-->

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Evangelho XXII Domingo do Tempo Comum – Ano A – Mt 16, 21-27

Continuação dos comentários ao Evangelho 22º Domingo do Tempo Comum – Ano A – Mt 16, 21-27
A hora da generosidade
Ausente a sensibilidade, é chegada a hora da generosidade, que só se concretiza se houver uma vida interior séria, profunda, regada com muita oração, porque essa entrega nos custa enormemente.
Há, segundo São João da Cruz, uma tríplice noite escura — dos sentidos, da inteligência e da vontade — pela qual passam todos aqueles que buscam a perfeição.8 Nessa fase da vida espiritual, renunciar a si mesmo consiste em manter-se na fidelidade aos bons propósitos, purificando-se assim de seus apegos terrenos e preparando-se para o Céu. Porque, com o sofrimento, a alma abre-se para o sobrenatural.
Durante os períodos de aridez, costuma vir-nos a tentação de ceder neste ou naquele ponto, de justificar com racionalizações as transgressões aos Mandamentos de Deus, às quais nos impele a concupiscência, bem como de buscar um meio termo espúrio entre as vias do mundo e as da virtude. Experimentando em nosso interior a lei dos sentidos, do pragmatismo e do egoísmo, somos tentados a procurar um modus vivendi com nossos defeitos, em lugar de combatê-los.
Deus nos pede uma entrega completa
25 “Pois, quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder sua vida por causa de Mim, vai encontrá-la”.
A “vida” aqui pode significar não apenas a existência física, mas também algo a que costumamos ter mais apego ainda: o juízo alheio a nosso respeito. Quantas vezes nos tornamos escravos da opinião pública a ponto de não ousarmos dissentir dela mesmo quando a isso nos obriguem a moral e a reta consciência. Tal é a força do instinto de sociabilidade, por certo mais arraigado na alma humana do que o de conservação.
 “Renunciar-se a si mesmo” exige de nós renegar tudo quanto nos liga ao mundo, ao demônio e à carne, e nos afasta de Deus. Ele nos pede uma entrega completa, sem meios termos.
O caminho da verdadeira felicidade
26 “De fato, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida? O que poderá alguém dar em troca de sua vida?”.
Realmente, de que nos valeria conquistar todas as riquezas, todas as honras e todo o poder do mundo se, no final, nos condenássemos ao inferno por toda a eternidade?
Além do mais, se abandonarmos os prazeres mundanos e abraçarmos a cruz de Nosso Senhor, encontraremos já nesta Terra a verdadeira felicidade e desfrutaremos a autêntica alegria possível neste vale de lágrimas. Por essa razão recomenda-nos São Francisco de Sales: “Ponde em vosso coração Jesus Cristo crucificado e vereis que todas as cruzes do mundo se convertem em flores”.9
O Juízo Final
27 “Porque o Filho do Homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá a cada um de acordo com sua conduta”.
Ninguém consegue subtrair-se ao julgamento divino, adverte-nos o Divino Mestre. No momento da morte, cada homem passa pelo Juízo Particular “que coloca sua vida em relação à vida de Cristo, seja por meio de uma purificação, seja para entrar de imediato na felicidade do Céu, seja para condenar-se de imediato para sempre”.10 Além desse, há o Juízo Final, universal, porque nossas faltas — como também nossos atos de virtude — têm consequências na ordem da Criação, uma vez que estamos nela inseridos.

É o que nos ensina o Doutor Angélico: “Ora, como o pecado é um ato desordenado, é claro que todo aquele que peca age contra uma ordem. É por isso que consequentemente é reprimido pela própria ordem. […] Com efeito, a natureza humana é primeiramente subordinada à ordem da própria razão. Segundo, está subordinada à ordem daqueles que exteriormente governam […]. Terceiro, está submetida à ordem universal do governo divino. Ora, todas estas ordens são pervertidas pelo pecado. Pois aquele que peca age contra a razão, contra a lei humana e contra a lei divina”.11
Continua no próximo post

Nenhum comentário: