Comentários ao EVANGELHO XXXII Domingo do Tempo Comum – Ano C
Naquele
tempo, 27aproximaram-se de Jesus alguns saduceus, que negam a ressurreição, 28e
lhe perguntaram: “Mestre, Moisés deixou-nos escrito: se alguém tiver um irmão
casado e este morrer sem filhos, deve casar-se com a viúva a fim de garantir a
descendência para o seu irmão.
29Ora,
havia sete irmãos. O primeiro casou e morreu, sem deixar filhos. 30Também o
segundo 31e o terceiro se casaram com a viúva. E assim os sete: todos morreram
sem deixar filhos.
32Por
fim, morreu também a mulher. 33Na ressurreição, ela será esposa de quem? Todos
os sete estiveram casados com ela”.
34Jesus
respondeu aos saduceus: “Nesta vida, os homens e as mulheres casam-se, 35mas os
que forem julgados dignos da ressurreição dos mortos e de participar da vida
futura, nem eles se casam nem elas se dão em casamento; 36e já não poderão
morrer, pois serão iguais aos anjos, serão filhos de Deus, porque
ressuscitaram. 37Que os mortos ressuscitam, Moisés também o indicou na passagem
da sarça, quando chama o Senhor de ‘o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus
de Jacó’. 38Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos, pois todos vivem para
ele”. (Lc 20, 27-38).
Os saduceus cumpriam as formalidades da Lei de Moisés, mas não acreditavam na ressurreição dos mortos: eram ateus-práticos. Por isso, procuravam armar ciladas a Jesus, para impedir a crença na imortalidade da alma e na ressurreição dos corpos.
I
- A ressurreição dos corpos
Afirma o Apóstolo
que Jesus ressuscitou como "primícias dos que morrem" (1
Cor 15, 20). São Paulo não perde nenhuma oportunidade para acentuar a
importância da ressurreição final com vistas a animar aos coríntios por ele
batizados a continuarem firmes na fé, como também no trabalho apostólico.
Segundo ele, sem essa fé, a tendência seria adotar-se um sistema de vida
epicurista, relativista e libertino, conforme a expressão de Isaías: "Comamos
e bebamos porque amanhã morreremos" (22, 13).
No capítulo 15 de
sua Primeira Epístola aos Coríntios, depois de denominar de
"insensato" a quem se põe o problema de como e em que condições
ressuscitam os mortos, ele procura esclarecer de forma muito simples e
acessível a revelação sobre a identidade substancial dos corpos nesta vida
terrestre e os readquiridos após o Juízo Final, apesar das enormes diferenças
de propriedade e aspecto entre o morto e o ressurrecto.
A comparação é retirada da natureza
vegetal. Desta, Paulo faz uma aproximação entre a morte do grão ao ser semeado,
sua posterior germinação e frutificação, com o nosso retorno à vida, no dia do
Juízo. "Assim também será a ressurreição dos mortos. Semeia-se na
corrupção, ressuscita- se na incorrupção. Semeia-se na ignomínia, ressuscita-se
glorioso. Semeia- se na debilidade, ressuscita-se na força. Semeia-se um corpo
natural, ressuscitará um corpo espiritual" (1 Cor 15, 42-44).
Nosso
corpo participa dos prêmios e castigos da alma
Mais de um milênio
após essa proclamação de Paulo, o Doutor Angélico nos deixaria uma rica e
profunda doutrina sobre a essência dessa revelação. Sempre levando em conta
estar a alma unida ao corpo como forma e matéria, e "como a alma é
a mesma especificamente, parece que deve ter também a mesma matéria específica.
Logo, será o mesmo corpo antes e depois da ressurreição. E assim, será preciso
que esteja composto de carne e ossos, e de outras partes da mesma classe"
1.
Nosso corpo ressuscitará
porque Deus assim quis e determinou, como também por ser parte integrante de
nós mesmos, merecendo os prêmios ou castigos conforme caibam à nossa alma na
medida em que tenha participado dos méritos ou das iniquidades da mesma. Por
isso, "entre os bons e os maus permanecerá uma diferença
fundamentada no que pertence pessoalmente a cada um. [...] e como a alma
merece, pelos seus atos pessoais, ser elevada à glória da visão de Deus ou ser
excluída pela culpa da ordenação para tal glória, segue-se, como conseqüência,
que todo corpo se conformará segundo a dignidade da alma" 2.
Os
corpos dos justos se revestirão de glória
A morte não é senão
um sono prolongado (cf. Jo 11, 11), e os cemitérios, vastos dormitórios. Os que
repousam no pó da terra despertarão, uns para a felicidade eterna, outros para
as trevas e castigo também eternos (cf. Dn 12, 2). Os bons, já no acordar,
terão seus corpos em claridade. "Pela claridade da alma elevada à
visão de Deus, o corpo, unido à alma, alcançará algo mais. Pois estará
totalmente sujeito a ela pelo efeito da virtude divina, não só enquanto ser,
mas também enquanto ações e paixões, movimentos e qualidades corpóreas.
Portanto, assim como a alma se encherá de certa claridade espiritual, ao gozar
da visão divina, também, por certa redundância desta no corpo, se revestirá
este, à sua maneira, da claridade da glória" 3.
Ademais, os corpos
dos bons, no próprio instante da ressurreição, gozarão da agilidade. "A
alma, que unida a seu fim último gozará da visão divina, experimentará o
cumprimento total de seu desejo em tudo. E como o corpo se move conforme o
desejo da alma, resultará que o corpo obedecerá absolutamente à indicação do
espírito. Por isso os corpos que terão os bem-aventurados ressuscitados serão
ágeis. E isto é o que diz o Apóstolo no mesmo lugar (1 Cor 15, 43): Semeado na
fraqueza ressuscita vigoroso. Pois experimentamos a fraqueza corporal porque o
corpo se sente incapaz de responder aos desejos da alma nas ações e movimentos
que lhe impõe; fraqueza que, então, desaparecerá totalmente pela virtude que
sobeja no corpo ao estar a alma unida a Deus. Por isso, na Sabedoria (3,7) se
diz também dos justos que correrão como centelhas na palha, não porque tenham
que moverse necessariamente, pois tendo a Deus de nada precisam, mas para
demonstrar seu poder" 4.
O corpo glorioso se
levantará da poeira da terra, espiritualizado, dotado de sutileza. "A
alma que goza de Deus se unirá perfeitissimamente a Ele e participará de Sua
bondade em grau sumo, conforme sua própria medida; e de igual modo o corpo,
pois este se sujeitará perfeitamente à alma" 5.
A impassibilidade dos
corpos gloriosos não permitirá a existência de nenhum defeito, dor ou mal. "A
alma que goza de Deus terá tudo em ordem à remoção de todo mal, porque onde
está o Sumo Bem não cabe mal algum. Logo, também o corpo, aperfeiçoado pela
alma e em proporção a ela, será imune de todo mal, não só atual, mas inclusive
do mal possível. Do atual, porque em ambos nem haverá corrupção, nem
deformidade, nem defeito nenhum. Do possível, porque nada poderão sofrer que
lhes perturbe. E por isso serão impassíveis. Mas esta impassibilidade não
excluirá neles as paixões essencialmente sensíveis, porque usarão dos sentidos
para gozar daquilo que não repugna o estado de incorrupção" 6.
Ressurreição
dos condenados
Os maus também
ressuscitarão íntegros. "As almas dos condenados têm efetivamente
natureza boa, que foi criada por Deus; mas terão a vontade desordenada e
afastada do próprio fim. Portanto, seus corpos, no que se refere à natureza,
serão reparados e íntegros pois ressuscitarão na idade perfeita, com todos os
seus membros e sem nenhum defeito, nem corrupção que tivesse ocasionado uma
falha da natureza ou enfermidade" 7.
As almas dos maus,
ao ressuscitarem seus corpos, estarão sujeitas a estes; diferentemente da
situação dos bem-aventurados, serão elas carnais e não espirituais. "Como
sua alma estará voluntariamente separada de Deus e privada de seu próprio fim,
seus corpos não serão espirituais, ou seja, sujeitos totalmente ao espírito,
senão que sua alma será carnal pelo afeto" 8.
Nem de longe
experimentarão a agilidade dos corpos gloriosos. Muito pelo contrário, serão de
certo modo sujeitos à lei da gravidade. "Tais corpos não serão
ágeis, nem obedientes à alma, sem dificuldade, mas serão graves e pesados, de
certo modo insuportáveis à alma, tais quais são as mesmas almas que se
afastaram de Deus pela desobediência" 9.
Serão ainda mais
sujeitos às dores e ao sofrimento do que o somos nós nesta vida terrena mas,
sem nunca em nada se corromper, além das respectivas almas serem "atormentadas
pela privação total do desejo natural da bem-aventurança" 10.
E pelo fato de
estar a alma excluída da luz do conhecimento divino, seus corpos serão "opacos
e tenebrosos" 11.
Sobre esses
desgraçados, triunfará a morte. Ressuscitarão para ser lançados na morte
eterna. A eles não se aplicarão as palavras de Isaías (25, 8) Oséias (13, 14)
citadas pelo Apóstolo "A morte foi tragada pela vitória. Onde
está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?" (1 Cor
15, 55).
II
- A cilada dos saduceus
Essa é a
maravilhosa realidade - revelada por Cristo Jesus e explicitada pela Igreja
infalível - que nossa fé católica nos faz aguardar com fortalecida esperança.
Mas, na Antiguidade nem de longe essa doutrina era assim conhecida. Sobretudo
era ignorada entre os pagãos e mais especialmente em meio a certas correntes
filosóficas da Grécia. Não é difícil compreender a razão pela qual se tinha
criado obstáculos contra a possibilidade de haver ressurreição.
Antes de tudo devemos considerar a constatação histórica, no dia-adia, sobre os mortos: quais deles retornam à vida? Porém, indo mais ao fundo do problema, encontramos a luta que se estabelece no interior de todo homem entre suas más inclinações e sua consciência. Sendo a criatura humana um monolito de lógica, se admite ela a ressurreição dos corpos como um prêmio ou castigo eternos em proporção aos méritos ou culpas, ver-se-á na obrigação de cumprir as leis morais contra sua própria concupiscência. Sem a graça de Deus, essa batalha sempre termina mal. Ora, foi bem exatamente esse o resultado obtido pelos povos da Antiguidade, chegando alguns filósofos a defender a tese da materialidade da alma e de sua morte concomitante à do corpo.
Antes de tudo devemos considerar a constatação histórica, no dia-adia, sobre os mortos: quais deles retornam à vida? Porém, indo mais ao fundo do problema, encontramos a luta que se estabelece no interior de todo homem entre suas más inclinações e sua consciência. Sendo a criatura humana um monolito de lógica, se admite ela a ressurreição dos corpos como um prêmio ou castigo eternos em proporção aos méritos ou culpas, ver-se-á na obrigação de cumprir as leis morais contra sua própria concupiscência. Sem a graça de Deus, essa batalha sempre termina mal. Ora, foi bem exatamente esse o resultado obtido pelos povos da Antiguidade, chegando alguns filósofos a defender a tese da materialidade da alma e de sua morte concomitante à do corpo.
Origem
do partido dos saduceus
Sob o império de
Alexandre Magno (356 - 323 a.C.) houve um enorme empenho na helenização e
colonização do território pertencente aos hebreus. Do povo eleito, a classe
mais abastada foi a mais atingida pela influência estrangeira e, aos poucos,
transformou-se numa espécie de aristocracia sacerdotal, dando origem ao partido
dos saduceus. Cumpridores exatos das formalidades da Lei, os membros desse
partido eram, na realidade, incrédulos e relativistas em matéria moral.
Reduziam ao mínimo as exigências dogmáticas e não receavam professar erros
crassos hauridos do mundo pagão, como por exemplo chegavam a se opor à
existência dos anjos e, pior ainda, não aceitavam a própria existência das
almas separadas dos corpos. Negavam inclusive a providência de Deus, como
também Sua ação sobre os acontecimentos. Eram ateus-práticos e apesar de se
revestirem dos cerimoniais do culto da religião judaica, não passavam de
semipagãos. Não é difícil concebêlo pois, ainda nos dias de hoje esbarramos não
poucas vezes com pessoas dessa mentalidade e submersas nas mesmas convicções.
Apesar do número
dos saduceus ser proporcionalmente muito reduzido, a péssima influência por
eles exercida sobre o povo, era bem considerável, devido à sua situação social.
Seu nome tem origem na palavra hebraica justo. Talvez por
arrogância própria, eles mesmos escolheram esse nome, ou por debique lhes foi
conferido por outros.
Os saduceus
constituíam uma forte corrente, em oposição os fariseus. Os dois partidos
compunham o quadro político social e religioso vigente durante a vida pública
do Divino Mestre. Apesar do caráter inteiramente pacífico, ordeiro e caritativo
em extremo da atuação de Jesus, essas correntes - acrescentemos ademais o
sinédrio, os escribas e os herodianos - se alternavam para de maneira
encarniçada Lhe armar alguma cilada da qual pudesse resultar sua prisão e
condenação à morte. Eis a vez dos saduceus com seu deboche feito de ceticismo.
A objeção levantada pelos saduceus
Naquele
tempo, aproximaram-se de Jesus alguns saduceus – que negam a ressurreição – e
fizeram-lhe a seguinte pergunta: «Mestre, Moisés deixou-nos escrito: ‘Se morrer
a alguém um irmão, que deixe mulher, mas sem filhos, esse homem deve casar com
a viúva, para dar descendência a seu irmão’. Ora havia sete irmãos. O primeiro
casou-se e morreu sem filhos. O segundo e depois o terceiro desposaram a viúva;
e o mesmo sucedeu aos sete, que morreram e não deixaram filhos. Por fim, morreu
também a mulher. De qual destes será ela esposa na ressurreição, uma vez que os
sete a tiveram por mulher?».
Sobre esses versículos, afirma
Filion: "A citação dos saduceus era exata quanto ao sentido. Esta
prescrição, que não era particular dos judeus, pois também é encontrada em
vários povos antigos, como os egípcios, os persas e os hindus, e ainda hoje
entre os circasianos, é conhecida com o nome de lei do Levirado, que seria a
lei que regula o matrimônio entre cunhados e cunhadas. Tinha por objetivo
conservar o ramo primogênito de cada família e impedir a excessiva transmissão
dos bens a outrem. Não estava limitada aos irmãos do marido morto sem filhos,
mas se estendia também aos parentes próximos, como sabemos pelo livro de Ruth
(3, 9-13). Não era estritamente obrigatória, mas o que se recusasse cumpri-la
tinha que se submeter a uma cerimônia humilhante (Dt 25, 7-10; Rt 4, 1-11).
Apesar de que no tempo de Nosso Senhor já havia caído em descrédito, que irá
aumentando com os anos, não havia cessado de estar em vigor na Palestina.[...]
"Esta breve narração, picante e rápida, é um modelo de casuística
refinada. Seus autores davam por seguro que a questão que acabavam de propor a
Jesus lhe co- locaria seguramente em um grande apuro. Como poderá responder
esta deductio in absurdum? Não parece que fere de morte o dogma da ressurreição
dos corpos, provando que deste nascem dificuldades insolúveis? Ainda que não
tivesse havido mais do que dois matrimônios, a questão se apresentaria do mesmo
modo (a bem da verdade, a propuseram alguns rabinos e estes a haviam resolvido
dizendo que neste caso a mulher pertenceria, na outra vida, ao primeiro dos
dois maridos. Zohar Gen. 24, 96); mas, multiplicando- os desta maneira, os
saduceus conseguem ressaltar mais a objeção" 12.
Entretanto, poderíamos, com segurança, afirmar ser característica evidente de inteligência superficial e sem substância, o julgar os acontecimentos e o próprio ser humano pelas simples aparências sensíveis, sem nunca se elevar ao invisível. Para esse tipo de gente, Deus lhes é semelhante e a eternidade não é senão um prolongamento do mundo atual se é que ela existe. Não se poderia esperar outro tipo de objeção de um libertino para justificar seu relativismo.
Entretanto, poderíamos, com segurança, afirmar ser característica evidente de inteligência superficial e sem substância, o julgar os acontecimentos e o próprio ser humano pelas simples aparências sensíveis, sem nunca se elevar ao invisível. Para esse tipo de gente, Deus lhes é semelhante e a eternidade não é senão um prolongamento do mundo atual se é que ela existe. Não se poderia esperar outro tipo de objeção de um libertino para justificar seu relativismo.
É incrível a
semelhança do discurso dos saduceus com o raciocínio de certos filósofos atuais
e de outros tempos. São tão numerosas as oposições ao dogma da ressurreição
surgidas ao longo da História que se fôssemos catalogá-las todas, seria
intérmina sua coleção.
Resposta
do Divino Mestre
Disse-lhes
Jesus: Os filhos deste mundo casam-se e dão-se em casamento. Mas aqueles que
forem dignos de tomar parte na vida futura e na ressurreição dos mortos, nem se
casam nem se dão em casamento. Na verdade, já não podem morrer, pois são como
os Anjos, e, porque nasceram da ressurreição, são filhos de Deus.
Em nossa vida
terrena, devido à mortalidade, a existência da sucessão é indispensável para
perpetuar-se a humanidade, e por conseqüência o matrimônio será uma exigência
até se completar o número dos eleitos.
Ora, a eternidade,
enquanto excelente imagem de Deus, não comportará a morte, e os bem-aventurados
viverão exclusivamente nas leis do Espírito, no conhecimento e amor de Deus,
vendo- O face a face. Os corações e as inteligências estarão unidos nas castas
delícias da caridade perfeita, sem nenhuma necessidade do matrimônio. "Porque
os casamentos são feitos para se ter filhos; os filhos vêm para a sucessão; e a
sucessão chega pela morte; portanto, onde não há morte não há casamentos"
13.
Não é demais
insistirmos que erraríamos se julgássemos ser a ressurreição um acontecimento
exclusivo aos corpos dos justos. Não se deve crer "que unicamente
ressuscitarão os que sejam dignos ou os que não se casam, mas também
ressuscitarão todos os pecadores, e não se casarão na outra vida. Além do mais,
o Senhor, para estimular nossas almas a buscar a ressurreição gloriosa, quis falar
somente dos eleitos" 14.
Depois da
ressurreição, os corpos dos eleitos serão "angelizados" e
já não estarão sujeitos às leis da matéria e nem às da animalidade, conforme
anteriormente dissemos. Torna-se patente, assim, o quanto devemos evitar o pecado
pois, "se viverdes segundo a carne, morrereis [ressuscitar
para ser lançado em corpo e alma no inferno, é morte eterna], mas se,
pelo Espírito, fizerdes morrer as obras da carne, vivereis" (Rm 8, 13).
Deus não cria
nossos corpos diretamente como o faz com nossas almas. Nesse sentido, somos
filhos dos homens, expostos a todas as contingências inerentes à nossa
natureza, até a morte. Como "filhos da ressurreição", seremos
filhos da onipotência divina, a qual restaurará nossos corpos de forma
imediata, sem o concurso nem sequer de nossos pais terrenos.
Eis o quanto
estavam errados os saduceus com seus falsos e infundados argumentos. Quando se
afasta de Deus e de sua Revelação, o homem sempre cria sistemas de pensamento
obscuros, estreitos e obtusos.
A
imortalidade da alma
E
que os mortos ressuscitam, até Moisés o deu a entender no episódio da sarça
ardente, quando chama ao Senhor ‘o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de
Jacob’. Não é um Deus de mortos, mas de vivos, porque para Ele todos estão
vivos».
Nesses versículos,
claramente defende o Divino Mestre a imortalidade da alma, depois de ter
revelado a ressurreição dos corpos. As Escrituras têm outras passagens ainda
mais explícitas sobre a ressurreição (Dn 12, 2; Is 26, 19) que bem poderiam ter
sido enunciadas por Jesus. Mas Ele lançou mão do exemplo ocorrido na vida de
Moisés, para refutar a citação feita pelos próprios saduceus ao Levirato (Dt
25, 5-6).
Se o homem, ao
morrer, se precipitasse no vazio, aniquilando-se em seu ser, todas as promessas
da Escritura cairiam também no vazio. Deus jamais reduz ao nada qualquer de
suas criaturas. As formas podem ser mutáveis, mas as substâncias permanecem.
Nossos corpos são como que invólucros de nossas almas. Estas podem se
desprender daqueles, cessando de emitir aos nossos sentidos as manifestações de
sua existência, mas continuarão a viver na vingança ou no amor de Deus, nas
trevas ou na Luz eternas.
"Se Deus se define como ‘Deus de Abraão, Deus de Isaac, Deus de Jacó' e é um Deus de vivos, não de mortos, então quer dizer que Abraão, Isaac e Jacó vivem em alguma parte; se bem que, no momento em que Deus fala a Moisés, eles já haviam desaparecido há séculos.Se existe Deus, existe também a vida além do túmulo. Uma coisa não pode estar sem a outra. Seria absurdo chamar a Deus de ‘o Deus dos vivos' se, no final, Ele se encontrasse só para reinar sobre um imenso cemitério de mortos. Não entendo as pessoas (parece que existem) que dizem crer em Deus, mas não em uma vida ultra-terrena.
"Se Deus se define como ‘Deus de Abraão, Deus de Isaac, Deus de Jacó' e é um Deus de vivos, não de mortos, então quer dizer que Abraão, Isaac e Jacó vivem em alguma parte; se bem que, no momento em que Deus fala a Moisés, eles já haviam desaparecido há séculos.Se existe Deus, existe também a vida além do túmulo. Uma coisa não pode estar sem a outra. Seria absurdo chamar a Deus de ‘o Deus dos vivos' se, no final, Ele se encontrasse só para reinar sobre um imenso cemitério de mortos. Não entendo as pessoas (parece que existem) que dizem crer em Deus, mas não em uma vida ultra-terrena.
"A pesar disso, não é necessário pensar que a vida além da morte
começa só com a ressurreição final. Aquele será o momento em que Deus, também,
tornará a dar vida aos nossos corpos mortais" 15.
III
- Conclusão
Frustradamente vive
o mundo, hoje em dia, à busca de novos prazeres, a fim satisfazer a sede de
infinito que arde no âmago da alma humana. Se pudessem os homens ouvir um
acorde da música celeste que arrebatou em êxtase a São Francisco, ou contemplar
por um rápido momento a face de Deus que levou a São Silvano ter repugnância às
faces dos homens, compreenderiam o quanto as delícias do Céu são puríssimas,
eternas e opostas às da Terra.
Sêneca comentando o suicídio de Catão, concretizado com o auxílio de um punhal, para fugir das considerações de uma Roma que perdera a liberdade, afirma que o motivo principal de sua morte estava centrado na doutrina elaborada por Platão em sua obra Fedon, na qual explana longamente a imortalidade da alma. Em sua genialidade, Sêneca resume o ato com esta frase: "Ferrum fecit ut mori posset, Plato ut vellet": O ferro (aço) fez que pudesse morrer, Platão que quisesse."
Sêneca comentando o suicídio de Catão, concretizado com o auxílio de um punhal, para fugir das considerações de uma Roma que perdera a liberdade, afirma que o motivo principal de sua morte estava centrado na doutrina elaborada por Platão em sua obra Fedon, na qual explana longamente a imortalidade da alma. Em sua genialidade, Sêneca resume o ato com esta frase: "Ferrum fecit ut mori posset, Plato ut vellet": O ferro (aço) fez que pudesse morrer, Platão que quisesse."
Se os próprios
pagãos quando fiéis à razão chegavam a essas conclusões, por que nós batizados
haveremos de seguir os equívocos dos saduceus?
1) Suma contra Gent. 4, 84.
2) Idem, ibidem, 4, 86 3) Idem, ibidem.
4) Idem, ibidem.
5) Idem, ibidem.
6) Idem, ibidem.
7) Suma contra Gent. 4, 89.
8) Idem, ibidem.
9) Idem, ibidem.
10) Idem, ibidem.
11) Idem, ibidem.
12) L.-Cl. FILLION. Vida de Nuestro Señor Jesucristo. Madrid: Editorial Voluntad, 1927. T. IV, p. 95-96.
13) SANTO AGOSTINHO apud S. Tomás de Aquino, Catena Aurea.
14) BEDA apud Ibidem.
15) CANTALAMESSA, Raniero.
Echad las Redes. Ciclo C. EDICEPI C.B., 2001, p. 346.
6) Idem, ibidem.
7) Suma contra Gent. 4, 89.
8) Idem, ibidem.
9) Idem, ibidem.
10) Idem, ibidem.
11) Idem, ibidem.
12) L.-Cl. FILLION. Vida de Nuestro Señor Jesucristo. Madrid: Editorial Voluntad, 1927. T. IV, p. 95-96.
13) SANTO AGOSTINHO apud S. Tomás de Aquino, Catena Aurea.
14) BEDA apud Ibidem.
15) CANTALAMESSA, Raniero.
Echad las Redes. Ciclo C. EDICEPI C.B., 2001, p. 346.
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