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quarta-feira, 2 de maio de 2012

Evangelho 5º domingo de Páscoa ano B: A videira e os ramos II

Continuação
Os Apóstolos foram purificados pela palavra
Vós já estais limpos em virtude da palavra que vos anunciei.
Santo Agostinho, com suas características inconfundíveis de fé e senso teológico, comenta este versículo chamando a atenção para a eficácia da palavra. No próprio Sacramento do Batismo, o puro emprego da água, se bem que pudesse ser útil para lavar o corpo, nunca purificaria a alma. A eficácia do Sacramento exige também o uso da palavra com a intenção de operar essa purificação. É por ela que a água, ao escorrer pela cabeça do batizando, purifica a alma.
Vários Padres da Igreja são da opinião de que Jesus, nesta passagem, teria feito uma alusão indireta à apostasia de Judas, o qual se encontrava ausente a fim de perpetrar sua traição. Antes desse episódio, Jesus respondera a Pedro logo no início do Lava-pés: “Aquele que tomou banho não tem necessidade de se lavar, pois todo ele está limpo. Vós estais limpos, mas não todos” (Jo 13, 10-11). Ele bem sabia que Judas ia entregá-Lo, por isso disse: “Estais limpos, mas não todos”.
Observam outros ainda que, neste versículo, Jesus declara ter feito a tarefa de “agricultor”, ao purificar os Apóstolos com a palavra, apesar de pouco antes ter-Se autodenominado “videira verdadeira”.
Condição para permanecer em Cristo
Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode por si mesmo dar fruto  se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em Mim.
Uma vez que se esteja limpo, é preciso perseverar nesse estado. Para tal, é indispensável cumprir os Mandamentos, pois “nem todo o que Me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos Céus” (Mt 7, 21).
Frei Manuel de Tuya OP diz a respeito deste versículo algo digno de nota: “O verbo que emprega — permanecer — é um termo técnico próprio de João. Ele o usa 40 vezes em seu Evangelho e 23 em sua primeira Epístola. E aqui, com esse verbo, formula a íntima, permanente e vital união dos fiéis com Cristo”.
Com sua habitual clareza, Maldonado explica que essa permanência nossa em Jesus é como se Ele dissesse:
“‘Se quiserdes dar frutos e evitar que o Pai os arranque, permanecei em Mim. De minha parte, já fiz o que devia — comenta Teofilato —, ao limpar-vos com minha doutrina; agora fazei o que deveis. Permanecei, perseverai nessa limpeza que Eu vos obtive. Isso é, permanecei em Mim’. Leôncio e Cirilo observam: ‘Manda-lhes permanecer n’Ele, não só pela fé, mas principalmente pela caridade, dado que pela fé são muitos os que permanecem n’Ele sem, contudo, dar fruto algum’. Cristo referia-se àquela permanência em Si mesmo que produz frutos, o que é impossível sem a caridade. Às vezes vemos na videira muitos sarmentos secos, mortos, infrutíferos, porque não participam da seiva da raiz. Esses são os que aderem a Cristo só pela fé. São sarmentos, permanecem na videira, mas estão mortos e secos, porque não sorvem o líquido da graça de Cristo, da qual não se pode participar sem a caridade, que é vida da alma”.

P. Juan de Maldonado, SJ,
Comentarios a los cuatro Evangelios, BAC, 1954, v. III, pp. 821-822.

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