CONCLUSÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO Jo 2, 1-11 - BODAS DE CANÁ
Não buscar dinheiro ou beleza, ao casar-se
“Ditoso o homem que tem uma virtuosa mulher, porque será dobrado o
número de seus anos. (...) A mulher virtuosa é uma sorte excelente, é o prêmio
dos que temem a Deus e será dada ao homem pelas suas boas obras” (Ecli 26,
1 e 3). Muitos conselhos poderíamos colher da Escritura e da espiritualidade da
Igreja sobre as qualidades do matrimônio e sobre o quanto deve ele basear-se na
virtude e na santidade, e não em motivos inferiores como a beleza física e o
dinheiro. Fazer consistir nestes valores as razões essenciais de uma união
indissolúvel, é sinal de completa insensatez, pois a beleza física se desfaz
com o passar dos anos e a riqueza de um cônjuge pode trazer muita aflição de
espírito. Adverte-nos ainda o Eclesiástico: “Não olhes para a formosura da mulher, e não cobices uma mulher pela sua
formosura” (25, 28). “Todo o preço é nada em comparação com uma alma casta”
(26, 20).
Por intercessão de Maria
E foi numa festa
nupcial que, a pedido de sua Mãe, Jesus quis realizar seu primeiro milagre,
para assim tornar patente aos olhos do mundo o quanto o matrimônio deve ser
tomado como uma via de santificação.
Maria já se
encontrava nas bodas quando chegaram Jesus e seus discípulos. Bem se pode
imaginar a emoção da Santíssima Virgem ao conhecer os neo-seguidores de seu
Filho. Certamente Ela os tratou, logo de início, com um carinho maternal todo
feito de amor. Ali começou a se explicitar sua proteção especial por aqueles
que resolvem entregar-se a Nosso Senhor Jesus Cristo. Não terá sido também em
consideração aos Apóstolos — além de sua delicada atenção para com os nubentes
— que Nossa Senhora pediu um milagre a Jesus?
IV — A MEDIAÇÃO EFICAZ E A ONIPOTÊNCIA SUPLICANTE DE MARIA
À margem do profundo
respeito havido no diálogo entre Mãe e Filho, a narração de São João permite
levantar uma conjectura. Não é impossível que, ao longo de 30 anos de vida
doméstica pervadida de afeto e mútua compreensão, o Filho tenha revelado à Mãe
os grandiosos mistérios da Eucaristia. E, neste caso, Maria poderia ter pensado
que havia “chegado a hora” da instituição desse Santo Sacramento e se inflamado
no desejo de novamente receber em seu interior — já não como gestante, mas em
sua Primeira Comunhão — o seu Filho, sob as Espécies Eucarísticas.
Ao lado de
incontáveis hipóteses plausíveis, uma é inteiramente certa: Jesus operou esse
milagre, por intercessão de Maria, para inculcarnos a convicção de que, apesar
de não haver chegado a hora, por uma palavra dos lábios da Mãe, Ele nos
atenderá.
Eis que em Caná
abriu-se uma nova era na espiritualidade do gênero humano, com a inauguração de
um especial regime da graça.
Ademais, em Caná,
Maria nos ensina algo muito importante. Numa análise superficial, parece
inexplicável a atitude de Nossa Senhora, pois, apesar da negação de Jesus, Ela
ordena aos criados fazerem tudo quanto Este lhes dissesse. Não havia Ele dito
que não chegara ainda sua hora? Fica, portanto, em quem lê o Evangelho, a
impressão de Maria não ter feito caso dessa resposta negativa.
Esclarecem-nos os
teólogos ser esta atitude de Maria — à primeira vista um tanto obscura — uma
excelente lição para nós.
Nem todas as
determinações de Deus são absolutas. Há algumas que são condicionadas aos
desejos e reações nossas. Ou seja, elas se cumprirão ou não, dependendo da
manifestação de nossas disposições. Se Maria não tivesse recomendado aos
serventes que agissem de acordo com as orientações de Jesus, os nubentes e seus
convidados não teriam tomado o melhor dos vinhos da História, nem os Apóstolos
assistido a tão grandioso milagre.
De onde se conclui
ser importante rezarmos a Deus com fervor e constância, manifestando-Lhe nossas
necessidades, pois é possível que Ele esteja à espera de nossa atitude para
seguir uma ou outra via. Em Caná, aprendemos de Maria o quanto Deus quer a
nossa colaboração em sua obra.
Devido a esse sublime
papel de medianeira e de onipotência suplicante da Santíssima Virgem, que se
inicia publicamente nas Bodas de Caná, talvez pudéssemos dividir a História da
espiritualidade em duas grandes eras: antes de Maria e depois de Maria.
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