Conclusão dos comentários ao Evangelho – 4º Domingo do Advento - Ano A – 2013 – Mt 1, 18-24
Mons João Clá Dias
Elevado ao plano da união
hipostática
Ao
selecionar este Evangelho para o último domingo antes da Natividade do Senhor,
a Igreja nos convida a considerar duas criaturas puramente humanas — Maria e
José — à luz da Encarnação do Verbo, elevando assim as nossas cogitações até o
sétimo e mais alto plano da ordem da Criação, acima dos minerais, vegetais,
animais, homens, anjos, e até da própria graça. Desse elevadíssimo plano
hipostático, só Jesus Cristo, Homem-Deus, participa em estado absoluto.
Também
Nossa Senhora, a seu modo, participa dessa ordem hipostática, por ter cooperado
de forma moral e livre para a Encarnação, com seu fiat, bem como por ter
contribuído fisicamente para a formação do Corpo de Cristo. “Por essa
colaboração, Maria consegue tocar com sua própria operação a Deus”, afirma o
dominicano frei Bonifácio Llamera.8
Ora
— segundo o padre Bover e vários outros autores — o próprio São José foi unido
a esse mistério extraordinário, embora “não fisicamente, como a Virgem Mãe de
Deus, mas moral e juridicamente”.9
Pois, segundo afirma o mencionado padre Llamera, além de intervir na
constituição da ordem hipostática pelo seu consentimento livre e voluntário,
ele coopera de forma direta e imediata na conservação dessa mesma ordem.10
A
análoga conclusão chega, sob um prisma diverso, o padre Garrigou-Lagrange, o
qual afirma que a missão de São José vai além da ordem da natureza, e não
somente humana, mas também angélica. Para melhor frisar seu pensamento, o
teólogo dominicano levanta uma pergunta a respeito dessa missão: “Será ela
somente da ordem da graça, como a de São João Batista, o qual prepara as vias
da Salvação; como a missão universal dos Apóstolos na Igreja para a
santificação das almas; ou a missão particular dos fundadores de ordens?”. E
apresenta esta resposta: “Observando de perto a questão, vê-se que a missão de
São José ultrapassa até a ordem da graça, e confina com a ordem hipostática
constituída pelo próprio mistério da Encarnação”.11
“Deus
pediu à Virgem — comenta o padre Llamera — seu consentimento para a Encarnação.
Ela o concedeu livremente, e neste ato voluntário se radica sua maior glória e
mérito”.12
Mas também ao santo Patriarca foi solicitada sua anuência ao virginal
matrimônio com Maria, condição para a Redenção; outrossim, pediu-lhe a
Providência uma heroica aceitação, sem entender, do mistério da Encarnação:
mais acreditou ele na inocência de Maria do que na evidência da gravidez,
constatada pelos seus olhos. Sem dúvida, foi esse “fiat!” de São José um dos
maiores atos de virtude jamais praticados na Terra.
Abre-se
assim ante nossos olhos, às portas do Natal, um vastíssimo panorama em relação
aos tesouros de graça depositados na alma do esposo virginal de Maria e pai
adotivo de Jesus. Segundo piedosa afirmação, “sabemos que algumas almas, por
predileção divina, como as de Jeremias e do Batista, foram santificadas antes
de verem a luz do dia. Ora, o que diríamos de José? (...) [Ele] supera todos os
outros santos em dignidade e santidade; somos, pois, livres para conjecturar
que, embora não esteja consignado na Escritura, ele deve ter sido santificado
antes de seu nascimento e mais cedo que qualquer um dos demais, pois todos os
Santos Doutores concordam ao dizer que não houve nenhuma graça concedida a
qualquer santo, exceto Maria, que não tenha sido concedida a José. (...) A
grande finalidade que Deus tinha em vista ao criar São José, era associá-lo ao
mistério da Encarnação (...). Ora, para corresponder a tão elevada vocação, a
qual, depois da Virgem Mãe, foi superior a todas as outras, quer dos anjos ou
dos santos, José deveria necessariamente ter sido santificado em eminentíssimo
grau, para ser digno de assumir sua posição na sublime ordem da União
Hipostática, na qual Jesus teve o primeiro lugar e Maria o segundo”.13
Enfim,
não desvendará ainda a Teologia insuspeitadas maravilhas na pessoa de São José,
o castíssimo chefe da Sagrada Família e Patriarca da Santa Igreja Católica,
Apostólica e Romana?
1 LLAMERA, OP,
Bonifacio. Teologia de San José. Madrid: BAC, 1953, p.39.
2 “Não se pense
que somente quando os anjos viram a Maria no Céu e sentada no trono da glória,
A saudaram como Rainha. Não. Desde o primeiro instante de sua vida já Lhe
tributaram os devidos obséquios, pelo fato mesmo de que, desde então,
transportados em êxtase de admiração, suspiravam por esta Mulher
singularíssima, que embora vinda de um deserto, se apresentava cheia de graça e
de grandeza. Por conseguinte, perguntando-se uns aos outros, e pedindo-se
mutuamente a explicação deste grande acontecimento, deste fato único nos anais
dos fatos mais extraordinários e solenes, desta indizível maravilha,
exclamavam: ‘Quem é esta que sobe do deserto, inebriada de delícias?’ (Ct 8,
5)” (BULDÚ, Ramon [Dir.] Tesoro de oratoria sagrada. 2.ed. Barcelona: Pons,
1883, v.IV, p.326-328.)
3 JOURDAIN, Zèphyr-Clément. Somme des grandeurs de
Marie. Paris: Hippolyte Walzer, 1900, t.II, p.321.
4 SAN JUAN CRISÓSTOMO. Hom I in Mat., apud SUÁREZ, SJ, Francisco. Misterios de la
Vida de Cristo. Madrid: BAC, 1948, v.V, p.254.
5 Cf. TUYA, OP,
Manuel de. Bíblia Comentada – Evangelios. Madri: BAC, 1964, v.V, p.27-28.
6 JOURDAIN, op. cit., p.323
7 FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée. Paris: Letouzey et
Ané, 1912, t.VII, p.25.
8 LLAMERA, op. cit., p.120.
9 BOVER. De
cultu S. Joseph amplificando, p.32. Barcelona: 1928, apud Llamera, op. cit.,
p.132.
10 Cf. LLAMERA,
op. cit., p.137-138.
11 GARRIGOU-LAGRANGE,
Réginald. La Mère du Sauveur et notre vie intérieure, p.III, c.VII.
12 LLAMERA, op. cit., p.120.
13 THOMPSON, Edward Healy. The Life and Glories of Saint Joseph. London: Burns
& Oates, 1888, p.41.
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