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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Evangelho 3º Domingo do Advento - Ano A - 2013 Mt 11, 2-11

Continuação dos comentários ao Evangelho III Domingo do Advento  Mt 11, 2-11 ( Domingo Gaudete) Ano A – 2013
6 “Feliz aquele que não se escandaliza por causa de Mim!”.
Por fim, Nosso Senhor completa a resposta com estas palavras, sinal claro de que os discípulos de João Batista não aceitaram bem a mensagem e estavam com inveja da graça fraterna. Ao invés de se alegrarem por comprovar que outro fora favorecido pela benevolência de Deus, numa manifestação patente de seu poder, veem na Pessoa de Jesus uma sombra projetada sobre si mesmos.
Tendo concluído que o objetivo de Nosso Senhor não era a restauração do reino de Israel, sentiram-se frustrados, pois imaginavam que, pelo fato de haverem abandonado tudo para seguir o Precursor, seriam os primeiros junto ao Messias. Percebem agora que estão em segundo plano e, para se justificarem, têm de encontrar n’Ele defeitos que demonstrem, de acordo com seus conceitos, não ser o Enviado: “Ele só fala do Pai, do Reino Eterno, da vida após a morte; vem pregando uma ressurreição...ˮ. Em suma, escandalizaram-se, a exemplo dos fariseus, que decerto ali estavam e se tinham como os primeiros, muito acima dos discípulos de São João. Vaidosos de seu conhecimento da Lei e da perfeita observância das regras, viam os milagres de Jesus e diziam que agia pelo poder dos demônios (cf. Mt 9, 34).
Mais ainda, os próprios Apóstolos receavam que Ele enfrentasse as autoridades do establishment israelita, com receio de perder a oportunidade de seguir uma grande carreira baseada em seus dotes excepcionais, da qual eles tirariam o consequente proveito. Também para os Doze aquele Messias não correspondia ao que pretendiam e se escandalizavam. Por isso Nosso Senhor afirma: “Feliz aquele que não se escandaliza por causa de Mim!”, ou seja, “Feliz aquele que, apesar de o mundo defender que a alegria se obtém de outra forma, sabe que ela está na cruzˮ.
Os lábios divinos elogiam o Precursor
7 “Os discípulos de João partiram, e Jesus começou a falar às multidões sobre João: ‘O que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? 8 O que fostes ver? Um homem vestido com roupas finas? Mas os que vestem roupas finas estão nos palácios dos reis. 9 Então, o que fostes ver? Um profeta? Sim, Eu vos afirmo, e alguém que é mais do que profeta. 10 É dele que está escrito: Eis que envio o meu mensageiro à tua frente; ele vai preparar o teu caminho diante de Ti’”.
Em seguida partiram os discípulos de João, sem que o Evangelho registre se reconheceram Jesus como Messias ou não. Contudo, as palavras de Nosso Senhor são uma proclamação evi dente de sua identidade, pois Ele evoca as profecias e prova que as está cumprindo.
Após a saída deles, Jesus passa a falar sobre aquele que está encarcerado, elogiando-o por não ser um caniço agitado pelo vento ― uma pessoa inconstante ―, mas um homem firme, inabalável e íntegro, semelhante a uma torre ou uma rocha. Em sua austeridade recusara-se a usar roupas finas, como faziam os que se embrenhavam pelas vias políticas sem se importarem com o aspecto religioso, preocupados antes de tudo em traçar uma carreira social brilhante junto aos poderosos deste mundo.
Nosso Senhor quer ainda mostrar que a grandeza de João vai muito além de sua condição de profeta. Este, como é sabido, está incumbido de anunciar, ensinar e apontar, de acordo com a vontade de Deus, os caminhos do dever, quase sempre contrários às vias libertinas propostas pelo mundo. Ora, por que ultrapassou o Precursor o marco do profetismo? Por ter sido também chamado ― além de proclamar a verdade ― a preparar as veredas do Homem-Deus. É o que comenta São João Crisóstomo: “Em que, pois, é maior? No fato de estar mais próximo d’Aquele que tinha vindo. […] Assim como numa comitiva régia os que se encontram mais próximos à carruagem real são os mais ilustres entre todos, assim João, que aparece momentos antes do advento do Senhor. Notai como por causa disso [Jesus] declarou a excelência do Precursor”.3
Com profundidade e beleza, o Cardeal de La Luzerne exalta a figura de São João Batista, ressaltando seu papel ímpar na História: “Ele encerra a sucessão dos profetas e abre a missão dos Apóstolos. Ele pertence ao mesmo tempo à Antiga Lei e à Nova, e se eleva entre uma e outra como uma coluna majestosa, para marcar o limite que as separa. Profeta, apóstolo, doutor, solitário, virgem, mártir, ele é mais que tudo isso, porque é tudo isso ao mesmo tempo. Ele enfeixa todos os atributos da santidade, e ao juntar em si mesmo tudo aquilo que constitui as diferentes classes de Santos, forma entre eles uma classe particular”.4
O valor do Reino dos Céus
11 “Em verdade vos digo, de todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele”.
À primeira vista este versículo parece incompreensível, pois como pode o maior dentre os já nascidos ser o menor quando comparado aos habitantes do Reino dos Céus? Aqui Nosso Senhor Se refere a duas etapas e, portanto, a dois diferentes nascimentos. São João Batista recebeu a vida da graça no claustro materno de Santa Isabel, pelos efeitos da voz de Nossa Senhora, e nasceu sem pecado original. Nessa perspectiva, é o maior, uma vez que nenhum outro teve o privilégio de ser batizado dessa sublime maneira. Porém, para entrar no Céu faz-se necessário nascer para a eternidade, e tão mais importante é o Reino Eterno que o mais elevado dos homens deste mundo torna-se pequeno perto dos justos que já gozam da visão beatífica. É o que defende São Jerônimo: “todo santo que já está com Deus é maior do que o que ainda se encontra em batalha. Pois uma coisa é possuir a coroa da vitória e outra estar ainda lutando na linha de combate”.5

Apesar da diferença entre o estado dos Bem-aventurados na glória e dos homens justos que ainda integram as fileiras da Igreja militante, todos os que se encontram junto a Deus obtiveram suas coroas seguindo a mesma via trilhada por São João Batista, que o fez grande neste mundo e maior ainda no outro. A sua glória deve-se à fidelidade a toda prova aos desígnios divinos pela aceitação do sofrimento, e isso o tornou digno do maior elogio feito por Nosso Senhor a alguém em todo o Evangelho.
Continua no próximo post

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