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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Não temais os que matam o corpo

26 Não tenhais medo deles
Jesus envia seus discípulos em missão e profetiza as perseguições que por causa d’Ele sofrerão, conforme relatam os versículos anteriores. Por isso recomenda-lhes confiarem em seus conselhos, como por exemplo, o de serem perseverantes e destemidos na pregação do Evangelho, pois serão amparados e protegidos pelo Pai que está nos Céus, sobretudo no tocante à salvação eterna. Esta será a constante das outras passagens.
27 O que Eu vos digo às escuras, dizei-o às claras e o que vos é dito ao ouvido, pregai-o sobre os telhados
Para melhor entendermos este versículo, devemos nos reportar aos costumes da época.
Aos sábados, dia reservado ao Senhor, todos se reuniam na sinagoga para ouvir a Palavra de Deus. Ao contrário do que se imaginaria, o leitor não apenas lia em voz baixa, como também não se dirigia aos assistentes, mas falava a um intermediário perto dele, o qual, por sua vez, proclamava em alta voz o que ouvia.
Outro costume tinha lugar às sextas-feiras à tarde. O ministro da sinagoga subia ao mais alto teto de uma das casas da cidade e tocava fortemente uma trombeta, advertindo todos os trabalhadores de que era hora de retornarem aos seus lares, pois aproximava-se o repouso sabatino religioso.
O Divino Mestre usou essas figuras da vida comum e corrente naqueles tempos para ilustrar qual devia ser a disposição de alma dos discípulos, ao exercerem o ministério de arautos do Evangelho. E, havendo-as mencionado, torna Jesus a incentivá-los à confiança.
28 Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma. Temei antes Aquele que pode lançar a alma e o corpo na Geena.
Os judeus ortodoxos, contrariamente aos saduceus, acreditavam na imortalidade da alma, e por isso comenta São João Crisóstomo: “Observemos que (Jesus) não lhes promete livrá-los da morte, mas lhes aconselha a desprezá-la, o que é muito mais que livrá-los da morte, e lhes insinua o dogma da imortalidade” (4). Em seguida lhes apresenta duas significativas metáforas, relacionadas com a Providência Divina.
29 Porventura não se vendem dois passarinhos por um asse? E, todavia, nem um só deles cairá no chão sem a permissão de vosso Pai.
O “asse” era a menor moeda usada pelos romanos. Cunhada em bronze, valia a décima sexta parte de um denário. Portanto, além de não ser judaica, tinha valor real insignificante. Dois passarinhos valiam tão pouco que eram vendidos por esse preço irrisório e, no entanto, necessitavam do consentimento do Pai para serem mortos.
30Até os próprios cabelos da vossa cabeça estão todos contados. 31 Não temais, pois. Vós valeis mais que muitos passarinhos.
O objetivo dessas duas comparações feitas por Jesus é ressaltar o grande carinho e cuidado da Providência Divina para com suas criaturas. Se passarinhos e cabelos são tratados com esse cuidado por Deus, quanto mais se preocupará Ele em proteger seus discípulos que estão sendo enviados para pregar sobre o Reino!
Não há razão para temerem as injustiças e perseguições que lhes sobrevierem, conforme exclama Jeremias na primeira leitura de hoje: “O Senhor, porém, está comigo, qual poderoso guerreiro. Por isso, longe de triunfar, serão esmagados meus perseguidores. Sua queda os mergulhará na confusão. Será, então, a vergonha eterna, inesquecível” (Jer 20, 11).
A essa altura, a Liturgia de hoje se encerra trazendo à baila os dois versículos seguintes, a fim de frisar a importância e o valor absoluto do Tribunal do Pai em relação ao dos homens.
32 Todo aquele, portanto, que Me confessar diante dos homens, também Eu o confessarei diante de meu Pai que está nos Céus. Porém, quem Me negar diante dos homens, também Eu o negarei diante de meu Pai que está nos Céus.
São bem conclusivas estas duas promessas de Nosso Senhor, em face da glória futura ou do castigo. Realmente, vale a pena sofrer como São Paulo: “Muitas vezes vi a morte de perto. Cinco vezes recebi dos judeus os quarenta açoites menos um. Três vezes fui flagelado com varas. Uma vez apedrejado. Três vezes naufraguei, uma noite e um dia passei no abismo” (2 Cor 11, 24-25). Muitos outros riscos e dramas são narrados por ele nessa Epístola. E mais adiante relata que ele “foi arrebatado ao Paraíso e lá ouviu palavras inefáveis, que não é lícito a um homem repetir” (2 Cor 12, 4).
III – CONCLUSÃO
Nesse panorama futuro e eterno devem estar fixados os nossos olhos, e não nas delícias fátuas e passageiras desta vida, ainda quando legítimas. Nem falemos do pecado, porque ele terá como consequência imediata a frustração, e o fogo do inferno após a morte.
As dores, angústias e dramas pelos quais passamos durante nossa existência terrena nada são em comparação com o prêmio dos justos, conforme garante São Paulo: “Tenho para mim que os sofrimentos da presente vida não têm proporção alguma com a glória futura que nos deve ser manifestada” (Rm 8, 18).
Resta-nos lembrar o indispensável papel de Maria na nossa salvação. Pois assim como Jesus veio a nós por Maria, é também por meio d’Ela que obteremos as graças necessárias para sermos outros Cristos e alcançarmos a vida eterna.

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