Continuação dos comentários ao Evangelho V Domingo da Páscoa – Ano A – Jo 14, 1-12
III – “Eu Sou o caminho, a verdade e a vida”
5 Tomé disse-Lhe: “Senhor, nós não sabemos para onde vais; como podemos
saber o caminho?”.
Jesus já lhes havia dito em
outras ocasiões que retornaria ao Pai, depois de ser entregue ao Sinédrio, ter
sido crucificado e ressuscitar, esse seria Seu caminho. Por isso respondeu
anteriormente a Pedro: “Para onde Eu vou não podes tu seguir-Me agora, mas
seguir-Me-ás depois” (Jo 13, 36). Portanto, os Apóstolos sabiam.
A rusticidade dos Apóstolos
Segundo São João Crisóstomo,
Tomé pergunta com todo respeito, movido pelo desejo de dar oportunidade a Jesus
para ser mais explícito. Teofilacto nota a diferença de objetivos nas questões
postas por Pedro e Tomé. O primeiro queria seguir o Mestre, o outro estava
tomado pela insegurança diante da possibilidade de todos eles terem de
ingressar em situações de risco. Maldonado é propenso a ver nessa atitude de
Tomé uma tácita queixa e uma amorosa repreensão por nunca lhes ter querido
dizer abertamente para onde ia 11.
Pode-se também facilmente
deduzir dessa pergunta o quanto alguns dos Apóstolos, senão todos, tinham a
equívoca idéia de que o Divino Mestre estivesse anunciando uma viagem,
acompanhado por eles, semelhante a tantas outras. Essa dedução tem sua forte
sustentação em nossas próprias reações, pois inúmeras vezes nos esquecemos dos
ensinamentos recebidos, ou até mesmo os conservamos em pura teoria, sem os
aplicar aos casos concretos. Na riqueza, olvidamo-nos da obrigação do
desprendimento; na pobreza, da virtude da resignação; na doença, do mérito do
sofrimento; na glória, da humildade; enfim, em toda e qualquer circunstância,
deveríamos viver — e não só conhecer! — em função de nosso fim último, a
eternidade.
Retornando à análise da atitude
dos discípulos face à afirmação de Jesus, ouçamos o que nos diz o Pe. Manuel de
Tuya OP, sobre essa passagem: “Os Apóstolos aparecem com uma grande rusticidade,
não compreendendo, como em outras ocasiões, os ensinamentos de Cristo.
Anunciando-lhes que vai ao Pai, ao Céu, deviam eles compreender o que já lhes
havia dito, de outras formas, tantas vezes: que precisavam aceitar Sua
“mensagem” 12.
6 Jesus disse-lhe: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém vai ao
Pai senão por Mim”.
Maldonado procura mostrar quão
difícil é entender a razão pela qual Jesus acrescenta a “Verdade” e a “Vida” ao
“Caminho”. Quanto a este último, mostra-nos como Cristo é para nós Caminho por
Sua doutrina, pela necessária fé que nEle devemos ter para chegar à vida
eterna, idem com respeito à imitação dEle, que nos é obrigatória, e por fim,
por nos ter Ele — pelos seus méritos — reaberto as portas que nos estavam
fechadas 13.
Já Lagrange não concorda com as
dificuldades levantadas por Maldonado: Basta que essa verdade e essa vida sejam
as do Medianeiro que as possui absolutamente, como seu Pai 14.
E, de fato, não pode mais haver
equívoco ou insegurança, pois o Pai é a fonte imutável, eterna e infinita do
ser, da vida, do amor, da verdade, etc. É para este fim último que Se dirige o
Filho do Homem, não para ser consumido, mas para ser glorificado e, assim,
abrir o caminho a todos que dEle viverem e em Sua verdade crerem. Ninguém pode
ir ao Pai senão por Seu intermédio. Por isso, comenta-nos Santo Hilário: “Não
pode conduzir-nos por lugares extraviados Aquele que é o Caminho, nem
enganar-nos com falsas aparências Aquele que é a Verdade, nem abandonar-nos no
erro da morte Aquele que é a Vida” 15.
Continua no próximo post.
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