositores acerca da necessidade da misericórdia, sem a qual ninguém pode se salvar.

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