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segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Evangelho XIX Domingo do Tempo Comum – Ano A – Mt 14, 22-33

Comentário ao Evangelho – 19º Domingo do Tempo Comum – Ano A
Evangelho – Mt 14, 22-33
“Imediatamente Jesus obrigou os seus discípulos a subirem para a barca e a passarem antes dEle à outra margem do lago, enquanto despedia as turbas. Despedidas as turbas, subiu só a um monte para orar. Quando chegou a noite, achava-se ali só. Entretanto, a barca achava-se a muitos estádios de terra e era batida pelas ondas, porque o vento era contrário. Porém, na quarta vigília da noite, foi Jesus ter com eles, andando sobre o mar. E os discípulos, quando O viram andar sobre o mar, turbaram-se dizendo: ‘É um fantasma’. E, com medo, começaram a gritar. Mas Jesus falou-lhes imediatamente, dizendo: ‘Tende confiança: sou Eu, não temais’. Respondendo, Pedro disse: ‘Senhor, se és Tu, manda-me ir até onde estás por sobre as águas’. Ele disse: ‘Vem’. Descendo Pedro da barca, caminhava sobre as águas para ir a Jesus. Vendo, porém, que o vento era forte, temeu, e, começando a submergir-se, gritou, dizendo: ‘Senhor, salva-me!’. Imediatamente Jesus, estendendo a mão, o tomou e lhe disse: ‘Homem de pouca fé, por que duvidaste?’. Depois que subiram para a barca, o vento cessou. Os que estavam na barca aproximaram-se dEle e O adoraram, dizendo: ‘Verdadeiramente Tu és o Filho de Deus’” (Mt 14, 22-33).
Até onde deve chegar nossa Fé
A barca com os Apóstolos é sacudida pela tempestade: bem poderia ser a imagem da Igreja em luta, nos mares deste mundo, em plena noite, visando desembarcar nas margens do Reino Eterno.
I – A multidão queria proclamá-lo rei
“Eis o grande Profeta, esperado ao longo de séculos! Eis aquele que foi anunciado por Moisés! Eis o filho de Davi!”. Em meio a gritos e aclamações similares, parecia estar se realizando na Galiléia o triunfo de Jesus. De forma sintética, mas muito expressiva, São João é o único evangelista a narrar a forte impressão produzida, pela multiplicação dos pães e dos peixes, na multidão que dela se beneficiou, conforme pudemos contemplar no domingo anterior, 18º do Tempo Comum.
Aqueles que foram testemunhas do milagre, além de terem apreciado muito os alimentos, ficaram impactados psicologicamente pelo poder daquele Jesus de Nazaré. Convencidos estavam, portanto, de ser realmente Ele o Profeta que deveria vir ao mundo.
Outra era, entretanto, a realidade vista de dentro dos olhos do Divino Mestre. Aquilo que parecia o maior sucesso de Sua vida constituía, no concreto dos fatos, o maior perigo que Sua Obra poderia correr. Por isso, Ele empregou Sua força e sabedoria divinas para conduzir bem esse espontâneo e borbulhante entusiasmo.
Concepções errôneas a respeito do messianismo
Todos estavam convencidos de que, diante deles, se encontrava aquele Messias tão comentado e ansiado. E, sem dúvida, tinham razão! Pois era Ele o previsto pelos Profetas, o esperado pelos Patriarcas e Reis, e o prometido por Deus a Adão e Eva no Paraíso Terrestre. Era o Salvador. Mas não correspondia ao figurino criado, ao longo dos tempos, pelo Povo Eleito. Não era um líder político nacionalista, terrestre e carnal; mas sim o Messias, ao mesmo tempo homem e Deus, celeste e espiritual.
Ele mesmo dirá a Pilatos não pertencer Seu Reino a este mundo e, portanto, nada ter de comum com os outros reinos tão debatidos e ambicionados por uma opinião pública obnubilada.
Era devido a esse equívoco que o povo, excitado ao extremo, desejava apropriar-se de Nosso Senhor Jesus Cristo e proclamá-Lo imediatamente rei de Israel, ainda que contra a Sua Divina Vontade.
A essas alturas da vida pública de Nosso Senhor — nós nos encontramos no décimo quarto capítulo de São Mateus, que corresponde ao sexto de São João —, nada conduzia a lisonjear essa infundada ambição do povo, nem mesmo as idéias mirabolantes dos doutores da Lei, fariseus, sacerdotes, etc. Mas, uns e outros não quiseram compreender, nem sequer ver ou intuir, as linhas gerais delineadas pelo Divino Mestre a respeito da Boa Nova que vinha revelando. Poucos ouvintes deram-se conta, e assim mesmo insuficientemente, das belezas trazidas pelo Salvador.
Tais concepções errôneas a respeito do messianismo, fermentadas ao longo de séculos no âmago do povo eleito, produziram uma incompatibilidade entre as multidões e o Divino Mestre, aprofundando, a cada passo, o imenso abismo que as separava do Evangelho. Seria a partir desse ponto que muitos discípulos iriam abandoná-Lo, pois pensamentos semelhantes, se bem que com menos arestas e substância, estavam aninhados até no espírito dos que O acompanhavam.
Problema quase insolúvel para a inteligência humana
Incomparavelmente mais dinâmica do que os Apóstolos, cega por suas idéias fixas, não conseguia a multidão alcançar as alturas da doutrina pregada por Nosso Senhor, a propósito do verdadeiro Reino messiânico, nem desejava abandonar os seus preconceitos distorcidos sobre a figura do Messias.
Aqueles homens viam em Jesus o chefe que os levaria a conquistar o poder à base de milagres portentosos e, alucinados pelos aspectos sobre-humanos da multiplicação dos pães e dos peixes, ideavam conduzir Nosso Senhor a Jerusalém, para lá proclamá-Lo rei.
Momento de grande perplexidade e suspense: que fazer? Para uma inteligência puramente humana, a situação era intrincada, confusa e quase insolúvel. Sabemos quanto as agitações populares são terríveis quando chegam ao seu paroxismo: engajam as personalidades mais fortes e atraem até os mais hábeis, com decisões muitas vezes impensadas, fruto de puro impulso. Mas tudo isto constitui para Jesus um problema de facílima solução.
Incipiente revolução desfeita de um só golpe
“Imediatamente Jesus obrigou os seus discípulos a subirem para a barca e a passarem antes d'Ele à outra margem do lago, enquanto despedia as turbas.”
Se Jesus tivesse permanecido em meio à multidão, junto com seus discípulos, provavelmente estes se deixariam influenciar pela exaltação de todos. Pois, era também deles o sonho de libertação do jugo romano e de conquista do mundo inteiro.
Se, por outro lado, Ele partisse com seus discípulos para outras bandas, a febricitação das turbas não faria senão incrementar-se e, de repente, poderia arrebentar uma revolução na própria Galileia. A História nos ensina o quanto esses momentos levam, às vezes, a verdadeiros incêndios cujas chamas tudo devoram.
Jesus constatou até que ponto a multidão se deixara tomar pela ideia de um triunfo político-social. Não havia quem pudesse desestimulá-la de uma glorificação humana do Divino Mestre. Estava convencida de que proclamá-Lo rei, traria como conseqüência a fundação brilhante do esperado reino terreno.

Em face desse delírio popular, a primeira preocupação de Jesus foi a de salvar os Seus discípulos. E assim procedeu sem perder um segundo. Por esse motivo “obrigou seus discípulos a subirem para a barca”. Comenta o Pe. Manuel de Tuya, OP: “Com isso, desfazia de um só golpe toda aquela incipiente revolução pseudo-messiânica”.1
Continua no próximo post.

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