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domingo, 20 de julho de 2014

Evangelho – XVII Domingo do Tempo Comum – Ano A – Mt 13, 44-52

Continuação dos comentários ao Evangelho – XVII Domingo do Tempo Comum – Ano A – Mt 13, 44-52
II – A Parábola do tesouro escondido
“O Reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido num campo que, quando um homem o acha, esconde-o e, cheio de alegria pelo achado, vai e vende tudo o que tem e compra aquele campo.”
Os detalhes secundários são omitidos pelo Evangelista. Terão, ou não, sido tratados pelo Divino Mestre? Não temos como o saber. Contudo, pode-se imaginar o quanto a exposição de Jesus deve ter sido atraentíssima, pelo fato dEle discorrer sobre os temas através de Sua humanidade e, pari passu, ir iluminando, bem dispondo e auxiliando, pela graça e por Seu poder divino, o fundo da alma de cada um ali presente.
Mateus tem um objetivo concreto em mente. Por isso sintetiza a parábola nos seus elementos essenciais, deixando de lado, por exemplo, a indicação de como foi descoberto o tal tesouro. Conhecemos nós episódios havidos na História, a propósito de descobertas deslumbrantes nessa linha. Por isso, fica ao encargo de nossa imaginação ambientá-la, completando os pormenores.
O homem esconde novamente o tesouro. De uma perspectiva moral, procede bem, não se apropriando das riquezas encontradas. E, ao mesmo tempo, mostra-se prudente não deixando à vista aquelas preciosidades, para evitar as tentações que alguém pudesse ter ao deparar-se com elas. “Não é necessário adequar este dado [o fato de esconder o tesouro] ao significado da parábola, porque, segundo minha teoria, não é parte dela, senão ornato”.7 Maldonado discorre sobre este ponto em particular com muito e sábio critério, glosando considerações feitas por São Jerônimo e São Beda.
Parece-nos curioso que os autores concentrem seus comentários sobre o homem que encontra o tesouro, mas sejam displicentes em considerar o terreno onde estava ele escondido. Seja-nos permitido fazer uma aplicação a esse propósito.
Olhando para os primeiros tempos da Igreja, vemos quanto custou aos judeus e pagãos convertidos “comprar o terreno” no qual se escondia o tesouro da Salvação. A renúncia exigida era total: família, bens, reputação e até a própria vida. Quão bem procederam, entretanto, os que então abraçaram a Fé Católica!
A humanidade atual, qual dos dois papéis representa: o do homem que deseja comprar, ou o do que quer vender? Infelizmente, a quase totalidade dos fatos nos inclina à segunda hipótese. Muitos de nós, hoje em dia, caímos na insensatez de não mais nos importarmos com esse tesouro de nossa Fé, que tanto custou aos nossos antepassados, e pelo qual o Salvador derramou todo o Seu Preciosíssimo Sangue no Calvário. Por quão miserável preço vendemos, alguns de nós, esse tão elevado tesouro, tal como fez Esaú com sua primogenitura, ao trocá-la por um mísero prato de lentilhas! Hoje, mais do que nunca, multiplicam-se as “lentilhas” da sensualidade, da corrupção, do prazer ilícito, da ambição, etc.
Aqui também poderia estar incluída a figura do religioso que se deixa arrastar pelos afazeres concretos e vai se olvidando do “tesouro” pelo qual tudo abandonou em seu primitivo fervor.
Essa plenitude de alegria do homem da parábola deve nos acompanhar a vida inteira, sem interrupção, por ser um dos efeitos da verdadeira Fé. A virtude é um dom gratuito; não se compra. Entretanto, sua posse contínua e crescente custa esforços de ascese, piedade e fervor. É preciso “vendermos” todas as nossas paixões, caprichos, manias, vícios, sentimentalismos, etc., em síntese, toda a nossa maldade. É o melhor “negócio” que se possa fazer nesta Terra.
III – A Parábola da Pérola Preciosa
“O Reino dos Céus é também semelhante a um negociante que busca pérolas preciosas, e tendo encontrado uma de grande preço, vai, vende tudo o que tem e a compra.”
“O Reino dos Céus é semelhante não ao mercador, mas sim à pérola; como na presente parábola ele não é semelhante ao homem que acha o tesouro, mas ao próprio tesouro em questão”.8 Na Antiguidade, as pérolas eram consideradas de um valor inestimável. Por essa razão, quem encontrasse à venda alguma de excelente categoria, estaria disposto a desfazer-se de todos os seus bens para comprá-la.9 O texto nos fala de “um negociante que busca pérolas preciosas”. Ele, ao adquirir uma de altíssima qualidade, não pensa em vendê-la — pelo menos nada consta a esse respeito na letra do Evangelho.
Sobre detalhes secundários, debatem entre si diversos autores. O importante é reter a idéia de que a presente parábola “tem o mesmo significado que a precedente, variando apenas na matéria” 10, ou seja, trata-se de, se necessário for, deixar tudo o que se possui com vistas a adquirir esse “tesouro”, ou “pérola”, que nada mais é do que o próprio Reino dos Céus.
A esse respeito pondera São João Crisóstomo: “A pregação do Evangelho é não só uma fonte de múltiplas riquezas, como o é um tesouro, mas é também preciosa como uma pérola”. E mais adiante, completando seu pensamento, afirma: “A verdade é una, não pode ser dividida em várias partes; por isso se fala numa só pérola encontrada. E assim como quem possui uma pérola de grande preço conhece bem sua riqueza — enquanto todos os outros a ignoram, porque essa pérola é tão pequena que cabe numa mão — da mesma forma, na pregação do Evangelho, aqueles que têm a felicidade de recebê-la sabem quais riquezas espirituais adquiriram, riquezas completamente ignoradas daqueles que não conhecem o valor desse tesouro”.11
De fato, quantos pensadores pagãos acabaram por aderir à verdade do Cristianismo, naqueles primeiros tempos, ao se sentirem atraídos por sua doutrina, chegando alguns deles a entregar sua vida por amor a ela? Eram “bons negociantes de pérolas”.
Pelo contrário, numerosos chegam a ser hoje os que abandonam a “pérola” da verdade e preferem rolar no precipício do erro, do equívoco e da confusão. Lançam-se, sem receio, nas águas turvas da indiferença e da tibieza a propósito de sua salvação eterna, do Reino e do próprio Deus. Para esses, o senso do ser vai se tornando cada vez mais embotado, a ponto de quase não mais distinguirem entre bem e mal, belo e feio, verdade e erro.
E quantos há que, conhecendo a verdade, a ela não se entregam, por pura falta de generosidade? Não “vendem tudo o que possuem...” E quais são os que, no mundo atual, estão dispostos a tudo sacrificar para manter o estado de Graça?

Enfim,essas duas parábolas completam-se harmoniosamente. Uma se refere ao pulchrum do Reino (a da pérola); a outra busca inculcarnos a idéia da vantagem, utilidade e prêmio (a do tesouro). Nesta última se reflete a gratuidade do Reino (“encontra”); na anterior, o esforço (“procura”). Em ambas torna-se patente quanto deve desapegar-se dos bens deste mundo todo aquele que deseja adquirir o Reino dos Céus.
Continua no próximo post

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