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segunda-feira, 29 de maio de 2017

Evangelho Vigília Pentecostes - Jo 7, 37-39 - Ano A

Comentários ao Evangelho da Missa da Vigília de Pentecostes - Jo 7, 37-39
37 No último dia da festa, o dia mais solene, Jesus, em pé, proclamou em voz alta: Se alguém tem sede, venha a Mim, e beba. 38 Aquele que crê em Mim, conforme diz a Escritura, rios de água viva jorrarão do seu interior”. 39 Jesus falava do Espírito, que deviam receber os que tivessem fé n’Ele; pois ainda não tinha sido dado o Espírito, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado (Jo 7, 37-39).
Jesus glorioso nos precede!
A restauração da humanidade corrompida pelo orgulho só é possível por uma generosa efusão do Espírito Santo. A Paixão e consequente glorificação do Homem-Deus a conquistaram para nós.
I - JESUS E MARIA, CENTRO DA CRIAÇÃO
Jesus é a Verdade, a Bondade e a Beleza absolutas e, portanto, a Perfeição. Ele visa, ao agir, o mais elevado e excelente em tudo. Desta forma, o universo — essa magnífica obra dos seis dias preferida por Ele dentre os infinitos mundos possíveis — “não pode ser melhor do que é, se o supomos como constituído pelas coisas atuais, em razão da ordem muito apropriada atribuída às coisas por Deus e em que consiste o bem do universo”,1 comenta São Tomás de Aquino.
Na criação, Nosso Senhor Jesus Cristo é a pedra angular, rejeitada pelos construtores, mas centro da atenção do próprio Deus (cf. I Pd 2, 4-5); pedra em função da qual tudo se estrutura. Com efeito, desde toda a eternidade, na mente divina esteve em primeiro lugar a figura majestosa e insuperável de Cristo, Deus feito Homem e, inseparável dela, a da Santíssima Virgem. Pois, tal é a relação existente entre ambos, que a maioria dos teólogos defende a tese de terem sido Jesus e Maria predestinados num único e mesmo decreto divino.2 Eles são o ponto de referência essencial para a criação de todo o universo. Por isso, pode-se afirmar que tanto um quanto outro estão, em algo, representados em todas as criaturas.

A glória das demais criaturas se fará em função de seus modelos
Por conseguinte, antes destas serem libertadas “do cativeiro da corrupção, para participar da gloriosa liberdade dos filhos de Deus” (Rm 8, 21), antes de nós recebermos um extraordinário surto de nova vida, isto é, “a adoção filial e a libertação para o nosso corpo” (Rm 8, 23) — como ressalta a segunda leitura de hoje (Rm 8, 22-27) —, era indispensável que primeiro fossem glorificados Jesus e Maria, modelos de toda a criação.
A Liturgia da Vigília desta Solenidade de Pentecostes nos ilustra tal verdade e nos prepara não só para assimilá-la intelectivamente, como também para bem acolhermos a ação do Espírito Santo.
O orgulho leva a querer destronar a Deus
A primeira leitura (Gn 11, 1-9) relata o episódio, tão repleto de simbolismo, da Torre de Babel, no qual vemos os homens se organizando para um grande empreendimento. Tomados, sem dúvida, pelo prazer de produzir — constante tendência humana no decorrer da História —, aprenderam a fabricar tijolos e se perguntaram que proveito tirar desta nova invenção: “Vamos, façamos para nós uma cidade e uma torre cujo cimo atinja os céus” (Gn 11, 4).
Mas “o Senhor desceu para ver a cidade e a torre que os homens estavam construindo” (Gn 11, 5). Estas palavras são figurativas — pela necessidade que tem a natureza humana de tornar mais próximo de si um Deus infinito e compreender melhor suas ações —, porque Ele não precisa inclinar-Se para conhecer os acontecimentos: desde sempre Deus tudo sabe! Significa isso que o Onipotente analisa o coração dos orgulhosos, conforme está escrito: “seu olhar perscruta os soberbos” (Si 137, 6). Disse, pois, o Senhor: “Eis que eles são um só povo e falam uma só língua. E isso é apenas o começo dos seus empreendimentos” (Gn 11, 6a). Desponta ali a sofreguidão do homem pelo progresso egoísta, a volúpia e o afã da realização pessoal, os quais, uma vez desatados, não mais se detêm. Primeiro será um tijolo, depois muitos outros tijolos, a seguir uma cidade, por fim uma torre que atinja o céu... até, em certo momento, a ambição de querer derrubar Deus do seu trono.
O Criador, para formar Adão, fez um boneco de barro e soprou em suas narinas. Não só converteu o barro em carne, ossos, sangue e lhe infundiu a vida humana (cf. Gn 2, 7), como também lhe outorgou a participação na vida divina, pela graça. Em contraposição, o homem experimenta a colossal tentação de utilizar-se desse mesmo barro para se equiparar a Deus.
“O orgulho” — escreve o piedoso padre Beaudenom — “tende a privar Deus de sua glória, isto é, de seu próprio papel. Ele ocupa seu lugar, se não intencionalmente — o que seria monstruoso —, ao menos na prática, o que já é bastante detestável”.3 O fim do orgulho é sempre este; e embora queiramos insistir com o presunçoso mostrando-lhe as consequências de seus atos, se não houver um especial auxílio da graça nada o demoverá, como sublinha o texto bíblico: “Agora, nada os impedirá de fazer o que se propuseram” (Gn 11, 6b).
Deus não permite a realização do orgulhoso
Por tal razão, Deus determinou: “Desçamos e confundamos a sua língua, de modo que não se entendam uns aos outros” (Gn 11, 7). Além de ocasionar os piores desastres na vida particular e no relacionamento com os demais, o orgulho traz, sobretudo, a confusão; é uma terrível ferrugem que corrói as verdades sobrenaturais, pois o orgulhoso passa a não mais acatá-las, preferindo discuti-las com raciocínios estranhos a Deus, e a fé vai se esvaindo, por vezes até desaparecer. Eis a tragédia da natureza humana concebida no pecado original.
“A estima de si” — continua Beaudenom — “[...] tende a obscurecer a noção da necessidade de Deus, do recurso a Deus, e mais do que um erro, mais do que uma simples falta, é um imenso perigo, porque esta atitude implica na negação implícita da graça. Sob a influência desta disposição, o orgulhoso não pensa em consultar a Deus e em implorar seu socorro tão necessário. [...] Esse extravio, que nasce de um sentimento viciado, é responsável pelos desastres que às vezes acarreta” . 
“E o Senhor os dispersou daquele lugar por toda a Superfície da Terra, e eles cessaram de construir a cidade. Por isso, foi chamada Babel, porque foi aí que o Senhor confundiu a linguagem de todo o mundo, e daí dispersou os homens por toda a Terra” (Gn 11, 8-9). Vemos como aqueles que abraçaram a impiedade na planície de Senaar, querendo dar à Terra um caráter paradisíaco, divorciado de Deus, foram humilhados, segundo a palavra do Salvador: “todo o que se exaltar será humilhado” (Lc 18, 14). Não obstante, o castigo enviado ainda foi uma graça, pois, se lograssem executar seu intento, seria para sua perdição.
II - A PROMESSA DA ÁGUA VIVA
Ora, a solução para o problema do orgulho só a encontraremos na promessa feita por Nosso Senhor no Evangelho escolhido para esta Liturgia.
37a No último dia da festa, o dia mais solene...
O Divino Mestre tinha subido a Jerusalém para a festa dos Tabernáculos, a mais jubilosa de todas as festividades judaicas, cuja duração era de oito dias. Celebrava-se em memória do amparo dispensado por Deus ao povo de Israel, ao longo dos quarenta anos de peregrinação pelo deserto, bem como em ação de graças pelo término da colheita.5
Já nessas alturas de seu ministério público, os ânimos estavam acirrados contra Jesus, sobretudo na Judeia; por este motivo Ele chegara a Jerusalém de maneira despercebida, e só Se manifestou no Templo quando os festejos já iam avançados. Os fariseus, porém, procuravam prendê-Lo, acusando-O de violar o sábado, mas entre o povo as opiniões a seu respeito estavam divididas (cf. Jo 7, 10-32).
37b ...Jesus, em pé, proclamou em voz alta;
Naqueles tempos, quem pregava, explicando a Escritura nas sinagogas, normalmente o fazia sentado (cf. Lc 4, 20) en quanto os ouvintes permaneciam de pé.6 O fato de Nosso Senhor falar em pé — e ainda proclamando em voz alta — denota que Ele ia dizer algo de grande importância e queria Se fazer escutar por todos.
A sede do sobrenatural e a humildade
37c “Se alguém tem sede, venha a Mim, e beba. 38 Aquele que crê em Mim, conforme diz a Escritura, rios de água viva jorrarão do seu interior”.
Entre os diversos ritos da festa dos Tabernáculos estava o da água: ao longo dos oito dias, um sacerdote ia até a fonte de Siloé para retirar um pouco de água, que em seguida era misturada ao vinho das libações no altar do Templo, enquanto o coro cantava a célebre passagem de Isaías: “Vós tirareis com alegria água das fontes da salvação” (12, 3). Esta cerimônia comemorava o milagre operado por intermédio de Moisés, que fez brotar uma fonte do rochedo (cf. Nm 20, 11), mas revestia-se também de caráter messiânico, referente à salvação anelada pelos israelitas, com a chegada do Redentor. Já o nome Siloé — em hebraico siloah —, ou seja, enviado, aludia ao Messias, que haveria de trazer torrentes de bênçãos para o povo eleito.7
Dadas as peculiaridades próprias àquela ocasião, compreende-se que Nosso Senhor as tenha aproveitado para revelar — ainda que de modo um tanto velado — sua missão de verdadeiro Salvador. Ao usar o termo “sede”, o fez no sentido mais elevado da palavra, isto é, sede do sobrenatural, da eternidade, da santidade, da graça. Quem tem sede do sobrenatural é aquele que foge do orgulho e tem a alma aberta para acreditar no Redentor. Em virtude desta fé, nascerá em seu interior uma fonte de água viva.
A água material, um mero símbolo
A água é um elemento criado por Deus com um papel essencial na vida. Sabemos que quase três quartos do nosso planeta são cobertos de água e múltipla é sua utilidade: irrigar as plantações, dessedentar os animais e, sobretudo, manter a saúde do homem. Experimentamos os benefícios da água ao nos ser oferecida para saciar a sede ou quando, após um dia de muito trabalho, proporcionamos ao corpo o alívio de uma ablução; ou se, inclusive, temos a possibilidade de conviver com os peixes — ainda que por pouco tempo — ao mergulhar nas águas do mar... A água limpa, a água lava, a água purifica.
A água material, no entanto, é apenas um símbolo de realidades sobrenaturais que nos são propostas pela fé, como veremos a seguir.
Um milagre infinito!
39a Jesus falava do Espírito, que deviam receber os que tivessem fé n’Ele...
É tão profunda esta doutrina que para melhor ser exposta, podemos usar uma alegoria.
Imaginemos um camponês dos remotos tempos da Idade Média, habitando numa singela casa rural. Certo dia um emissário real lhe anuncia que o soberano resolveu adotá-lo como filho, tornando-o assim irmão de seu primogênito, e também herdeiro. Após o primeiro instante de estupefação de seu interlocutor, ante perspectiva de honra tão extraordinária, o mensageiro continuaria: “O monarca, entretanto, quer transformar tua casa num palácio e vir morar aqui, a fim de estabelecer um relacionamento estreito e diário contigo”. De todos os privilégios enumerados, este seria, sem dúvida, o mais excelente, pois, se grande é a vantagem de pertencer à família real e ser possuidor de inúmeras riquezas, muito maior é a de ser contado entre os íntimos de Sua Majestade!
A história desse homem simples, subitamente mudado em príncipe, é uma pálida imagem do milagre infinito que ocorre em uma criatura humana ao ser qualificada pela graça. Quando as águas ‚ do Batismo são vertidas sobre a cabeça de alguém, o pecado original é apagado, bem como todas as faltas anteriormente cometidas, e lhe é infundida a graça santificante, com as virtudes e os dons. Nesse momento, o Pai, o Filho e o Espírito Santo penetram na alma e fazem dela sua morada. Deus, que já estava na pessoa por essência, por presença e por potência,8 passa a inabitá-la como Pai e Amigo, e a vida sobrenatural passa a borbulhar no interior dela, que se torna templo da Santíssima Trindade!
Não se trata de um templo à maneira do tabernáculo, objeto material inerte onde se conservam as Espécies Eucarísticas, num relacionamento passivo com Nosso Senhor Jesus Cristo ali realmente presente em Corpo, Sangue, Alma e Divindade.
Nossas almas, pelo contrário, são templos vivos, nas quais o Espírito Santo sempre age por meio de um convívio íntimo, a fim de nos santificar. Com efeito, por tratar-se de uma manifestação do incomensurável amor de Deus por nós, tal inabitação atribui-se em particular ao Espírito Santo, Amor substancial.
A água viva da graça
É Ele o rio de água viva que fluirá dentro de nós e do qual Nosso Senhor Se oferece a ser, Ele mesmo, a fonte, desde que n’Ele acreditemos. No Apocalipse, São João descreve “um rio de água viva, resplandecente como cristal de rocha, saindo do trono de Deus e do Cordeiro. No meio da avenida e às duas margens do rio, achava-se uma árvore da vida, que produz doze frutos” (Ap 22, 1-2).
A água viva não está estagnada como a de uma cisterna, mas jorra constantemente, como a das fontes das praças de Roma, à disposição dos transeuntes. Este divino manancial, prometido por Nosso Senhor no Evangelho desta Vigília e vislumbrado pelo Discípulo Amado, produz no fundo da alma uma água superabundante e eficaz, que combate sem cessar a sede das paixões, ao mesmo tempo que nos sustenta, anima, impulsiona e transmite energia — espiritual, e também corporal —, proporcionando-nos a alegria da contemplação dos panoramas sobrenaturais. Então, em tudo quanto fazemos somos elevados por Ele e damos o melhor de nós; e chegado o instante do último suspiro, se tivermos atingido o auge da virtude, entraremos no Céu sem nem sequer passar pelo Purgatório.
Só nos corações humildes habita o Espírito Santo
A alma só perderá o tesouro da natureza divina se, cega pelo orgulho, erguer obstáculos, puser condições à graça e procurar construir para si uma Torre de Babel, a “torre” de todas as ambições e desvarios do pecado. Contando apenas com sua pura natureza humana e impossibilitada de conquistar méritos, terá o Céu fechado diante dela. Por isso devemos rogar ao Espírito Paráclito que remova os entraves provenientes de nossa miséria e, assim, dóceis às suas inspirações, colaboremos com sua obra de santificação. Lembremo-nos da célebre admoestação de Santa Maravilhas de Jesus, superiora das Carmelitas Descalças do Cerro de los Angeles, a suas religiosas: “Si tú Le dejas... — Se tu O deixas...”.9
No extremo oposto, um dos mais belos trechos da Epístola de São Paulo aos Romanos — também contemplado na segunda leitura — deixa entrever a maravilha da humildade e como ela nos obtém lucros extraordinários: “nós não sabemos o que pedir, nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis” (Rm 8, 26). Porque se nos colocamos ante a perspectiva de que somos de barro, feitos da mesma matéria dos tijolos da Torre de Babel e, portanto, incapazes sequer de saber o que pedir ou de encontrar a fórmula para tal, podemos ter uma certeza: desde que nos mantenhamos na graça de Deus, o Espírito Santo estará gemendo no fundo daalma de cada um de nós; esta é a humildade! Só nos corações humildes habita o Espírito Santo!
Um mistério de amor do Filho pelo Pai e por nós
39b ...pois ainda não tinha sido dado o Espírito, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado.
Para compreender bem o significado desta frase do Evangelista teólogo, é mister remontar ao momento em que, pelo fiat de Maria Santíssima, o Verbo Se encarnou.
Deus prescrevera ao povo de Israel dez Mandamentos, além das numerosas regras da Lei Mosaica, resumindo-se tudo em duas sentenças: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças” (Dt 6, 5) e “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19, 18). Quis ser Ele o primeiro a nos dar o exemplo deste último, tornando-Se nosso próximo ao assumir a natureza humana. Mais ainda, para nos remir Ele almejava padecer por nós abraçando a Cruz, como a abraçou, e derramando seu Sangue, como o derramou.
No entanto, sendo Ele Deus, não estava de acordo com a ordem divina que sua Alma fosse criada em estado de prova em relação à fé, sofrendo, como os demais homens, a privação da visão beatífica, de tal forma que não Se visse a Si mesmo como Pessoa Divina, mas tivesse de acreditar na existência de Deus.10 A criação da Alma do Filho de Deus, deveria ser — como de fato foi — a mais perfeita. Para São Tomás, Ele foi “bem-aventurado logo no início”.11
A fim de realizar seu desígnio redentor, todavia, Ele escolheu tomar um corpo mortal,’2 pronto para sofrer as agruras de uma crucifixão, precedida de todas as humilhações que suportou desde a sua prisão no Horto das Oliveiras. Ele, “o Impalpável, o Impassível, por nós se fez passível e de todos os modos sofreu por nós”.’3 Ele não incentivou esses suplícios — pois não pode provocar o pecado —, mas apenas Se submeteu à maldade humana, feita de inveja, de comparação e de orgulho.
Deparamo-nos aqui com uma assombrosa dicotomia: uma alma na visão beatífica, unida a um corpo padecente. Como compreender? Mistério de amor do Filho, de desejo de reparação do Filho ao Pai e de misericórdia para conosco!
A glória de Jesus Cristo, pórtico de nossa santificação
Desde o primeiro instante da concepção no seio puríssimo de sua Mãe, Nosso Senhor Jesus Cristo contemplou todos os sofrimentos que deveria enfrentar, e que culminariam com sua Morte, quando a Alma se separasse do Corpo, sem, contudo, perderem a união com a divindade. Sabia também que, depois de sua dolorosa Paixão, Ele ressurgiria triunfante do túmulo com o Corpo já em estado glorioso. Ao longo de sua existência terrena, Jesus tinha frêmitos interiores santíssimos — e, por que não dizer, divinos! — por comprovar com seus olhos carnais aquilo que desde todo o sempre conhecia enquanto Deus, por exemplo, ao entrar no Templo (cf. Lc 2, 46-49) ou ao comer a Páscoa com seus discípulos (cf. Lc 22, 15). De forma semelhante, Ele também esperava a glorificação de seu Corpo.14
Por mais que se exalte aqui na Terra alguém que tenha praticado a virtude de maneira esplendorosa, a verdadeira glória só se alcança na eternidade e chegará à plenitude na ressurreição dos corpos. Sim, porque em razão da mancha original com a qual todos nascemos, embora se possa ter atingido a santidade, ao partir desta vida o corpo fica e passa pela decomposição. Mas os que houverem morrido na graça de Deus estão à espera da restituição do corpo, fulgurante, magnífico, espiritualizado (cf. I Cor 15, 44). Por isso, o ápice da glória de todos os Bem-aventurados que se encontram diante de Deus será no dia do Juízo, “quando for dado o sinal, à voz do Arcanjo e ao som da trombeta de Deus” (I Ts 4, 16), e eles subirem em corpo e alma sobre as nuvens, para estar junto com Cristo para sempre.
Essa glória, como dissemos no início, foi dada primeiramente a Nosso Senhor na Ressurreição e na Ascensão, depois a Nossa Senhora ao ser assunta ao Céu, e, segundo tese defendida por muitos Santos e doutores, também a São José.15 Os três estão no Paraíso Celeste em corpo glorioso.
Ora, a glorificação de Nosso Senhor Jesus Cristo era necessária para a vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos, como Ele mesmo afirmou na Ultima Ceia: “convém a vós que Eu vá! Porque, se Eu não for, o Paráclito não virá a vós; mas, se Eu for, vo-Lo enviarei” (Jo 16, 7).
III – O REMÉDIO PARA UMA HUMANIDADE DIVORCIADA DE DEUS
Os textos da Missa da Vigília, ao nos conduzirem à expectativa da descida do Espírito Santo comemorada na Solenidade litúrgica de Pentecostes, nos sugerem uma aplicação em relação ao mundo contemporâneo. Descendente daqueles que construíram a Torre de Babel, ao longo dos séculos a humanidade necessitou das luzes e dos dons do Paráclito para socorrer a sua fraqueza. Hoje, porém, mais do que nunca, faz-se premente a súplica cantada no Salmo Responsorial (cf. Sl 103, 30): “Enviai o vosso Espírito, Senhor, e da Terra toda a face renovai”.
Sem a graça do Espírito Divino, impetrada há dois mil anos pela Igreja, inútil é qualquer iniciativa de apostolado! De nada servirão a pregação, a publicação de livros, a difusão de jornais ou a propaganda pelos meios de comunicação a fim de conduzir as almas à santidade. O único Santificador, que faz evaporar o orgulho e sana nossas misérias, é Aquele que Jesus anuncia no Evangelho. E Ele quem nos transforma e santifica, dando forças para nos mantermos fiéis na prática da virtude. E Ele quem nos instrui sobre tudo aquilo que não compreendemos: “o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, Ele vos ensinará tudo” (Jo 14, 26).
Tal deve ser nossa aspiração, conforme o pedido da Aclamação ao Evangelho: “Vinde, Espírito Divino, e enchei com vossos dons os corações dos fiéis, e acendei neles o amor como um fogo abrasador!”.’6 Imploremos, pois, essa vinda do Espírito Santo, para que Ele incendeie os nossos corações e faça de nós almas de fogo, na plena participação da vida divina!
1) SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. I, q.25, a.6, ad 3.
2) Cf. ROYO MARIN, OP, Antonio. La Virgen María. Madrid: BAC, 1968, p.57; ROSCHINI, OSM, Gabriel. Instruções Marianas. São Paulo: Paulinas, 1960, p.22.
3) BEAUDENOM, Léopold. Formation a l’humilité. 6.ed. Paris: Lethielleux, 1924, p.73.
4) Idem, p.52.
5) Cf. SCHUSTER, Ignacio; HOLZAMMER, Juan B. Historia Bíblica. Antiguo Testamento. Barcelona: Litúrgica Española, 1934, t.I, p.344.
6) Cf. SCHUSTER Ignacio; HOLZAMMER, Juan B. Historia Bíblica. Nuevo Testamento. Barcelona: Litúrgica Española, 1935, t.II, p.164-165, nota 5; EDERSHEIM, Alfred. The Life and Times of Jesus the Messiah. Grand Rapids (MI): Eerdmans, 1976, v.1, p.449.
7) Cf. SCHUSTER; HOLZAMMER, op. cit., t.I, p.344-345; t.II, p.261, nota 11.
8) Cf. SAO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., q.8, a.3.
9)GRANERO, Jesus María. Madre Maravillas de Jesús. Biografia espiritual. Madrid: Fareso, 1979, p.139.
10) Cf. SAO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., III, q.7, a.3.
11) Idem, q.34, a.4, ad 3.
12) Cf. Idem, q.45, a.2.
13) SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA. Carta a Policarpo, III, 2. In: RUIZ BUENO, Daniel (Ed.). Padres Apostólicos. 5.ed. Madrid: BAC, 1985, p.499.
14) Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., III, q.7, a.4.
15) Cf. SAO FRANCISCO DE SALES. Entretien XIX. Sur les vertus de Saint Joseph. In: OEuvres Complètes. Opuscules de spiritualité. Entretiens spirituels. 2.ed. Paris: Louis Vivès, 1862, t.III, p.546; SAO BERNARDINO DE SENA. Sermones de Sanctis. De Sancto loseph Sponso Beatæ Virginis. Sermo I, a.3. In: Sermones Eximii. Veneza: Andreæ Poletti, 1745, t.IV, p.235; SAUVE, PSS, Charles. Le culte de Saint Joseph. Élévations dogmatiques. 2.ed. Paris: Charles Amat, 1910, p.343-344; DE ISOLANO, OP, Isidoro. Suma de los dones de San José. 1V c.3. In: LLAMERA, OP, Bonifacio. Teología de San José. Madrid: BAC, 1953, p.629-630.
16) MISSA DA VIGÍLIA DO DOMINGO DE PENTECOSTES. Aclamação ao Evangelho. In: MISSAL ROMANO. Palavra do Senhor I — Lecionário Dominical (A-B-C). Trad. Portuguesa da 2a. edição típica para o Brasil realizada e publicada pela CNBB e aprovada pela Sé Apostólica. São Paulo: Paulus, 2004, p.225.


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