CONTINUAÇÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO Mt 27, 11-54
DOMINGO DE RAMOS - ANO A
Não devemos colocar nossa
esperança no mundo
Assim,
a Paixão de nosso Divino Redentor deixa uma lição para nós: aqueles que, por
princípios mundanos, têm como ideal obter o aplauso, colocando sua esperança na
aprovação dos homens, erram, porque cometem a loucura de escolher para si uma situação
instável. Faltando a prática da virtude, facilmente as aclamações se
transformam em ódio.
A
Paixão do Senhor nos mostra, de maneira eloquente, o quanto é preciso pôr nosso
empenho em servi-Lo, pouco nos importando se nos atacam ou nos elogiam, se nos
recebem ou nos repudiam, mas, isto sim, se Lhe agradamos com a nossa forma de
proceder. Ao sermos batizados nos comprometemos — seja por nós mesmos, seja na
pessoa de nossos padrinhos — a renunciar ao demônio, ao mundo e à carne, e
ficamos marcados pelo sinal do combate. Não firmamos, em nenhum momento, o propósito
de nos apoiarmos no aplauso dos outros. Assim sendo, ao celebrar o Domingo de Ramos
devemos nos lembrar dessas promessas de luta, que exigem da nossa parte a
determinação de enfrentar todas as batalhas que tais inimigos, por nós rejeitados
no Batismo, nos apresentarão. E isso significa, a exemplo de Jesus, aceitar e
carregar a cruz depositada sobre nossos ombros pela Providência.
A Cruz: de sinal de ignomínia a
símbolo de glória
A Santa
Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo! Quando aqueles homens malvados e sem piedade
passavam diante d’Ele, crucificado, olhavam-No e diziam: “Se és o Filho de
Deus, desce da Cruz!”. “O língua envenenada, palavra de malícia, expressão perversa!”
— exclama São Bernardo de Claraval — “[...] Pois, que coerência há em ter de descer,
se é Rei de Israel? Não é mais lógico que suba? [...j Ou por outra, por ser Rei
de Israel, que não abandone o título do reino, não deponha o cetro aquele Senhor
cujo império está sobre seus ombros [...]. Pelo contrário, se desce da Cruz,
não salvará ninguém”.5
De
fato, a um rei não cabe descer, porém, subir sempre. E foi o que fez Nosso
Senhor. Ele não desceu, mas subiu e ressuscitou, conforme nos diz mais uma vez
a inspirada voz de São Bernardo: “Se a geração má e adúltera busca ainda um
prodígio, não lhe será dado nenhum a não ser o do profeta Jonas: não mai ue
descida, mas de ressurreição. [...] Saiu do túmulo fechado Aquele que não quis
descer do patíbulo. [...] Por isso, com razão é Ele as primicias dos que
ressuscitam, porque de tal modo Se levantou que nunca voltará a cair, tendo já
alcançado a imortalidade”.6
Sim,
Ele é Rei, e está sentado em seu trono. Que trono é esse? A Cruz, sinal de
ignomínia por constituir o pior castigo, o suplício mais horrível daqueles
tempos, considerado pelos judeus como “maldição divina” (Dt 21, 23) e pelos
romanos como infamante, a tal ponto que não era aplicado a um cidadão do
Império, sendo reservado apenas aos escravos e aos criminosos mais abjetos.7 No
entanto, tão poderoso é este Rei que, posto nesse pedestal de humilhação, Ele o
transforma em trono de glória! Hoje em dia, ostentar a Cruz ao peito é uma
honra, e nos admiramos ao vê-la sobre as coroas dos reis, nas grandes
condecorações ou no alto das catedrais e dos edifícios eclesiásticos: é a exaltação
da Cruz!
Ora, sendo
partícipes da vida divina, pela graça, somos chamados a trilhar a mesma do Rei
dos reis, ou seja, sem nunca descer, su-bir para chegar ao Céu, cujas portas nos
serão abertas, não por nossos méritos, mas pelos de nosso Redentor.
Ao
levar nas mãos, hoje, a palma como símbolo de triunfo, devemos crer que no
Juízo Final toda a maldade será julgada e, entrando na eternidade, a História
ficará bem definida: ou o gozo da visão beatífica ou o fogo que arderá sem
nunca se extinguir. Não há terceira possibilidade.
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